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Hamas consolida seu controle sobre a faixa de Gaza
Um ano após expulsar rivais do território, grupo islâmico é alvo de críticas, mas não de revolta, como esperavam Israel e americanos
ETHAN BRONNER
DO "NEW YORK TIMES", NA CIDADE DE GAZA
Amaldiçoar a Deus em público -algo muito comum nesta
faixa de terra sob cerco- agora
pode levar à prisão. Beijar em
público também. Um juiz determinou há dias que um banco
não poderia cobrar juros sobre
uma dívida de dez anos porque
o islã proíbe a usura.
Há um ano, militantes do
grupo islâmico Hamas, anti-Israel, tomaram Gaza, expulsando seus rivais seculares do Fatah. Israel e o Ocidente impuseram um bloqueio à região, esperando espremer os novos governantes para fora do poder.
Mas hoje a autoridade do Hamas se espalhou por todos os
aspectos da vida, incluindo o
Judiciário. Os moradores de
Gaza não se revoltaram contra
o grupo, como esperavam Israel e os Estados Unidos.
Gaza sempre foi pobre e piedosa, diferente da Cisjordânia,
mais secular e próspera. Mas
um ano de governo do Hamas
aprofundou essas características. Mais mulheres andam cobertas, mais homens usam barba, sites da internet são filtrados e manifestações públicas
de outros grupos estão na
maior parte banidas.
Com o bloqueio israelense,
os moradores de Gaza se sentem presos e esquecidos. Mas é
difícil saber como isso afetou a
popularidade do Hamas. Muitos no Ocidente gostariam de
acreditar que o grupo está em
apuros. É fácil achar pessoas
que odeiam a polícia do grupo,
mesmo entre os que votaram
no Hamas em janeiro de 2006,
quando o grupo conseguiu o
controle do Parlamento.
Mas os que em Israel observam a situação de perto dizem
que, apesar de o bloqueio estar
pressionando o Hamas, não
põe o grupo em risco. "O que
aconteceu em Gaza há um ano
não foi um golpe", disse um
funcionário sob anonimato. "O
Hamas estava tão forte, tão
enraizado na sociedade palestina com suas atividades na economia, na educação, na cultura
e na saúde, e o Fatah estava tão
fraco, tão corrupto."
Segurança
Por meses antes de junho do
ano passado, a vida dos 1,5 milhão de habitantes de Gaza era
muito insegura porque homens
armados do Hamas e do Fatah
lutavam pelo controle das ruas
e da administração. O Hamas
tinha a maioria parlamentar,
mas o Fatah, por meio da Presidência de Mahmoud Abbas,
ainda controlava ministérios e
o aparato de segurança.
Agora, mesmo os que detestam o Hamas dizem que há
mais segurança. "O Hamas é
brutal, mas muito eficiente",
disse Eyad Serraj, um psiquiatra formado no Reino Unido.
"Eles estão distribuindo vales
de gás. Eles obrigaram as pessoas a pagar para registrar seus
carros e a pagar as contas de
luz, o que por anos todos se recusavam a fazer. A cidade e os
hospitais estão mais limpos."
A relativa escassez de produtos ao mesmo tempo dificulta e
facilita o controle do Hamas.
No primeiro caso, porque põe
em xeque o papel fundamental
de um governo, o de fornecer
bens públicos. No segundo,
porque o pouco disponível é canalizado por meio do Hamas,
que cobra impostos sobre as
mercadorias em circulação.
Muitos dos produtos chegam
a Gaza por meio de contrabando em túneis cavados na fronteira com o Egito. Embora Israel e os EUA tenham denunciado a chegada de armas pelos
túneis, seu papel central é trazer computadores, cigarros, gasolina e roupas. O Hamas cobra
impostos sobre tudo.
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