São Paulo, sexta-feira, 16 de maio de 2008

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Chinesa perde mãe, irmã e filho no tremor

Zhang Pin deixa aldeia destruída e se une a milhares de desabrigados em ginásio

Governo chinês já estima que mortos no terremoto de segunda podem chegar a 50 mil; isolamento de vilarejos dificulta trabalho de resgate


RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A MIANYANG

A agricultora Zhang Pin Hui, 55, não sabe o que será da sua vida depois do terremoto de segunda-feira na China. A mãe e a irmã morreram soterradas, o filho mais velho foi esmagado pela queda de uma rocha, e o mais novo, de 27 anos, está no hospital depois de quebrar braços e pernas. Ela se agarra ao neto de 11 meses, que não sofreu um único arranhão, protegido pela coragem da avó.
"Minha nora está com meu filho, e eu estou sozinha. Fiquei dois dias ao lado da minha casa, que desabou, não tinha forças para descer. Esperei que os soldados me resgatassem."
Moradores das montanhas, como Zhang, são a maior parte dos mais de 60 mil desaparecidos por causa da tragédia. Os últimos números divulgados falam em 19.500 mortos, mas o governo estima em até 50 mil os que morreram.
Ela viu dezenas de cadáveres enquanto era resgatada. Não sabe onde estão seus outros parentes, todos da cidade de Benchuan, onde há mais de 5.000 desaparecidos. Com suas estradas normalmente precárias destruídas e pontes que desabaram, a saída de Benchuan depende da bravura e rapidez das equipes de resgate.
Zhang é uma dos 10 mil desabrigados que lotam o interior e o exterior do ginásio Jiuzhou, em Mianyang, segunda maior cidade da Província de Sichuan, a mais devastada pelo terremoto. No ginásio, onde acontecem disputas de pingue-pongue e boxe, famílias inteiras espalham colchonetes e cobertores pelo chão, nas esteiras de corrida e aparelhos de ginástica e até sobre ringues de boxe.
A agência estatal de notícias Xinhua estima em 4,5 milhões as pessoas que tiveram sua casa destruída ou comprometida pelo terremoto. Para esses sobreviventes, os efeitos do terremoto acrescentam incerteza quanto a onde irão morar.
A camponesa Fan Zhi Bi, 37, diz que nem quer pensar onde irá morar, enquanto descansa dentro do ginásio. Ela andou dois dias seguidos, desde que deixou sua casa destruída em Benchuan. "Milhares de pessoas tentam escapar, mas choveu tanto na segunda e na terça-feira que há muita lama, é muito escorregadio", diz.
Sua filha, de 17 anos, ficou soterrada por duas horas, e foi salva por um grupo de vizinhos que cavou os escombros. Ao achar a filha, pegou a família e começou sua longa fuga. Fan não sabe o que fará da vida, nem onde vai morar. "Não dá para voltar lá, está tudo destruído e é perigoso." Ela chegou ao ginásio ao ser resgatada por um ônibus do Exército.

Brasileiros em Chengdu
Treze brasileiros, todos funcionários de uma fábrica de calçados em Chengdu, capital de Sichuan, também sofreram seu primeiro terremoto, mas saíram ilesos. Para eles, foi apenas um grande susto.
"Nunca tinha visto a terra tremer, é assustador, eu me agachei e esperei passar. Estava dentro da fábrica, mas nada aconteceu, nada desmoronou", conta o supervisor de qualidade gaúcho José Leonardo de Castro, 46.
Ele estava trabalhando no primeiro andar da fábrica quando a terra tremeu. Mas diz que nada mais mudou sua vida. "Meu prédio está intacto, não fiquei sem água e luz. Só precisei ligar correndo para minha mulher em Porto Alegre para tranqüilizar a família", conta ele, que mora há seis meses na cidade de 12 milhões de habitantes. Antes, passou dois anos em Dongguan. Já fala um pouco de mandarim e tem vários amigos chineses. "Pretendo doar sangue, precisamos ajudar tantas vítimas."


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