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Chinesa perde mãe, irmã e filho no tremor
Zhang Pin deixa aldeia destruída e se une a milhares de desabrigados em ginásio
Governo chinês já estima que mortos no terremoto de segunda podem chegar a 50 mil; isolamento de vilarejos dificulta trabalho de resgate
RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A MIANYANG
A agricultora Zhang Pin Hui,
55, não sabe o que será da sua
vida depois do terremoto de segunda-feira na China. A mãe e a
irmã morreram soterradas, o
filho mais velho foi esmagado
pela queda de uma rocha, e o
mais novo, de 27 anos, está no
hospital depois de quebrar braços e pernas. Ela se agarra ao
neto de 11 meses, que não sofreu um único arranhão, protegido pela coragem da avó.
"Minha nora está com meu
filho, e eu estou sozinha. Fiquei
dois dias ao lado da minha casa,
que desabou, não tinha forças
para descer. Esperei que os soldados me resgatassem."
Moradores das montanhas,
como Zhang, são a maior parte
dos mais de 60 mil desaparecidos por causa da tragédia. Os
últimos números divulgados
falam em 19.500 mortos, mas o
governo estima em até 50 mil
os que morreram.
Ela viu dezenas de cadáveres
enquanto era resgatada. Não
sabe onde estão seus outros parentes, todos da cidade de Benchuan, onde há mais de 5.000
desaparecidos. Com suas estradas normalmente precárias
destruídas e pontes que desabaram, a saída de Benchuan depende da bravura e rapidez das
equipes de resgate.
Zhang é uma dos 10 mil desabrigados que lotam o interior e
o exterior do ginásio Jiuzhou,
em Mianyang, segunda maior
cidade da Província de Sichuan,
a mais devastada pelo terremoto. No ginásio, onde acontecem
disputas de pingue-pongue e
boxe, famílias inteiras espalham colchonetes e cobertores
pelo chão, nas esteiras de corrida e aparelhos de ginástica e até
sobre ringues de boxe.
A agência estatal de notícias
Xinhua estima em 4,5 milhões
as pessoas que tiveram sua casa
destruída ou comprometida
pelo terremoto. Para esses sobreviventes, os efeitos do terremoto acrescentam incerteza
quanto a onde irão morar.
A camponesa Fan Zhi Bi, 37,
diz que nem quer pensar onde
irá morar, enquanto descansa
dentro do ginásio. Ela andou
dois dias seguidos, desde que
deixou sua casa destruída em
Benchuan. "Milhares de pessoas tentam escapar, mas choveu tanto na segunda e na terça-feira que há muita lama, é
muito escorregadio", diz.
Sua filha, de 17 anos, ficou soterrada por duas horas, e foi
salva por um grupo de vizinhos
que cavou os escombros. Ao
achar a filha, pegou a família e
começou sua longa fuga. Fan
não sabe o que fará da vida,
nem onde vai morar. "Não dá
para voltar lá, está tudo destruído e é perigoso." Ela chegou
ao ginásio ao ser resgatada por
um ônibus do Exército.
Brasileiros em Chengdu
Treze brasileiros, todos funcionários de uma fábrica de calçados em Chengdu, capital de
Sichuan, também sofreram seu
primeiro terremoto, mas saíram ilesos. Para eles, foi apenas
um grande susto.
"Nunca tinha visto a terra
tremer, é assustador, eu me
agachei e esperei passar. Estava
dentro da fábrica, mas nada
aconteceu, nada desmoronou",
conta o supervisor de qualidade
gaúcho José Leonardo de Castro, 46.
Ele estava trabalhando no
primeiro andar da fábrica
quando a terra tremeu. Mas diz
que nada mais mudou sua vida.
"Meu prédio está intacto, não
fiquei sem água e luz. Só precisei ligar correndo para minha
mulher em Porto Alegre para
tranqüilizar a família", conta
ele, que mora há seis meses na
cidade de 12 milhões de habitantes. Antes, passou dois anos
em Dongguan. Já fala um pouco de mandarim e tem vários
amigos chineses. "Pretendo
doar sangue, precisamos ajudar
tantas vítimas."
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