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EUA avisam ao Brasil que não têm intenção de invadir o Irã
Washington faz ofensiva diplomática para negar que sanções prenunciem escalada militar
Crise e esforço dedicado às 2
guerras em andamento são
principais impedimentos;
país teme ainda justificar
um eventual contra-ataque
Shannon Stapleton-3.mai.2010/Reuters
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O presidente Mahmoud Ahmadinejad em evento na sede das Nações Unidas, em Nova York; iraniano recebe Lula hoje em Teerã
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
Os EUA mandaram recados
ao presidente Luiz Inácio Lula
da Silva refutando categoricamente a avaliação brasileira de
que a nova rodada de sanções
ao Irã seja o início de uma escalada para repetir o que houve
no Iraque e invadir o país.
Pelos recados enviados por
meio do Itamaraty e da Assessoria Internacional da Presidência, a intenção de Washington é oposta: as sanções, que
dependem do Conselho de Segurança da ONU, serão, ou seriam, para evitar que os atritos
entre o regime e as potências
descambem para uma guerra.
A discreta investida americana para amenizar as avaliações
do governo brasileiro começou
após uma afirmação dúbia do
assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia.
Depois de uma audiência pública na Comissão de Relações
Exteriores da Câmara, em 27
de abril, Garcia foi abordado
por jornalistas que lhe perguntaram sobre o risco de guerra.
Ele disse que não era um temor,
mas não podia ser descartado.
"Quando se começa um determinado movimento, parar
esse movimento às vezes é difícil. Você não consegue pôr a
pasta de dente para dentro do
tubo. E eu acho que já tiraram a
tampinha", disse ele.
A partir daí, o presidente Lula desmentiu publicamente que
o Brasil trabalhasse com um cenário de guerra e houve telefonemas de Washington e visitas
do embaixador americano,
Thomas Shannon, a influentes
gabinetes do Planalto e do Itamaraty, detalhando a posição
dos EUA.
A Folha apurou que os interlocutores descartam uma
aventura militar no Irã dizendo
que os EUA não têm condições
políticas, econômicas, financeiras e operacionais para repetir a invasão do Iraque.
O país se recupera da crise financeira, vive grave crise fiscal
e não tem armamento nem tropas disponíveis. Todo o esforço
de guerra está concentrado no
Iraque e no Afeganistão.
A alternativa à invasão, atirar
mísseis em locais estratégicos,
como já ocorreu no governo do
também democrata Bill Clinton, igualmente é descartada.
Motivo: o Irã aprendeu com
aquele primeiro ataque a multiplicar seu arsenal estratégico
e a diversificar os locais onde
ele é armazenado. As armas estariam abaixo da superfície, no
meio das montanhas, espalhadas por todo o país.
Isso significa que seria necessário repetir ataques. Eles
não seriam capazes de eliminar
o potencial bélico do Irã e justificariam um contra-ataque às
tropas no Iraque e Afeganistão.
Ingenuidade
O custo, como vêm dizendo
os americanos ao governo brasileiro, seria não só um caos na
região como milhares de novas
baixas nas tropas dos EUA.
Nas conversas entre Brasil e
EUA sobre o Irã, há o cuidado
de lado a lado de não confundir
a disposição brasileira de intermediar uma solução para a
questão do programa nuclear
iraniano com a parceria explícita e provocativa do presidente
da Venezuela, Hugo Chávez,
com o regime islâmico.
Há, porém, a percepção de
um certo desconforto do Brasil
com a perda de liderança para a
Venezuela na aproximação da
América do Sul não só com o
Irã mas também com a Rússia
-principal fornecedora de armamento, incluindo submarinos e aviões, para Caracas.
Apesar do cuidado em ressaltar a ascensão do Brasil no cenário internacional e as qualidades de Lula como líder regional, a avaliação do governo
Obama coincide com a declaração da secretária de Estado, Hillary Clinton, que considerou
"ingênua" a investida brasileira
na questão iraniana.
Seria ingênua ou mesmo infantil na medida em que está
"tateando" para entender o tamanho e os limites da sua desenvoltura e de seu poder de influência internacional.
Os EUA descobriram os deles
ao perderem no Vietnã. O Brasil testa os seus na mediação
entre Israel e palestinos, na crise de Honduras (os EUA reconhecem o presidente eleito, e o
Planalto, não) e no Irã. Boa parte da resposta está no êxito, ou
não, da visita de Lula.
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