São Paulo, sábado, 16 de agosto de 2008

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Lula admite renegociar o Tratado de Itaipu

DA ENVIADA A ASSUNÇÃO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu a entender ontem que, apesar das reações em contrário da área técnica do governo, o Brasil irá ceder às pressões do Paraguai para rever condições da parceria na hidrelétrica Itaipu Binacional. Segundo ele, "tudo aquilo que for possível negociar nós vamos negociar, porque nós queremos ajudar os parceiros".
Ele, porém, estabeleceu um limite para atender à reivindicação paraguaia para aumentar o preço que o Brasil paga ao país pela energia excedente (93%) de Itaipu. "Na questão das tarifas, vamos aguardar a demanda deles, porque qualquer aumento de tarifa que incidir em aumento de tarifa para o povo brasileiro, aí fica complicado", disse.
Já na base área para embarcar de volta ao Brasil após assistir à posse de Fernando Lugo em Assunção, Lula assumiu um tom quase paternalista ao falar em entrevista coletiva sobre a ajuda brasileira ao Paraguai.
Segundo ele, o Brasil tem "uma enorme responsabilidade de ajudar os países mais pobres da América do Sul e do Mercosul a se desenvolver".
"Temos de ajudar os mais pobres a se desenvolver porque, na medida em que eles se desenvolverem, vão fazer crescer todo o bloco e todo o continente. Não tem nenhum sentido um país ser rico e os outros serem pobres", acrescentou.
Segundo Lula, "os deputados, os senadores, o presidente da República e os ministros têm de ter compreensão de que temos de ajudar os mais pobres". Foi um duplo recado: ao ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, que é radicalmente contra aumentar os preços da energia paraguaia, e ao Congresso, que poderá vir a ser chamado para rever o tratado.
No início deste mês, Lugo entregou ao assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, um conjunto de reivindicações sobre Itaipu. Ele quer liberdade para vender a energia a Argentina, Uruguai e Chile -o tratado determina exclusividade ao Brasil.
O chanceler Celso Amorim negou que o Brasil queira ser "bonzinho" com os vizinhos pobres: "Ser generoso não é ser bonzinho, é olhar seu próprio interesse no longo prazo. O Brasil só será forte com a América do Sul forte e unida".

Na posse
No trajeto a pé entre o Palácio de Governo e a Catedral Metropolitana, escalas da posse de Lugo, Lula primeiro foi recebido aos gritos de "Itaipu, Itaipu" pelos que defendem a revisão do tratado. Depois, reagiu e foi cumprimentar os manifestantes com apertos de mão e abraços. Os gritos passaram a ser: "Lula-lá, Lula-lá".
Foram seis minutos de cumprimentos à longa fila que se formava ao longo do passeio. Vez ou outra, a palavra de ordem mudava para "renegociação, renegociação".
Lula abriu a fila de cumprimentos a Lugo e foi o presidente que por mais tempo conversou com ele. No final, deu-lhe um longo abraço. Para Lula, Lugo é "a esperança da renovação". O brasileiro disse ter sugerido ao paraguaio "paciência e capacidade de negociação".
Um outro tema na pauta bilateral é a tensão entre os agricultores brasileiros que produzem no Paraguai e os camponeses locais que resistem à presença deles. Lula defendeu os brasileiros: "Pessoas que têm terras legalmente contratadas devem ser respeitadas". E advertiu que tentar invadir-lhes as terras é "uma violência contra o princípio da legalidade".
Os dois países acertam agora a data de uma viagem oficial de Lugo ao Brasil, a primeira que ele fará depois da posse. (EC)


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