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CRISE
Chávez já não controla Judiciário, dizem analistas; governistas ameaçam juízes
Venezuela sofre conflito de Poderes
ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO
A decisão do Supremo Tribunal
de Justiça da Venezuela de não indiciar quatro militares acusados
pelo golpe que tirou Hugo Chávez
da Presidência por dois dias, em
abril, gerou um conflito entre os
Poderes Executivo e Judiciário.
Segundo analistas ouvidos pela
Folha, a decisão de anteontem indica que Chávez perdeu o controle sobre o Poder Judiciário e terá
de moderar seu discurso para tentar se manter no poder.
No domingo, Chávez havia feito
declarações pressionando o STJ a
indiciar os militares e fez acusações de corrupção de juízes. Ontem, deputados governistas iniciaram uma campanha para pedir
a renúncia dos juízes que votaram
contra o indiciamento.
O procurador-geral da República, Isaías Rodríguez, afirmou que
pedirá a revisão da decisão do STJ
e não descartou apresentar novas
denúncias contra os militares. Ele
ordenou ontem a prisão de três civis acusados por participação no
golpe de abril.
"Considerando que foi Chávez
quem nomeou todos os juízes do
STJ após a reforma da Constituição, em 2000, e que agora a maioria da corte decidiu desobedecê-lo, isso quer dizer que ele não tem
mais o total controle sobre o Judiciário", afirma o analista político
Alfredo Keller, da consultoria Alfredo Keller & Asociados.
Ontem mesmo, integrantes da
oposição anunciaram a intenção
de processar o presidente como
responsável pelas 17 mortes ocorridas durante as manifestações
que precederam o golpe. Chávez
também corre riscos por uma investigação sobre doações irregulares de campanha, denunciadas
por seu antigo aliado e mentor, o
ex-ministro do Interior Luis Miquilena, que rompeu com ele no
início do ano.
Miquilena foi o responsável por
indicar os juízes do STJ. Chavistas
agora o acusam de ter pressionado a corte para votar contra o presidente, o que ele nega.
Deputados governistas ameaçaram, no início da semana, pedir a
dissolução do STJ e a substituição
dos juízes caso a decisão de anteontem fosse desfavorável, mas
essa possibilidade é considerada
remota, uma vez que requer a
aprovação de dois terços da Assembléia Nacional, e Chávez controla hoje apenas pouco mais da
metade do Legislativo.
Para José Antonio Gil Yepes,
presidente do instituto de pesquisas Datanálisis, o golpe de abril já
havia mostrado que Chávez perdera o controle das Forças Armadas, e agora ele corre o risco de
perder também a maioria na Assembléia Nacional, o que deixaria
o caminho aberto para a abertura
de um processo de impeachment.
Nem mesmo a pressão popular,
arma que Chávez vinha utilizando com frequência, parece estar
dando resultado. Apesar das manifestações violentas de seus seguidores pelas ruas de Caracas serem praticamente diárias, elas
vêm perdendo força e volume.
Segundo uma pesquisa publicada no mês passado pelo Datanálisis, 66% dos venezuelanos votariam pela saída de Chávez num
eventual referendo.
"Há uma sensação crescente de
que o presidente pode sofrer um
impeachment nos próximos meses ou ser obrigado a fazer um
acordo que permita a realização
de um referendo para a sua saída,
com novas eleições presidenciais
num período inferior a um ano",
avalia Alfredo Keller. O mandato
de Chávez termina em 2007.
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