São Paulo, segunda-feira, 16 de agosto de 2010

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ONU no Líbano diz não crer em guerra

Chefe de missão admite que risco de que faísca reacenda conflito com Israel existe, mas não interessa às partes

Em entrevista à Folha, Alberto Asarta Cuevas diz, porém, que ambos os lados vêm cometendo violações ao cessar-fogo


MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A NAQOURA (LÍBANO)

O contingente da ONU no sul do Líbano (Unifil) ganhou as manchetes após o recente confronto na fronteira com Israel, que deixou quatro mortos.
Foi o pior choque desde a guerra entre Israel e o grupo xiita Hizbollah, em 2006, e serviu para lembrar como é frágil o cessar-fogo em vigor.
O comandante da Unifil, Alberto Asarta Cuevas confirma que o risco de uma deflagração é permanente, mas prevê que não haverá uma nova guerra porque ambas as partes preferem evitá-la.
Em entrevista à Folha na base da Unifil em Naqoura, ao lado da fronteira com Israel, o general espanhol disse que há violações do cessar-fogo de ambos os lados.
Exemplos são as invasões israelenses do espaço aéreo libanês e a existência de armas do Hizbollah no sul do Líbano, onde só deveria haver presença militar da Unifil e do Exército.

INCIDENTE NA FRONTEIRA
Torcemos para que seja um caso isolado. Foi o único incidente grave nos últimos quatro anos entre Israel e Líbano. Na reunião de emergência tripartite que tivemos no mesmo dia, Líbano e Israel concordaram em tratar o incidente como caso isolado, investigá-lo a fundo e continuar com o cessar-fogo.

CESSAR-FOGO
A Unifil cumpre a sua missão, que é implementar a Resolução 1.701 (de cessar-fogo). As partes é que continuam com pendências.
Por exemplo, a retirada das forças israelenses da parte norte da cidade de Ghajar, as violações do espaço aéreo libanês por Israel e a existência de outras armas no sul do Líbano, que não sejam as do Exército libanês e da Unifil.
Em nossa área de responsabilidade não vimos armas. Dizem que elas existem, mas não vimos. E fazemos todos os dias cerca de 300 atividades operacionais.

NOVA GUERRA?
Minha impressão é de que não haverá. Estou convencido de que nenhuma das partes quer a guerra. Pelo menos entre os interlocutores com quem falo de ambos os lados.
Estou otimista. Acho que não haverá guerra. Há mais ruído de gente interessada do que realmente indícios de que haverá guerra.

EXÉRCITO LIBANÊS
O Exército libanês tenta assumir o controle do sul do país, mas ainda há um caminho a percorrer. Como se sabe, antes de 2006 não havia nenhum soldado do Exército no sul do país. Mas neste país o governo tem gente do Hizbollah, então no Exército também há gente de todas as confissões, é um Exército multiétnico.
Ele ainda não tem meios suficientes para cumprir sua missão, principalmente a força aérea. Se os EUA cortarem a ajuda ao Exército libanês [como anunciado há poucos dias], ele vai ressentir.

RELAÇÃO COM HIZBOLLAH
Com o Hizbollah como grupo político não há nenhum problema. Eu trato com as personalidades locais e não pergunto de onde são. São eleitos pelo povo. O que não posso é tratar com grupos armados. Não posso, não devo nem quero.

ATAQUES DA POPULAÇÃO
Em geral a percepção da população do sul do Líbano sobre a Unifil é muito boa. Mas há certas áreas em que ainda não somos bem recebidos.
A maior parte da população considera que a Unifil é necessária, que faz bem ao sul do país e que graças a nós há estabilidade. Mas há uma outra parte da população que não pensa o mesmo. Temos que tentar convencer essas pessoas de que estamos aqui para fazer bem.

PRAZO DA MISSÃO
Não sou um mago, não tenho uma bola de cristal. Tomara que haja um cessar-fogo o mais rápido possível. Tem gente que se esquece que os dois países estão em guerra e o que há é uma trégua. A qualquer momento pode acontecer uma faísca, como aconteceu em Adeissa. Nosso papel é justamente evitar isso, que ocorra essa faísca.


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