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ONU no Líbano diz não crer em guerra
Chefe de missão admite que risco de que faísca reacenda conflito com Israel existe, mas não interessa às partes
Em entrevista à Folha, Alberto Asarta Cuevas diz, porém, que ambos os lados vêm cometendo violações ao cessar-fogo
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A NAQOURA (LÍBANO)
O contingente da ONU no
sul do Líbano (Unifil) ganhou as manchetes após o recente confronto na fronteira
com Israel, que deixou quatro mortos.
Foi o pior choque desde a
guerra entre Israel e o grupo
xiita Hizbollah, em 2006, e
serviu para lembrar como é
frágil o cessar-fogo em vigor.
O comandante da Unifil,
Alberto Asarta Cuevas confirma que o risco de uma deflagração é permanente, mas
prevê que não haverá uma
nova guerra porque ambas
as partes preferem evitá-la.
Em entrevista à Folha na
base da Unifil em Naqoura,
ao lado da fronteira com Israel, o general espanhol disse que há violações do cessar-fogo de ambos os lados.
Exemplos são as invasões
israelenses do espaço aéreo
libanês e a existência de armas do Hizbollah no sul do
Líbano, onde só deveria haver presença militar da Unifil
e do Exército.
INCIDENTE NA FRONTEIRA
Torcemos para que seja um
caso isolado. Foi o único incidente grave nos últimos quatro anos entre Israel e Líbano.
Na reunião de emergência
tripartite que tivemos no
mesmo dia, Líbano e Israel
concordaram em tratar o incidente como caso isolado,
investigá-lo a fundo e continuar com o cessar-fogo.
CESSAR-FOGO
A Unifil cumpre a sua missão, que é implementar a Resolução 1.701 (de cessar-fogo). As partes é que continuam com pendências.
Por exemplo, a retirada das
forças israelenses da parte
norte da cidade de Ghajar, as
violações do espaço aéreo libanês por Israel e a existência de outras armas no sul do
Líbano, que não sejam as do
Exército libanês e da Unifil.
Em nossa área de responsabilidade não vimos armas.
Dizem que elas existem, mas
não vimos. E fazemos todos
os dias cerca de 300 atividades operacionais.
NOVA GUERRA?
Minha impressão é de que
não haverá. Estou convencido de que nenhuma das partes quer a guerra. Pelo menos
entre os interlocutores com
quem falo de ambos os lados.
Estou otimista. Acho que não
haverá guerra. Há mais ruído
de gente interessada do que
realmente indícios de que
haverá guerra.
EXÉRCITO LIBANÊS
O Exército libanês tenta assumir o controle do sul do país,
mas ainda há um caminho a
percorrer. Como se sabe, antes de 2006 não havia nenhum soldado do Exército no
sul do país. Mas neste país o
governo tem gente do Hizbollah, então no Exército também há gente de todas as
confissões, é um Exército
multiétnico.
Ele ainda não tem meios suficientes para cumprir sua
missão, principalmente a força aérea. Se os EUA cortarem
a ajuda ao Exército libanês
[como anunciado há poucos
dias], ele vai ressentir.
RELAÇÃO COM HIZBOLLAH
Com o Hizbollah como grupo
político não há nenhum problema. Eu trato com as personalidades locais e não pergunto de onde são. São eleitos pelo povo. O que não posso é tratar com grupos armados. Não posso, não devo
nem quero.
ATAQUES DA POPULAÇÃO
Em geral a percepção da população do sul do Líbano sobre a Unifil é muito boa. Mas
há certas áreas em que ainda
não somos bem recebidos.
A maior parte da população
considera que a Unifil é necessária, que faz bem ao sul
do país e que graças a nós há
estabilidade. Mas há uma outra parte da população que
não pensa o mesmo. Temos
que tentar convencer essas
pessoas de que estamos aqui
para fazer bem.
PRAZO DA MISSÃO
Não sou um mago, não tenho
uma bola de cristal. Tomara
que haja um cessar-fogo o
mais rápido possível. Tem
gente que se esquece que os
dois países estão em guerra e
o que há é uma trégua. A
qualquer momento pode
acontecer uma faísca, como
aconteceu em Adeissa. Nosso papel é justamente evitar
isso, que ocorra essa faísca.
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