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São Paulo, sábado, 16 de agosto de 2003

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APAGÃO AMERICANO

Trânsito dificulta ida ao trabalho, e moradores vão aos parques

Dia seguinte vira "feriado" para os nova-iorquinos

DE NOVA YORK

"Tire o dia de folga. Há coisas piores do que tirar uma folga em um dia de verão", disse o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, em sua primeira entrevista ontem, horas depois do início do blecaute que paralisou a cidade. Pela quantidade de pessoas de bermuda nas ruas e pela lotação dos parques públicos, o conselho foi aceito pelos nova-iorquinos.
A recomendação foi seguidamente repetida por autoridades municipais, que diziam à população para que não se locomovesse até Manhattan, já que previam um dia de trânsito complicado.
Assim, os nova-iorquinos tiraram a gravata e foram aos parques fazer piquenique, aproveitar o dia de sol e andar de bicicleta.
"É feriado em Nova York. Estamos tentando aproveitar o clima", disse uma garota nova-iorquina que se bronzeava, de biquíni, em plena Times Square, ao lado de três amigos. Essa cena se repetia no Central Park, onde centenas de pessoas descansavam como num domingo.
O mercado financeiro abriu com a Bolsa de Nova York funcionando com geradores, mas os negócios foram fracos. Muitos operadores nem apareceram para trabalhar. Os poucos funcionários estavam lá desde anteontem.
Nas ruas, a desinformação seguia, mas já não preocupava tanto. As rádios continuaram como o principal meio de informação. Mesmo em lugares em que já havia luz, nem sempre era possível sintonizar os canais de TV. A transmissão de muitas emissoras estava comprometida porque os geradores não tinham mais como mantê-las operando. O acesso à internet esteve prejudicado pelos problemas no sistema de telefonia, além, claro, da falta de luz nos cibercafés da cidade.
Nas ruas, as marcas da ressaca por causa da escuridão eram claras. As calçadas amanheceram tomadas pelo lixo -havia desde comida estragada a garrafas de cerveja e de champanhe, resultado da festança que muitos nova-iorquinos fizeram durante a noite.
O número de emergência da polícia, 911, atendeu 80 mil chamadas à noite, o triplo do normal. Cerca de 10 mil policiais trabalharam, e helicópteros passaram a noite sobrevoando Manhattan.
Foram feitas 600 operações de resgate. Uma mulher de 40 anos morreu de ataque cardíaco enquanto era retirada de um prédio.
Poucos saques foram registrados. No Brooklyn, um dos distritos da cidade, 20 pessoas foram presas perto da meia-noite ao tentar invadir uma loja de sapatos.
Muitas pessoas dormiram nas ruas porque não tinham como voltar para casa. Na Times Square, hóspedes de hotéis passaram a noite na calçada em frente, já que não tinham como subir as dezenas de andares dos prédios.
Outras pessoas fizeram churrasco de madrugada, para evitar perder a carne que tinham na geladeira. Pelo mesmo motivo, donos de lanchonetes distribuíam sorvetes de graça.
Bloomberg pediu que os nova-iorquinos evitassem ir às praias da região, pois a falta de energia comprometeu o funcionamento do sistema de esgotos. (ROBERTO DIAS)


Colaboraram Beatriz Peres e Leonardo Cruz, em Nova York


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