São Paulo, sexta-feira, 16 de agosto de 2002

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ARGENTINA

Informação sobre seu ex-secretário particular é novo golpe na tentativa do peronista de se candidatar à Presidência

Assessor de Menem tem US$ 6 mi na Suíça

JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES

A campanha eleitoral do ex-presidente argentino Carlos Menem (1989-1999) sofreu mais um duro golpe ontem, quando a Justiça suíça informou ter identificado uma conta bancária em que estão depositados US$ 6 milhões em nome de seu ex-secretário particular Ramón Hernández.
O ex-secretário terá agora de explicar a origem dos recursos -que não estão em suas declarações de patrimônio- ao juiz federal Norberto Oyarbide, que analisa o processo em que o ex-presidente é acusado de "violação dos deveres de funcionário público, tráfico de influência e omissão maliciosa" de bens.
Menem, um dos principais pré-candidatos à Presidência pelo Partido Justicialista (peronista), será impedido de participar da eleição presidencial de março caso seja declarado culpado.
A candidatura Menem tem sido prejudicada nas últimas semanas por denúncias de corrupção. Outro pré-candidato peronista, o ex-presidente Adolfo Rodríguez Saá (2001), tem consolidado sua liderança nas pesquisas para se tornar o candidato do partido.
Segundo um funcionário da Justiça suíça ouvido pela agência France Presse, a conta foi registrada no banco de Gotardo, subsidiária do Crédit Suisse, em nome de uma fundação com sede em Liechtenstein chamada The Spark Foundation, que seria propriedade do ex-secretário de Menem.
A conta está bloqueada pela Justiça desde outubro, quando surgiu a suspeita de que estivesse ligada a Menem. No entanto, até ontem, a Suíça só havia informado que a conta estava em nome de uma sociedade não-identificada.
Há cerca de três semanas, o ex-presidente havia admitido pela primeira vez possuir US$ 600 mil depositados na Suíça desde 1986. O dinheiro seria proveniente de uma indenização que teria sido paga pelo governo por sua prisão durante o último regime militar (1976-1983), mas nunca havia sido reconhecido em depoimentos anteriores à Justiça e à Afip (a Receita Federal local).
Menem também está sendo investigado pelo juiz federal Juan José Galeano porque teria recebido um suborno de US$ 10 milhões para encobrir a suposta responsabilidade do Irã no atentado à sede da comunidade judaica em Buenos Aires, ocorrido em 1994 e que deixou 85 mortos.
Galeano pretende interrogar nas próximas semanas o autor da acusação, um ex-agente da inteligência iraniana identificado como Abdolghassem Mesbahi.
Em outro processo, Menem pode ser obrigado a prestar depoimento por suposto envolvimento em contrabando ilegal de armas à Croácia e ao Equador entre 1991 e 1995. O ex-presidente esteve detido em prisão domiciliar no ano passado por essa acusação.
Com base em todas essas denúncias, o juiz Oyarbide havia pedido às autoridades suíças o rastreamento de possíveis contas em nome de parentes de Menem -como a ex-mulher, Zulema Yoma, a filha, Zulemita, e o filho, Carlos Jr., já morto.
Também estavam sendo investigados o ex-secretário-geral da Presidência Alberto Kohan, e o ex-diretor da Casa da Moeda Armando Gostanian, além de Ramón Hernández.


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