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MULTIMÍDIA
Japão já tem os "cansados" de Hiroshima
The Independent
de Londres
RICHARD LLOYD PARRY
em Tóquio
A cidade de Hiroshima, 53 anos
depois de se tornar a primeira vítima de uma bomba atômica, se orgulha de nunca esquecer. Todo
ano, centenas de milhares de visitantes passam pelas aflitivas exibições do famoso museu da bomba.
Diversos prefeitos e sobreviventes do ataque atômico viajaram ao
redor de todo o mundo divulgando mensagens de paz e fazendo
campanha pelo desarmamento.
Mas nem todos estão satisfeitos
em viver na autodenominada "cidade da paz": este ano, as autoridades de Hiroshima se viram sob
crescente pressão para interromper "as celebrações" e superar o
episódio da bomba atômica.
Na quarta-feira, a polícia da cidade prendeu um homem por um
raro caso de incêndio. Um semana
antes, às vésperas do aniversário
da bomba, ele teria colocado fogo
em uma pilha de aves origami, colocadas no Parque da Paz. As aves
de papel são feitas por crianças como homenagem aos jovens que
morreram na explosão ou em consequência da radiação.
No dia seguinte, a Prefeitura de
Hiroshima admitiu ter recebido
dúzias de reclamações relacionadas ao aniversário da bomba, em 6
de agosto, quando toda a cidade
fecha para lembrar o ataque. Cidadãos enfurecidos ligaram para os
órgãos governamentais reclamando que eles estariam fechados e
perguntado se seu lixo seria recolhido naquele dia. "Por quanto
tempo continuaremos com isso?", perguntou um dos moradores de Hiroshima. "Mais de 50
anos é o suficiente."
Alguns atos de crueldade cínica
foram relatados pelos "kataribe"
ou "contadores de histórias"
-sobreviventes do bombardeio
que visitam escolas para contar
suas memórias.
No último ano, diversos "kataribe'' disseram ter sido insultados por estudantes que menosprezaram suas experiências e destilaram expressões sarcásticas de horror diante de seus relatos.
Um dos sobreviventes, Tsukasa
Watanabe, foi atingido por doces.
"Essa foi a pior experiência que
eu já tive como "kataribe'", disse.
"Eu não pude evitar chorar de
frustração e raiva."
Um estudante escreveu em um
ensaio sobre os ""kataribe'': "Os
sobreviventes me fazem pensar se
eles têm algum tipo de satisfação
narcisística ao representarem suas
novelas enlatadas".
Mas uma controvérsia séria
sempre envolveu cerimônias pela
guerra. Enfurecendo os governos
chinês e coreano, o governo japonês homenageia o túmulo de Yasukuni, que glorifica as almas dos
mortos na guerra, incluindo aí os
criminosos de guerra.
Tradução de Rodrigo Castro
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