São Paulo, sexta-feira, 16 de maio de 2008

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Lula culpa petroleiras por críticas a álcool combustível

Documento final de cúpula hoje de líderes europeus e latinos não menciona etanol

Texto final também é vago sobre imigração; latinos rejeitam proposta européia de pôr policiais no controle do embarque na região


CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LIMA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva atribuiu ontem a uma "disputa comercial" as críticas que o álcool, o eixo do que o presidente vem chamando de "revolução energética" planetária, está recebendo inclusive de parte de funcionários da União Européia, um dos lados da cúpula que abre hoje em Lima (a outra parte é o conglomerado de países da América Latina e do Caribe). Para Lula, "é óbvio que as petroleiras também estão por trás disso".
As declarações foram feitas quando Lula chegou ao Swisshôtel de Lima, no qual se hospedará até sábado, para participar hoje da cúpula e, amanhã, de visita oficial ao Peru.
O presidente mostrou-se compreensivo até certo ponto com as críticas. "Como o tema é novo, é natural que haja resistência à mudanças. Mas o debate está apenas começando."
Mas ironizou os críticos: "Querem despoluir o planeta e, quando o Brasil oferece um combustível que não emite CO2, eles preferem utilizar combustível que emite CO2", em frase em que o sujeito oculto são, claro, os países ricos.
A argumentação de Lula chega tarde para influir no documento final da cúpula, que está praticamente pronto desde a quarta-feira. Como a Folha antecipou, no capítulo energia nem faz uso da palavra etanol, embora fale genericamente de biocombustíveis.
Talvez por isso o presidente preferiu jogar para uma conferência internacional em Brasília, em novembro, um debate mais intenso, "sem ideologia e sem paixão", tese que diz ter defendido com os governantes de Finlândia, Espanha e Alemanha, que passaram pelo Brasil a caminho de Lima.
Lula comentou a alta dos preços de alimentos, repetindo sua tese preferida, a da que é produto de "o povo pobre estar comendo mais". Mas a declaração de Lima só incorporou a questão na quarta-feira, assim mesmo para dizer o óbvio: "Profundamente preocupados pelo impacto do aumento do preço de alimentos, nós reafirmamos nosso compromisso com políticas para a erradicação da fome e de luta contra a pobreza".
Detalhes mais concretos foram deixados para a Cúpula sobre Segurança Alimentar, em junho, em Roma. O presidente Lula já confirmou presença. Lula não citou, entre os temas principais da reunião de Lima, a questão da imigração que, no entanto, foi a que mais provocou debates acalorados nas discussões entre os técnicos que prepararam o documento final.
Os europeus chegaram a propor participação de policiais europeus nos controles de embarque na América Latina, como forma de evitar o uso de passaportes falsos ou outros meios de entrada irregular na Europa. O Brasil tomou a liderança do bloco latino-americano e caribenho ao recusar o que considerou uma inaceitável invasão da soberania.
Os europeus queriam também devolver ao país em que embarcaram os imigrantes ilegais, mesmo que sejam de terceiros países. Um nigeriano que viajasse, por exemplo, de São Paulo para Madri, seria devolvido ao Brasil, não necessariamente à Nigéria.
O que está por trás da proposta é o fato de que alguns imigrantes, depois de embarcar em aeroportos latino-americanos, jogam fora, até mesmo no avião, toda a documentação e recusam-se a dizer de que país são, com o que evitam a deportação. A divergência entre o enfoque latino-americano e o europeu levou a que a Declaração de Lima, a ser emitida hoje, ficasse bastante aguada nesse tema (como de resto em praticamente todos os demais).
Faz, como a Folha já antecipou, um chamado a ambos os lados para "desenvolver um diálogo estruturado e abrangente sobre migrações, de forma a identificar nossos desafios comuns e as áreas de cooperação mútua".


O jornalista CLÓVIS ROSSI viajou a Lima a convite da Comissão Européia


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