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ANÁLISE
Políticas internas são maior entrave a acordo
CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO
Os termos da contraproposta
feita ao Irã por Brasil e Turquia
são razoáveis.
Eles preservam o objetivo
ocidental de impedir que o país
persa mantenha estoque considerável de urânio enriquecido
e, ao oferecer os turcos como
intermediários, dão aos iranianos a garantia de que esse material será devolvido, sob a forma de combustível para seu
reator de uso médico.
No entanto, um acordo que
abra caminho para uma relação
de maior confiança entre o Irã e
a AIEA (Agência Internacional
de Energia Atômica, ligada à
ONU) depende em boa parte de
questões de política interna em
Washington e Teerã que estão
fora da influência dos dois países que se propõem como mediadores.
Nos EUA, o Irã é há tempos a
"bête noire" de lobistas e analistas de política externa que o
veem como potencial ameaça à
supremacia militar israelense
no Oriente Médio e o apontam
como o principal fator da instabilidade na região, pelo apoio
ao Hamas palestino e ao Hizbollah libanês.
A imagem iraniana só piorou
depois da repressão que se seguiu à reeleição de Mahmoud
Ahmadinejad.
Esses setores têm representação forte no Congresso americano, onde tramita um pacote
de sanções unilaterais ao qual a
Casa Branca não ousa se opor
frontalmente, apesar de considerá-lo contraproducente e de
aplicação difícil, pois atingiria
inclusive empresas de países
aliados que fornecem combustível e outros produtos ao Irã.
O presidente Barack Obama
assumiu "estendendo a mão" a
Teerã. Mas, antes que colocasse
na mesa uma pauta ampla para
o diálogo bilateral, foi atropelado por divisões em sua própria
equipe, pelo tumulto da eleição
iraniana e pelas dificuldades
em outra frente regional, o conflito israelo-palestino.
No final de 2009, Obama e a
secretária de Estado, Hillary
Clinton, começaram a falar em
"sanções paralisantes" e a buscar apoio para isso no Conselho
de Segurança da ONU.
A Casa Branca ora apoia e ora
põe em dúvida a efetividade da
mediação brasileiro-turca.
Nunca deu sinal público de que
concordará com as adaptações
na proposta original feita pela
AIEA, de que o Irã entregasse,
sem intermediários, a maior
parte de sua reserva de urânio
para a produção de combustível na França e na Rússia.
Contexto iraniano
O Irã também envia as próprias mensagens contraditórias. Em outubro de 2009, Ahmadinejad disse sim à troca de
urânio -foi seu governo que
procurou a agência atômica da
ONU, pedindo suprimentos para o reator médico. Mas logo recuou, após críticas internas.
Como disse à Folha Gareth
Evans, copresidente da Comissão Internacional sobre Não
Proliferação e Desarme, a situação mostra o "quanto é simplório fazer julgamentos rápidos sobre o que pode e o que
não pode ser obtido num ambiente político complexo como
o iraniano".
Foram os "caras bons do movimento democrático" em Teerã, disse Evans, que disseram
que a ideia da AIEA "era uma
ameaça à segurança e ao orgulho nacionais". Mesmo nos
EUA, a maioria dos exilados
iranianos se opõe a mais sanções e defende a legitimidade
do programa nuclear.
Há poucas dúvidas, entre especialistas, de que o Irã pretenda manter atividades atômicas
que o levem ao chamado "limiar da bomba". Mas não há
certeza de que o país pretenda
se armar.
As punições e o isolamento
resultantes e a possibilidade de
que vizinhos e rivais também
buscassem o armamento nuclear relativizariam eventuais
vantagens do rompimento com
o Tratado de Não Proliferação.
Nos últimos dias, o Irã deu
sinais de que está buscando um
acordo. O chanceler, Manoucher Mottaki, convidou para
jantar os embaixadores na
ONU dos países-membros do
Conselho de Segurança, e o governo deu vistos às famílias de
três americanos presos em
2009, acusados de espionagem.
Mas ainda não é possível dizer se tratam-se de manobras
para ganhar tempo -como dizem os ocidentais- ou de uma
disposição autêntica de fazer
concessões.
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