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APAGÃO AMERICANO
Trânsito dificulta ida ao trabalho, e moradores vão aos parques
Dia seguinte vira "feriado" para os nova-iorquinos
DE NOVA YORK
"Tire o dia de folga. Há coisas
piores do que tirar uma folga em
um dia de verão", disse o prefeito
de Nova York, Michael Bloomberg, em sua primeira entrevista
ontem, horas depois do início do
blecaute que paralisou a cidade.
Pela quantidade de pessoas de
bermuda nas ruas e pela lotação
dos parques públicos, o conselho
foi aceito pelos nova-iorquinos.
A recomendação foi seguidamente repetida por autoridades
municipais, que diziam à população para que não se locomovesse
até Manhattan, já que previam
um dia de trânsito complicado.
Assim, os nova-iorquinos tiraram a gravata e foram aos parques
fazer piquenique, aproveitar o dia
de sol e andar de bicicleta.
"É feriado em Nova York. Estamos tentando aproveitar o clima", disse uma garota nova-iorquina que se bronzeava, de biquíni, em plena Times Square, ao lado de três amigos. Essa cena se repetia no Central Park, onde centenas de pessoas descansavam como num domingo.
O mercado financeiro abriu
com a Bolsa de Nova York funcionando com geradores, mas os negócios foram fracos. Muitos operadores nem apareceram para
trabalhar. Os poucos funcionários estavam lá desde anteontem.
Nas ruas, a desinformação seguia, mas já não preocupava tanto. As rádios continuaram como o
principal meio de informação.
Mesmo em lugares em que já havia luz, nem sempre era possível
sintonizar os canais de TV. A
transmissão de muitas emissoras
estava comprometida porque os
geradores não tinham mais como
mantê-las operando. O acesso à
internet esteve prejudicado pelos
problemas no sistema de telefonia, além, claro, da falta de luz nos
cibercafés da cidade.
Nas ruas, as marcas da ressaca
por causa da escuridão eram claras. As calçadas amanheceram tomadas pelo lixo -havia desde comida estragada a garrafas de cerveja e de champanhe, resultado
da festança que muitos nova-iorquinos fizeram durante a noite.
O número de emergência da polícia, 911, atendeu 80 mil chamadas à noite, o triplo do normal.
Cerca de 10 mil policiais trabalharam, e helicópteros passaram a
noite sobrevoando Manhattan.
Foram feitas 600 operações de
resgate. Uma mulher de 40 anos
morreu de ataque cardíaco enquanto era retirada de um prédio.
Poucos saques foram registrados. No Brooklyn, um dos distritos da cidade, 20 pessoas foram
presas perto da meia-noite ao tentar invadir uma loja de sapatos.
Muitas pessoas dormiram nas
ruas porque não tinham como
voltar para casa. Na Times Square, hóspedes de hotéis passaram a
noite na calçada em frente, já que
não tinham como subir as dezenas de andares dos prédios.
Outras pessoas fizeram churrasco de madrugada, para evitar perder a carne que tinham na geladeira. Pelo mesmo motivo, donos
de lanchonetes distribuíam sorvetes de graça.
Bloomberg pediu que os nova-iorquinos evitassem ir às praias
da região, pois a falta de energia
comprometeu o funcionamento
do sistema de esgotos.
(ROBERTO DIAS)
Colaboraram Beatriz Peres e Leonardo
Cruz, em Nova York
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