São Paulo, quarta-feira, 16 de maio de 2007

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entrevista

"Governo treme quando "paras" abrem a boca"

DA REPORTAGEM LOCAL

Deputado e porta-voz do principal partido de esquerda da Colômbia, o Pólo Democrático Alternativo, o arquiteto Jorge Robledo, 56, é um dos maiores críticos do governo Uribe e acha "suspeita" a troca de comando na Polícia Nacional. "Será que mais vínculos do governo com os paramilitares seriam descobertos?", ironiza. Em março, ele já havia dito à Folha que o presidente Uribe já teria caído se "estivéssemos em um país sério". Leia a seguir os principais trechos da entrevista que ele concedeu ontem, por telefone, de Bogotá. (RJL)

 

FOLHA - A substituição do comando da Polícia Nacional é um sinal de que o governo reconhece a gravidade das escutas ilegais? O que Uribe precisa fazer?
JORGE ROBLEDO -
Vivemos uma situação sinistra. O presidente tem que explicar como aconteciam essas atividades criminosas, quem ordenou as gravações, quem as recebia. O que acho suspeito é que o presidente tenha ficado tão bravo com a interceptação das conversas dos paramilitares, e que essas fitas tenham sido entregues à revista "Semana". Se fossem gravados só políticos de oposição, ele não ficaria tão bravo.

FOLHA - Por que o senhor acha que ele ficou tão bravo?
ROBLEDO -
E se nessas gravações fossem revelados mais vínculos dos paramilitares com o governo? Isso pode acontecer. Cada vez que um "para" abre a boca, o governo treme, aumenta o nervosismo no palácio presidencial. Duvido que a Polícia gravasse tanta gente para deixar tudo em uma caixa. Essas gravações eram dadas a quem? As sanções do governo vieram porque os grampos eram ilegais ou porque foram contra os paramilitares? Ou só porque os colombianos tiveram conhecimento?

FOLHA - Alguns colunistas colombianos sugerem que deveriam haver novas eleições parlamentares porque o atual Congresso estaria desacreditado, com tantos deputados que mantiveram vínculos com paramilitares. O senhor concorda?
ROBLEDO -
De jeito nenhum. O governo é quem precisa dar explicações, mais do que o Congresso. Afinal, dos 14 congressistas presos ou foragidos, 13 são amigos do governo, da base aliada. O presidente Uribe tem que se explicar, ele está mais calado que de costume.

FOLHA - A Justiça colombiana tem colocado vários deputados atrás das grades e não pára de investigar novos vínculos. No meio de tantos escândalos, a Justiça conseguiu continuar independente?
ROBLEDO -
Temos que ficar muito atentos. A pressão sobre a Justiça é grande, evidente. A Corte Suprema está cumprindo seu papel, mas temos que ver até quando ela vai agüentar as pressões


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