São Paulo, sexta-feira, 16 de agosto de 2002

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RELIGIÃO

Papa chega hoje a sua terra natal em meio a boatos de que renunciaria e se recolheria em mosteiro perto de Cracóvia

João Paulo 2º inicia viagem à Polônia e põe saúde à prova

PAULO DANIEL FARAH
ENVIADO ESPECIAL A CRACÓVIA

O papa João Paulo 2º, 82, inicia hoje uma visita a sua terra natal sob rumores de que pode ser uma viagem de ida apenas e de que ele se recolheria a um mosteiro em Zakopane, encravado nas montanhas Tatra, perto de Cracóvia.
Com sua saúde bastante frágil, agravada pelo mal de Parkinson (desordem do sistema nervoso), por uma artrose no joelho direito e por dificuldades de audição e por vezes de fala, esta viagem será a mais curta das nove à Polônia durante o atual pontificado.
Ciente da possibilidade de ter de abandonar a liderança católica após o atentado que quase o matou no início da década de 80, enquanto ainda se recuperava, revisou o Código de Direito Canônico (principal documento legislativo da igreja) com o arcebispo polonês Zenon Grocholewski, nomeado cardeal em 2001.
Quando chegaram ao cânone que trata da renúncia de bispos, depois de confirmar que nada havia sobre uma eventual intenção do papa de aposentar-se, ditou: "Se acontecer que o Romano Pontífice renuncie a seu múnus [cargo", para a validade se requer que a renúncia seja livremente feita e devidamente manifestada, mas não que seja aceita por alguém" (parte do cânone 332). A expressão adotada em latim, "rite manifestetur", não implica uma forma determinada, mas uma expressão clara de suas intenções.
Cogita-se, após declarações públicas de cardeais como Joseph Ratzinger, Karl Lehmann e Oscar Rodriguez Maradiaga, que, se o papa escolhesse um local para um anúncio dessa natureza, seria a cidade de Cracóvia, que o consagrou como arcebispo e cardeal, antes de ser eleito papa, em 1978.
"O papa tem uma relação extremamente diferenciada com a Polônia, que moldou toda a sua visão de mundo, mas é prematuro falar em um confinamento voluntário", acredita o teólogo polonês Jan Drabina, chefe do departamento de história do cristianismo da Universidade Jagiellonika, onde o papa já estudou.
Para Drabina, "Karol Josef Wojtyla [nome de batismo do papa" não segue uma lógica secular de que o idoso é incapaz". "Ao contrário, seu sofrimento físico, que beira o martírio, conquista a admiração de muitos católicos."
O cardeal chileno Jorge Medina Estevez afirmou recentemente ter ouvido o papa dizer, em particular, que não renunciaria "porque Jesus não desceu da cruz".
Drabina diz que a intenção do líder católico é "trazer uma mensagem de esperança ao povo da Polônia", que enfrenta um índice de desemprego de 18%, greves, distúrbios na zona rural e incertezas em relação à União Européia.
Os organizadores dizem que 4,5 milhões de fiéis -mais de 10% da população- devem participar das celebrações religiosas com o papa em Cracóvia e em seus arredores. E até 2,5 milhões de pessoas são esperadas na missa campal do domingo, no parque de Blonia. Os peregrinos rezam para que o papa, a personalidade mais popular da Polônia, não tenha de cancelar o evento -como aconteceu três anos atrás, por causa de uma febre, segundo o Vaticano.
Apenas duas semanas depois de ter ido a Toronto (Canadá), México e Guatemala, Wojtyla, nascido em Wadowice (a sudoeste de Cracóvia), em 1920, põe sua saúde à prova novamente.
O cronograma papal tem longos períodos de repouso. Logo após chegar hoje, em seguida a uma breve cerimônia de boas-vindas, ele vai ao palácio arcebispal, que será sua residência nos próximos quatro dias e que lhe trará recordações fortes: foi lá que ele se refugiou em 1944, até o final da Segunda Guerra, um ano depois, para se proteger dos nazistas.
A logística para a visita inclui 8.500 policiais, 600 bombeiros, 350 membros de equipes de resgate e 140 médicos de prontidão para atender o papa. Ontem, no aeroporto João Paulo 2º (em Cracóvia), soldados revistavam passageiros e inspecionavam as aeronaves em busca de explosivos.
"Vim para renovar minha missão evangelizadora e não me importo com alguns contratempos", diz, no aeroporto, o padre português Fernando da Costa, que vive em Moçambique.
De acordo com o cronograma oficial, na segunda-feira o papa vai para Roma. E o porta-voz do Vaticano, Joaquín Navarro-Valls, declarou que a agenda dele "está repleta para os próximos anos". O mesmo Navarro-Valls, no entanto, disse que "tudo o que já foi confirmado está confirmado, mas algo que se diz confirmado pode ser desconfirmado". Ou seja, a incerteza sobre um eventual anúncio de renúncia se mantém.


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