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EUA têm "hemp beer"
PATRICK SABATIER
do ''Libération'', em Lexington
''Ninguém bebe esta cerveja para ficar doidão'', garante Tracy, a garçonete
loiríssima da pizzaria Uno,
em Lexington, ao freguês
que acaba de lhe pedir uma
Kentucky Hemp, a cerveja
à base de cânhamo produzida na cidade. ''Todo
mundo sabe que ela não
tem nada a ver com maconha.''
Apesar disso, a palavra
''hemp'' (cânhamo) se destaca em letras enormes no
rótulo da garrafa. Sobre o
peito de um cavalo vermelho, o orgulhoso corcel exibe a folha de cânhamo de
pontas alongadas e rendadas, tão conhecida dos
adeptos do baseado.
Para não deixar margem a
dúvidas, Bill Ambrose, o
jovem executivo da Lexington Brewing Company, a
''microcervejaria'' que fabrica e comercializa esta
Kentucky Hemp desde janeiro, gentilmente oferece
ao visitante o folheto da
Hemptech (rede de informações sobre o cânhamo
industrial), que enumera
''os 25 mil usos conhecidos'' do cânhamo. Estes incluem desde a produção de
roupas da grife Calvin Klein
até o papel especial produzido na França pela gigantesca empresa de papel
Kimberly-Clark.
Até o início do século, Lexington foi o maior centro
mundial de comércio do
cânhamo. Durante dois séculos a cannabis sativa, ao
lado do bourbon e dos cavalos puro-sangue, foi um
pilar da prosperidade da região e motivo de orgulho de
seus habitantes. Desde a
chegada dos primeiros colonos ao Kentucky, no século 18, até a aprovação da
lei que proibiu seu cultivo,
em 1937, o produto foi o
cultura mais lucrativa dos
fazendeiros do Estado.
''Semeiem cânhamo por
toda parte e utilizem-no o
quanto puderem'', foi o
conselho dado aos americanos pelo ''pai da pátria'',
George Washington.
O plantio do cânhamo é,
para os agricultores do
Kentucky, a única alternativa ao tabaco, sua fonte
principal de recursos e que,
segundo eles, corre o risco
de ser proibido. Tanto assim que 77% dos habitantes
do Estado são favoráveis à
legalização do cultivo do
cânhamo.
Mas a idéia tropeça na
hostilidade da DEA (órgão
de combate às drogas do
governo americano) e de
todos aqueles que, por ignorância ou deliberadamente, metem a maconha e
o cânhamo industrial no
mesmo saco.
''Nossa cerveja não gerou
nenhuma polêmica no
Kentucky'', garante Ambrose. ''Todo o mundo sabe que cânhamo e maconha
são duas coisas diferentes.
Mesmo meu tio, que tem 82
anos e é superconservador,
sabe disso.''
Gosto de avelã
"A primeira razão pela
qual utilizamos o cânhamo
é que ele dá um gosto ótimo
à cerveja'', diz Ambrose. A
cerveja à base de cânhamo
deixa na boca um ligeiro sabor de avelãs. "É uma cerveja para o grande público,
não para os especialistas'',
diz Brian Miller.
Desde o ano passado, outras cervejas à base de cânhamo apareceram no
mercado americano: a
Hemp Gold, produzida em
Maryland, a Humboldt
Hemp, da Califórnia, e a canadense Hemp Cream.
Tradução de Clara Allain
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