São Paulo, quarta-feira, 16 de julho de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA/ GUERRA SEM FIM

Iraque desvirtuou política externa dos EUA, diz Obama

McCain acusa adversário democrata de ter propostas prematuras e sem base real

Candidatos têm planos antagônicos para guerra que já supera cinco anos; democrata promete visitar região até fim deste mês

DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK

Em discurso ontem em Washington às vésperas de viajar para o Oriente Médio, o democrata Barack Obama afirmou que a guerra no Iraque "distorceu a política externa americana". Foi duramente contestado por seu rival republicano, o veterano do Vietnã John McCain.
Contrário ao conflito desde a invasão do país, em 2003, o candidato de oposição à Casa Branca disse que o presidente George W. Bush errou ao priorizar "um país que não teve absolutamente nada a ver com os ataques do 11 de Setembro" em vez de focar o Afeganistão, onde a milícia fundamentalista Taleban vem recrudescendo, e o Paquistão, onde "a Al Qaeda tem um santuário crescente".
Citando os mais de 3.000 soldados americanos mortos e US$ 1 trilhão gastos em cinco anos de conflito, declarou: "Essa guerra [no Iraque] nos distraiu de todos os perigos que encaramos e das muitas oportunidades que poderíamos ter aproveitado. Essa guerra diminui nossa segurança, nossa posição no mundo, nosso Exército, nossa economia e os recursos que precisamos para confrontar os desafios do século 21", declarou. "É inaceitável que quase sete anos depois e de cerca de 3.000 americanos terem sido mortos aqui, os terroristas que nos atacaram no 11 de Setembro continuem livres."
No discurso de 38 minutos -que começa e termina citando o Plano Marshall, de resgate da Europa pós-Segunda Guerra- Obama reiterou que os EUA devem priorizar a diplomacia (ainda que dura) com países como o Irã e oferecer dinheiro para o desenvolvimento de países como Afeganistão e Paquistão, minando a influência de grupos terroristas.
O candidato, que também defende ampliar as tropas no Afeganistão, propõe "ajudar os afegãos a construir sua economia de baixo para cima" por meio de uma ajuda adicional de US$ 1 bilhão por ano. Diz que é preciso investir em alternativas para agricultores, para combater a parceria com produtores de ópio. Com violência ascendente no interior, o país teve no domingo o pior ataque contra as forças americanas nos últimos três anos, com nove soldados mortos e outros 15 feridos.
No Paquistão, a estratégia seria semelhante: ampliar a ajuda durante uma década para conquistar o apoio da população. Para combater o terrorismo, os EUA já deram ao país desde 2001 mais de US$ 6 bilhões.
"Nós devemos esperar mais do governo paquistanês, mas devemos oferecer mais do que um cheque em branco para um general que perdeu a confiança de seu povo", afirmou, referindo-se ao presidente Pervez Musharraf, aliado dos EUA cujo poder foi reduzido após eleições que escolheram um novo premiê no início deste ano.
Para McCain, as propostas são prematuras: "Obama fala de seus planos para o Iraque e Afeganistão antes mesmo de ter ido para lá, de ter falado com o general [David] Petraeus [comandante das operações dos EUA no Oriente Médio], de ter visto o progresso no Iraque e de pisar no Afeganistão". O democrata deve viajar aos países nesta semana ou na próxima -as datas não foram divulgadas por questões de segurança.
McCain defendeu ainda a permanência no Iraque até que haja "vitória plena", um conceito tido como impreciso, propôs aumentar o contingente no Afeganistão e nomear um "czar da guerra" na Casa Branca, para controlar de longe as ações no país. "Sei como vencer guerras. Se eu for eleito, vou reverter a situação no Afeganistão, assim como fizemos no Iraque."


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