São Paulo, sexta-feira, 16 de maio de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / PRESIDENTE EM CAMPANHA

Em discurso em Israel, Bush ataca Obama

Americano compara "quem quer negociar com terroristas", alusão velada ao candidato, a "apaziguadores de nazistas"

Obama reage dizendo que presidente faz uso político do medo e ganha raro apoio da rival; pronunciamento pinta Oriente Médio róseo


SHERYL GAY STOLBERG
DO NEW YORK TIMES, EM JERUSALÉM

O presidente dos EUA, George W. Bush, usou ontem um discurso ao Parlamento de Israel para criticar "aqueles que negociariam com terroristas e radicais" -comentário amplamente visto como uma reprovação ao pré-candidato presidencial democrata Barack Obama, que já defendeu conversas com o Irã e a Síria.
Bush não citou Obama, e a Casa Branca negou que as declarações tivessem o senador como alvo. Mas, no discurso, o presidente equiparou o diálogo com extremistas a tentar apaziguar Hitler e os nazistas.
"Há quem pareça pensar que deveríamos negociar com terroristas e radicais, como se algum argumento fosse capaz de persuadi-los", disse. "Já ouvimos essa idéia tolamente equivocada antes. Quando os tanques nazistas invadiram a Polônia, em 1939, um senador americano declarou: "Senhor, se eu tivesse podido falar com Hitler, tudo isto poderia ter sido evitado". Temos a obrigação de dar a isto seu nome real: o reconforto falso da conciliação, algo cujo valor a história já desmentiu."
Em comunicado distribuído a jornalistas por seu comitê de campanha, Obama criticou Bush por usar o 60º aniversário de Israel para "lançar um ataque político falso", acrescentando: "George Bush sabe que nunca defendi o encontro com terroristas, e seu uso político da política externa e da política do medo não ajudam em nada a dar segurança à população americana ou ao nosso valente aliado Israel".
Em cena rara durante a disputada pré-campanha democrata, a rival de Obama, Hillary Clinton, também saiu em sua defesa: "A comparação feita pelo presidente Bush de qualquer democrata com conciliadores de nazistas é ofensiva e ultrajante, sobretudo à luz de seus fracassos na política externa".

120º aniversário
O presidente fez as declarações durante um discurso longo no qual pintou um retrato do Oriente Médio no futuro como lugar de "tolerância e integração", prometeu manter-se ao lado de Israel e disse que em algumas décadas os palestinos "teriam a pátria com que sonham e que merecem".
Mas em vez de falar sobre as conversações de paz israelo-palestinas -a Casa Branca havia dito que o presidente esperava usar sua passagem por Israel para reforçar as negociações enfraquecidas-, Bush apresentou o que descreveu como "uma visão ousada" de como pode estar o Oriente Médio no 120º aniversário de Israel. É uma visão que guarda pouca semelhança com a situação atual.
Traçando paralelos com a transformação da Europa e do Japão após a Segunda Guerra (1939-45), o discurso focou a vitória da democracia sobre o terrorismo e previu o surgimento de "sociedades livres e independentes" na região. "Irã e Síria", falou, "serão nações pacíficas para as quais a opressão de hoje não passará de memória distante." A Al Qaeda, o Hizbollah e o Hamas "serão derrotados", disse Bush.
"Quando os líderes de toda a região responderem a suas populações, vão concentrar suas energias em escolas e empregos, não em ataques de foguetes e atentados suicidas", afirmou. O dia de ontem foi o segundo dos cinco de Bush no Oriente Médio. Hoje ele chega à Arábia Saudita e, depois, vai ao Egito.
Segundo a Casa Branca, Bush deve entrar em maiores detalhes sobre a situação dos palestinos quando se reunir com o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, em Sharm el Sheik, no Egito, neste fim de semana.


Tradução de CLARA ALLAIN



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