|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Lula culpa petroleiras por críticas a álcool combustível
Documento final de cúpula hoje de líderes europeus e latinos não menciona etanol
Texto final também é vago sobre imigração; latinos rejeitam proposta européia de pôr policiais no controle do embarque na região
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LIMA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva atribuiu ontem a
uma "disputa comercial" as críticas que o álcool, o eixo do que
o presidente vem chamando de
"revolução energética" planetária, está recebendo inclusive
de parte de funcionários da
União Européia, um dos lados
da cúpula que abre hoje em Lima (a outra parte é o conglomerado de países da América Latina e do Caribe). Para Lula, "é
óbvio que as petroleiras também estão por trás disso".
As declarações foram feitas
quando Lula chegou ao Swisshôtel de Lima, no qual se hospedará até sábado, para participar hoje da cúpula e, amanhã,
de visita oficial ao Peru.
O presidente mostrou-se
compreensivo até certo ponto
com as críticas. "Como o tema é
novo, é natural que haja resistência à mudanças. Mas o debate está apenas começando."
Mas ironizou os críticos:
"Querem despoluir o planeta e,
quando o Brasil oferece um
combustível que não emite
CO2, eles preferem utilizar
combustível que emite CO2",
em frase em que o sujeito oculto são, claro, os países ricos.
A argumentação de Lula chega tarde para influir no documento final da cúpula, que está
praticamente pronto desde a
quarta-feira. Como a Folha antecipou, no capítulo energia
nem faz uso da palavra etanol,
embora fale genericamente de
biocombustíveis.
Talvez por isso o presidente
preferiu jogar para uma conferência internacional em Brasília, em novembro, um debate
mais intenso, "sem ideologia e
sem paixão", tese que diz ter
defendido com os governantes
de Finlândia, Espanha e Alemanha, que passaram pelo Brasil a caminho de Lima.
Lula comentou a alta dos
preços de alimentos, repetindo
sua tese preferida, a da que é
produto de "o povo pobre estar
comendo mais". Mas a declaração de Lima só incorporou a
questão na quarta-feira, assim
mesmo para dizer o óbvio:
"Profundamente preocupados
pelo impacto do aumento do
preço de alimentos, nós reafirmamos nosso compromisso
com políticas para a erradicação da fome e de luta contra a
pobreza".
Detalhes mais concretos foram deixados para a Cúpula sobre Segurança Alimentar, em
junho, em Roma. O presidente
Lula já confirmou presença.
Lula não citou, entre os temas
principais da reunião de Lima,
a questão da imigração que, no
entanto, foi a que mais provocou debates acalorados nas discussões entre os técnicos que
prepararam o documento final.
Os europeus chegaram a propor participação de policiais
europeus nos controles de embarque na América Latina, como forma de evitar o uso de
passaportes falsos ou outros
meios de entrada irregular na
Europa. O Brasil tomou a liderança do bloco latino-americano e caribenho ao recusar o que
considerou uma inaceitável invasão da soberania.
Os europeus queriam também devolver ao país em que
embarcaram os imigrantes ilegais, mesmo que sejam de terceiros países. Um nigeriano
que viajasse, por exemplo, de
São Paulo para Madri, seria devolvido ao Brasil, não necessariamente à Nigéria.
O que está por trás da proposta é o fato de que alguns
imigrantes, depois de embarcar em aeroportos latino-americanos, jogam fora, até mesmo
no avião, toda a documentação
e recusam-se a dizer de que
país são, com o que evitam a
deportação. A divergência entre o enfoque latino-americano
e o europeu levou a que a Declaração de Lima, a ser emitida
hoje, ficasse bastante aguada
nesse tema (como de resto em
praticamente todos os demais).
Faz, como a Folha já antecipou, um chamado a ambos os
lados para "desenvolver um
diálogo estruturado e abrangente sobre migrações, de forma a identificar nossos desafios comuns e as áreas de cooperação mútua".
O jornalista CLÓVIS ROSSI viajou a Lima a convite da Comissão Européia
Texto Anterior: Saiba mais: Parte dos arquivos já foi divulgada Próximo Texto: No ano das cúpulas, Peru faz trapalhada Índice
|