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Depois de saques, Gaza conhece a "paz islâmica"
Hamas festeja fim dos "traidores" e rebatiza colina
DA REDAÇÃO
Dezenas de milhares de partidários do Hamas saíram ontem às ruas em Gaza para comemorar o controle daquele
território e a derrota do Fatah,
do presidente Mahmoud Abbas, cujo gabinete foi saqueado
durante a madrugada.
"Nos desfizemos dos traidores", afirmou Ahed Ramlawi,
45 anos, com os ombros envolvidos pela bandeira verde do
grupo islâmico. A multidão gritava slogans contra "os colaboradores dos americanos e de Israel" e qualificava seus próprios combatentes de "heróis".
A France Presse testemunhou a multidão que, com uma
mistura de enfurecimento e
festa, deixava os escritórios e os
aposentos presidenciais com
computadores, cadeiras, colchões e até vasos de flores. Um
policial do Fatah que se refugiu
no telhado do edifício foi abatido por uma metralhadora.
Também foi saqueada a casa
de Mohamed Dahlan, que foi
comandante da Segurança Preventiva (polícia) e, por isso,
odiado pelo Hamas. "Isso é
normal, já que o Hamas sente a
necessidade de se apoderar dos
butins de guerra", disse Atef
Herzala, 37. Chalés à beira do
mar, normalmente ocupados
por dirigentes da Autoridade
Nacional Palestina, igualmente
foram saqueados.
O Hamas libertou nove dirigentes do Fatah que mantinha
nos últimos dias como prisioneiros e mais algumas dezenas
de militantes do terceiro escalão daquele partido. Um porta-voz do grupo islâmico, Abu
Obeideh, prometeu libertar
"nas próximas horas" um jornalista da BBC, Alan Johnston,
seqüestrado desde março.
O bairro de Tal al Hawa (colina do vento) foi rebatizado como Tal al Islam (colina muçulmana). Com os olhos vermelhos depois da batalha perdida
pelo controle da Segurança
Preventiva, Salah Juda, integrante do Fatah, disse ter ocorrido "uma farsa vergonhosa",
em razão da destruição do patrimônio dos palestinos.
Fim dos assaltos
Outro cidadão preocupado
foi Abu Said, 45. "Destruímos a
causa palestina e o sonho de um
dia construirmos um Estado",
disse ele, perto do campo de refugiados de Chatti.
O Hamas anunciou uma
anistia aos policiais e militantes do Fatah. As coisas ainda estavam muito confusas, e os novos dono do poder local exprimiam dúvidas, como por exemplo com a disposição de Israel
em continuar a fornecer para
Gaza energia elétrica e derivados de petróleo.
Mas em geral o dia foi calmo
no território. A Folha recebeu
relatos de que as pessoas transitavam pacificamente pelas
ruas de Gaza e pelas estradas limítrofes. Pela primeira vez em
muitos meses inexistiam bloqueios de homens encapuzados que roubavam relógios, dinheiro e celulares de palestinos
que se locomoviam de automóvel ou bicicleta.
Esses grupos marginais se
beneficiavam do colapso da autoridade policial e da energia
que as facções gastavam ao lutarem pelo espaço político. Isso
acabou. Gaza tornou-se, em
miniatura, uma espécie de "república islâmica", de 362 quilômetros quadrados e 1,4 milhão
de habitantes.
Com agências internacionais
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