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NOVA RÚSSIA
Parlamento começa votação de plano anticrise do governo; FMI quer projeto aprovado para fazer empréstimo
Oposição russa fala em "escravos do FMI'
JAIME SPITZCOVSKY
Editor de Exterior e Ciência
A Duma (câmara baixa do Parlamento russo) iniciou ontem a votação do plano anticrise econômica proposto pelo presidente Boris
Ieltsin, uma das etapas mais delicadas do projeto governista para
enfrentar anos sem crescimento
econômico, a ameaça de desvalorização do rublo e o aumento da
desconfiança dos investidores estrangeiros.
A oposição neocomunista, principal força na Duma, anunciou
que não aprovará o plano de uma
só vez. Vai examinar cada item e se
diz preocupada com o "aumento da dependência do país" em relação ao capital estrangeiro.
"Queremos saber se a Rússia
está se escravizando ou não", disse o líder da bancada neocomunista, Guennadi Ziuganov. Seus aliados, no entanto, já aprovaram alguns pontos do acordo, e a votação pode se estender até amanhã.
O Kremlin alimenta a expectativa
de que os principais itens serão referendados.
Na segunda-feira, a Rússia fechou um acordo com o Fundo
Monetário Internacional (FMI) e
com o Banco Mundial que significa uma injeção de US$ 22,6 bilhões, em dois anos, na economia
do país. O anúncio dos empréstimos trouxe, no dia seguinte, uma
onda de otimismo refletida na alta
de 17% na Bolsa de Moscou.
Mas os credores internacionais
condicionam a abertura dos cofres
à adoção do plano anticrise, que
busca diminuir os déficits nas
contas do governo.
O Kremlin tem de aumentar sua
arrecadação fiscal. Com esse objetivo, e na tentativa de conseguir
crescimento econômico, o governo pretende deslocar o peso maior
dos impostos das empresas para
os ombros do consumidor.
A estratégia ieltsinista prevê
também aperfeiçoar seu sistema
de cobrança de impostos. A baixa
arrecadação (apenas 5 milhões
dos 147 milhões de habitantes pagaram suas taxas em 97) revela
fraqueza das novas instituições
governamentais, ainda pouco enraizadas.
O problema também evidencia
uma questão cultural. Os russos
praticamente desconheciam a
prática de pagar impostos durante
a era soviética, terminada em 1991.
Mais receita
O pacote anticrise, com as mudanças no imposto de renda, representa um aumento na arrecadação de mais de 20 bilhões de rublos (US$ 3,2 bilhões) por ano, segundo Anatoli Tchubais, principal negociador russo junto ao FMI
e ao Banco Mundial.
Tchubais disse que a Rússia deve
amargar mais um ano sem crescimento econômico, tendência verificada desde o fim do período soviético. O ano passado representou uma exceção: a economia russa cresceu 0,4%.
No mesmo período, a China, por
exemplo, registrou um crescimento econômico de 8,8%. Pequim consegue uma transição à
economia de mercado menos turbulenta.
Guennadi Ziuganov indicou que
sua bancada pode apoiar partes do
plano anticrise. "Mas temos de
pensar no preço que isso vai custar às futuras gerações", afirmou.
"Queremos conhecer em detalhes as condições do FMI."
Nos últimos dias, Ziuganov diminuiu a intensidade de suas declarações pró-impeachment de
Ieltsin. Parece preocupado com a
possibilidade de explosão de conflitos sociais.
Protestos contra o governo continuam. Há mais de um mês, trabalhadores de empresas estatais,
com salários atrasados, fazem
protestos diários no centro de
Moscou.
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