São Paulo, sábado, 16 de junho de 2007

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Depois de saques, Gaza conhece a "paz islâmica"

Hamas festeja fim dos "traidores" e rebatiza colina

DA REDAÇÃO

Dezenas de milhares de partidários do Hamas saíram ontem às ruas em Gaza para comemorar o controle daquele território e a derrota do Fatah, do presidente Mahmoud Abbas, cujo gabinete foi saqueado durante a madrugada.
"Nos desfizemos dos traidores", afirmou Ahed Ramlawi, 45 anos, com os ombros envolvidos pela bandeira verde do grupo islâmico. A multidão gritava slogans contra "os colaboradores dos americanos e de Israel" e qualificava seus próprios combatentes de "heróis".
A France Presse testemunhou a multidão que, com uma mistura de enfurecimento e festa, deixava os escritórios e os aposentos presidenciais com computadores, cadeiras, colchões e até vasos de flores. Um policial do Fatah que se refugiu no telhado do edifício foi abatido por uma metralhadora.
Também foi saqueada a casa de Mohamed Dahlan, que foi comandante da Segurança Preventiva (polícia) e, por isso, odiado pelo Hamas. "Isso é normal, já que o Hamas sente a necessidade de se apoderar dos butins de guerra", disse Atef Herzala, 37. Chalés à beira do mar, normalmente ocupados por dirigentes da Autoridade Nacional Palestina, igualmente foram saqueados.
O Hamas libertou nove dirigentes do Fatah que mantinha nos últimos dias como prisioneiros e mais algumas dezenas de militantes do terceiro escalão daquele partido. Um porta-voz do grupo islâmico, Abu Obeideh, prometeu libertar "nas próximas horas" um jornalista da BBC, Alan Johnston, seqüestrado desde março.
O bairro de Tal al Hawa (colina do vento) foi rebatizado como Tal al Islam (colina muçulmana). Com os olhos vermelhos depois da batalha perdida pelo controle da Segurança Preventiva, Salah Juda, integrante do Fatah, disse ter ocorrido "uma farsa vergonhosa", em razão da destruição do patrimônio dos palestinos.

Fim dos assaltos
Outro cidadão preocupado foi Abu Said, 45. "Destruímos a causa palestina e o sonho de um dia construirmos um Estado", disse ele, perto do campo de refugiados de Chatti.
O Hamas anunciou uma anistia aos policiais e militantes do Fatah. As coisas ainda estavam muito confusas, e os novos dono do poder local exprimiam dúvidas, como por exemplo com a disposição de Israel em continuar a fornecer para Gaza energia elétrica e derivados de petróleo.
Mas em geral o dia foi calmo no território. A Folha recebeu relatos de que as pessoas transitavam pacificamente pelas ruas de Gaza e pelas estradas limítrofes. Pela primeira vez em muitos meses inexistiam bloqueios de homens encapuzados que roubavam relógios, dinheiro e celulares de palestinos que se locomoviam de automóvel ou bicicleta.
Esses grupos marginais se beneficiavam do colapso da autoridade policial e da energia que as facções gastavam ao lutarem pelo espaço político. Isso acabou. Gaza tornou-se, em miniatura, uma espécie de "república islâmica", de 362 quilômetros quadrados e 1,4 milhão de habitantes.


Com agências internacionais


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