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Abuso alimentou movimentos por mudanças
DE NOVA YORK
O grupo Voice of the Faithful
(Voz dos Fiéis) sempre foi o
mais conservador e comedido
dentre os movimentos católicos americanos que clamam
por mudanças na igreja. Criado
em Boston, em 2002, após virem à tona denúncias de abusos
sexuais contra crianças cometidos por padres daquela diocese,
defendia genericamente mais
"transparência" na forma como
a igreja é administrada.
Agora, após ter conquistado
para a sua causa 35 mil membros em todo o mundo, segundo dados próprios, decidiu mudar de estratégia: também está
apresentando uma reivindicação concreta, a de que o Vaticano revise a obrigatoriedade do
celibato para os padres.
"Desde o início estamos tentando entender o porquê de tudo aquilo e concluímos que a
forte cultura do segredo, da
qual o celibato é parte, foi uma
das causas", explica Mary Pat
Fox, presidente do Voice of the
Faithful. Na sua opinião, se as
suspeitas tivessem sido tratadas às claras em vez de acobertadas pelos bispos, muitos casos seriam evitados e ainda serviriam como exemplo para outras comunidades católicas que
eventualmente enfrentem problema parecido.
A atitude do grupo evidencia
a característica mais marcante
da Igreja Católica nos EUA: a
iniciativa dos fiéis. "Seria muito
fácil simplesmente mudar para
uma religião que estivesse de
acordo com as suas crenças do
que é certo, do que é errado, de
como a igreja é administrada.
Mas as pessoas são tão leais à
sua fé que, em vez disso, realizam as transformações", comenta Thomas Groome, professor do Departamento de Teologia do Boston College.
"Esse orgulho de ser católico
confere vitalidade à igreja."
O Voice of the Faithful é cauteloso. Como não quer partir
para o enfrentamento, Fox mede com cuidado cada palavra
que diz. Movimentos antigos,
entretanto, são bem mais incisivos e têm atraído grande número de fiéis porque corrigem
parte do descompasso entre as
normas religiosas em vigor e os
anseios da sociedade moderna.
"Todo mundo quer ter um bom
casamento, uma boa vida, criar
os seus filhos, e muitas pessoas
se sentem excluídas pela doutrina. Dentro dos grupos, elas
encontram apoio. Afinal, Cristo
simplesmente acolhia a todos
do jeito que eram", destaca o
escritor Brian McLaren, autor
de livros como "A Mensagem
Secreta de Jesus", lançado no
Brasil neste ano pela editora
Thomas Nelson.
Gays e mulheres
Em 1976, nasceu o Call to Action (Chamado à Ação), que luta por objetivos como a aceitação dos homossexuais e maior
participação das mulheres na
igreja. Bandeiras semelhantes
tem o Future Church (Igreja do
Futuro). Mas, para todos os
questionamentos que esses
grupos fazem, a resposta é apenas uma: "Não podemos fazer
nada, isso é assunto para o Vaticano", diz, firme, a feira Mary
Ann Walsh, porta-voz da Conferência de Bispos Católicos
dos EUA.
Reclamando da falta de diálogo, Nicole Sotelo, diretora do
Call to Action, relata o caso de
um bispo de Nebraska que chegou a chamar a polícia para
prender um grupo de católicos
que entrou em seu escritório
para lhe entregar uma carta.
Exceto pelo Voice of the
Faithful, que ainda neste ano
deseja fazer chegar às mãos do
papa um documento com os
seus pedidos, ninguém espera
grandes avanços da igreja enquanto ela estiver sob Bento 16.
"O problema é a alta hierarquia, o papa e os cardeais são
extremamente conservadores", lamenta Aisha Taylor, diretora da Conferência para a
Ordenação de Mulheres. Mas
depois acrescenta, animada:
"Eles não estão prontos para a
transformação, mas tenha certeza de que os fiéis estão".
"Bento 16 é o papa número
265. Haverá o 266, o 267, o
268... Nunca se sabe, pode ser
em um ano ou 20, mas a igreja
não tem alternativa senão mudar. Até porque o que esses grupos defendem são valores universais como igualdade, compreensão e justiça", completa o
professor Groome.
(DG)
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