São Paulo, sábado, 16 de maio de 2009

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Chavéz ataca "terrorismo" de TV opositora

Presidente venezuelano renova ameaça à Globovisión e diz que continuará expropriações de empresas do setor petroleiro

Governo ocupa fábrica de macarrão; multinacional americana é acusada mais uma vez de burlar a cota de alimentos tabelados

THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES

Em batalha com o principal meio de comunicação opositor em seu país, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, renovou ontem ameaças ao canal de notícias Globovisión, acusando-o de "terrorismo midiático". Em entrevista ao lado da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, com quem se reuniu ontem em Buenos Aires, Chávez disse que o mundo não deve estranhar se o Estado venezuelano for "obrigado" a tomar decisões sobre "alguns meios de comunicação que continuam exercendo terrorismo".
A Globovisión, terceiro canal mais visto da Venezuela, é uma das emissoras que apoiaram a tentativa frustrada de golpe contra Chávez em 2002. Nas últimas semanas, a empresa vem sendo alvo de ofensiva estatal, com ameaça de cassação de licença e multas.
Chávez disse não poder permitir que "meios de comunicação continuem com políticas de terrorismo midiático, incitando o ódio e a violência", mas negou censura: "Por todo o mundo se diz: "Chávez não permite a crítica." Passem um dia na Venezuela e vejam os jornais, rádio e TV. Lá a crítica é aberta". "Que em um canal de televisão apareçam porta-vozes políticos dizendo "Onde estão os militares desse país, que vistam as calças", isso se chama terrorismo", afirmou Chávez. O presidente afirmou que vai continuar a promover expropriações no setor energético -só neste mês, já oficializou a estatização de 60 prestadoras de serviços da área petroleira.
"Porque estamos decididos a recuperar a plena soberania petrolífera e energética", afirmou. Chávez disse estar "recuperando" a PDVSA, estatal petroleira do país, que antes de seu governo, afirmou, vinha sendo "privatizada por partes". "A PDVSA tinha que pagar uma fortuna por serviços prestados com seus próprios ativos, com trabalhadores terceirizados, com salários mínimos, muitas vezes abaixo disso. Agora absorve 8.000 trabalhadores [das terceirizadas]."
Sobre a possibilidade de nacionalizar outros bancos, como fez com o Banco da Venezuela, filial do grupo espanhol Santander, disse que "por agora" não pensa no assunto.
Chávez afirmou ainda que, na próxima semana, assinará uma carta de intenções com o grupo espanhol com as bases para a nacionalização. Ele não quis informar quanto pagará pelo banco, mas disse que o caso "caminhou bem, apesar dos ruídos", e que o Santander já planejava vender o banco a um grupo privado.

Macarronada bolivariana
O governo venezuelano iniciou ontem, durante a viagem de Chávez, uma "ocupação temporária", por 90 dias, de uma fábrica de macarrão da multinacional americana Cargill, acusada de descumprir a cota de produção de variedades com o preço tabelado.
A intervenção se baseia num decreto presidencial, emitido em março, que obriga as fábricas de alimentos a produzir uma cota de até 95% de produtos tabelados. A medida inclui 12 itens, entre os quais arroz, leite em pó e macarrão, e busca combater a inflação mais alta da América Latina (30,9% em 2008) e a escassez nos supermercados dos alimentos submetidos ao tabelamento oficial.
"Das 500 mil toneladas de macarrão, 80% estão fora do congelamento. É por isso que começaremos a verificação, como fizemos com o arroz, para assegurar à população o acesso ao macarrão com preço tabelado", disse Carlos Osorio, superintendente de Silos, Armazéns e Depósitos Agrícolas.
É a segunda ação de Chávez contra a Cargill neste ano. Em março, uma fábrica de arroz da empresa americana foi nacionalizada, também sob a justificativa de burlar o tabelamento.


Com FABIANO MAISONNAVE, de Caracas


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