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RELIGIÃO
Papa chega hoje a sua terra natal em meio a boatos de que renunciaria e se recolheria em mosteiro perto de Cracóvia
João Paulo 2º inicia viagem à Polônia e põe saúde à prova
PAULO DANIEL FARAH
ENVIADO ESPECIAL A CRACÓVIA
O papa João Paulo 2º, 82, inicia
hoje uma visita a sua terra natal
sob rumores de que pode ser uma
viagem de ida apenas e de que ele
se recolheria a um mosteiro em
Zakopane, encravado nas montanhas Tatra, perto de Cracóvia.
Com sua saúde bastante frágil,
agravada pelo mal de Parkinson
(desordem do sistema nervoso),
por uma artrose no joelho direito
e por dificuldades de audição e
por vezes de fala, esta viagem será
a mais curta das nove à Polônia
durante o atual pontificado.
Ciente da possibilidade de ter de
abandonar a liderança católica
após o atentado que quase o matou no início da década de 80, enquanto ainda se recuperava, revisou o Código de Direito Canônico
(principal documento legislativo
da igreja) com o arcebispo polonês Zenon Grocholewski, nomeado cardeal em 2001.
Quando chegaram ao cânone
que trata da renúncia de bispos,
depois de confirmar que nada havia sobre uma eventual intenção
do papa de aposentar-se, ditou:
"Se acontecer que o Romano
Pontífice renuncie a seu múnus
[cargo", para a validade se requer
que a renúncia seja livremente feita e devidamente manifestada,
mas não que seja aceita por alguém" (parte do cânone 332). A
expressão adotada em latim, "rite
manifestetur", não implica uma
forma determinada, mas uma expressão clara de suas intenções.
Cogita-se, após declarações públicas de cardeais como Joseph
Ratzinger, Karl Lehmann e Oscar
Rodriguez Maradiaga, que, se o
papa escolhesse um local para um
anúncio dessa natureza, seria a cidade de Cracóvia, que o consagrou como arcebispo e cardeal,
antes de ser eleito papa, em 1978.
"O papa tem uma relação extremamente diferenciada com a Polônia, que moldou toda a sua visão de mundo, mas é prematuro
falar em um confinamento voluntário", acredita o teólogo polonês
Jan Drabina, chefe do departamento de história do cristianismo
da Universidade Jagiellonika, onde o papa já estudou.
Para Drabina, "Karol Josef
Wojtyla [nome de batismo do papa" não segue uma lógica secular
de que o idoso é incapaz". "Ao
contrário, seu sofrimento físico,
que beira o martírio, conquista a
admiração de muitos católicos."
O cardeal chileno Jorge Medina
Estevez afirmou recentemente ter
ouvido o papa dizer, em particular, que não renunciaria "porque
Jesus não desceu da cruz".
Drabina diz que a intenção do
líder católico é "trazer uma mensagem de esperança ao povo da
Polônia", que enfrenta um índice
de desemprego de 18%, greves,
distúrbios na zona rural e incertezas em relação à União Européia.
Os organizadores dizem que 4,5
milhões de fiéis -mais de 10% da
população- devem participar
das celebrações religiosas com o
papa em Cracóvia e em seus arredores. E até 2,5 milhões de pessoas são esperadas na missa campal do domingo, no parque de
Blonia. Os peregrinos rezam para
que o papa, a personalidade mais
popular da Polônia, não tenha de
cancelar o evento -como aconteceu três anos atrás, por causa de
uma febre, segundo o Vaticano.
Apenas duas semanas depois de
ter ido a Toronto (Canadá), México e Guatemala, Wojtyla, nascido
em Wadowice (a sudoeste de Cracóvia), em 1920, põe sua saúde à
prova novamente.
O cronograma papal tem longos
períodos de repouso. Logo após
chegar hoje, em seguida a uma
breve cerimônia de boas-vindas,
ele vai ao palácio arcebispal, que
será sua residência nos próximos
quatro dias e que lhe trará recordações fortes: foi lá que ele se refugiou em 1944, até o final da Segunda Guerra, um ano depois, para se
proteger dos nazistas.
A logística para a visita inclui
8.500 policiais, 600 bombeiros,
350 membros de equipes de resgate e 140 médicos de prontidão
para atender o papa. Ontem, no
aeroporto João Paulo 2º (em Cracóvia), soldados revistavam passageiros e inspecionavam as aeronaves em busca de explosivos.
"Vim para renovar minha missão evangelizadora e não me importo com alguns contratempos",
diz, no aeroporto, o padre português Fernando da Costa, que vive
em Moçambique.
De acordo com o cronograma
oficial, na segunda-feira o papa
vai para Roma. E o porta-voz do
Vaticano, Joaquín Navarro-Valls,
declarou que a agenda dele "está
repleta para os próximos anos". O
mesmo Navarro-Valls, no entanto, disse que "tudo o que já foi
confirmado está confirmado, mas
algo que se diz confirmado pode
ser desconfirmado". Ou seja, a incerteza sobre um eventual anúncio de renúncia se mantém.
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