São Paulo, quarta-feira, 16 de junho de 2010

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Londres se desculpa por Domingo Sangrento

Pedido de perdão vem com fim de inquérito sobre massacre em 1972

Investigação, que teve custo total de R$ 532 mi, diz que os 14 mortos no episódio na Irlanda do Norte não tinham armas


DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

O premiê britânico, David Cameron, pediu desculpas ontem pelo episódio conhecido como Domingo Sangrento, no qual soldados britânicos mataram 14 pessoas na Irlanda do Norte em 1972.
O premiê apresentou ao Parlamento o resultado de um inquérito, realizado por 12 anos, que concluiu que as mortes foram "injustificadas e injustificáveis".
"O que aconteceu não deveria nunca, nunca ter acontecido. Alguns membros de nossas Forças Armadas agiram de forma errada", disse Cameron. "Em nome do governo, e certamente de nosso país, eu sinto muitíssimo."
Mais de mil pessoas, reunidas na praça Guildhall, em Londonderry, palco do massacre, aplaudiram e choraram com o anúncio da conclusão do inquérito, transmitido ao vivo, em um telão.
Elas passaram os últimos 38 anos fazendo campanha pelas vítimas, acusadas de serem do IRA (Exército Republicano Irlandês).
"Eles esperavam que a verdade fosse dita, particularmente os familiares dos inocentes", disse à Folha Christine Bell, professora da Universidade do Ulster que acompanhou a divulgação da investigação no local.
"Acredito que o inquérito mudou a cabeça das pessoas sobre o que elas pensavam ter ocorrido naquele dia."

MORTES
Em 30 de janeiro de 1972, tropas britânicas abriram fogo contra uma marcha não autorizada em Bogside, uma região nacionalista (que prega a independência da Irlanda do Norte em relação a Londres) de Londonderry.
Foram mortas 14 pessoas, e 13 ficaram feridas. Todas estavam desarmadas -à época, soldados afirmaram o contrário. "Nenhuma das vítimas representava ameaça de causar mortes ou ferimentos graves ou estava fazendo algo que poderia, de qualquer forma, justificar os tiros", concluiu o inquérito.
O Domingo Sangrento levou centenas de novos voluntários ao IRA, que intensificou sua campanha de atentados e tiroteios.
O inquérito foi autorizado pelo ex-premiê Tony Blair (1997-2007) em 1998 como parte das negociações do Acordo da Sexta-Feira Santa, que naquele ano pôs fim a 30 anos de confrontos que deixaram cerca de 3.500 mortos.
Foram ouvidas 920 testemunhas entre 1998 e 2004. Outras 2.500 pessoas enviaram declarações à comissão.
Com um custo final de quase 200 milhões de libras (R$ 532,2 milhões), foi o mais longo e mais caro inquérito da história legal britânica.


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