|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ALEMANHA
Criticando o ataque ao Iraque, reprovado por 60%, premiê reverte vantagem da oposição para pleito de domingo
Schröder cresce com oposição a guerra
MÁRCIO SENNE DE MORAES
ENVIADO ESPECIAL A BONN
A participação das Forças Armadas da Alemanha numa eventual ofensiva militar contra o Iraque para depor o ditador Saddam
Hussein esquenta a campanha
eleitoral alemã a uma semana do
pleito legislativo e já é a segunda
maior preocupação da população, de acordo com pesquisas de
opinião, atrás somente da questão
do desemprego.
Desde o segundo debate na TV,
ocorrido há uma semana, o chanceler (premiê) social-democrata
Gerhard Schröder é categórico:
sob seu comando, a Alemanha
não fará parte de um cada vez
mais provável ataque a Bagdá.
Seu principal oponente, o conservador Edmund Stoiber, governador da Baviera, não se arrisca a
defender a participação alemã numa guerra, pois mais de 60% dos
eleitores são avessos à idéia. Contudo acusa o chanceler de isolar o
país e de pôr em risco suas relações com os EUA.
"Stoiber não aceita que Schröder use esse assunto para lucrar
eleitoralmente e busca "desmascará-lo" em público. É verdade que,
em parte, a posição do chanceler
tem fins eleitorais, mas ele aposta
em que a Rússia ou a China usarão seu direito de veto no Conselho de Segurança da ONU, impedindo, assim, que haja uma coalizão internacional contra Saddam", diz Gerhard Göhler, da
Universidade Livre de Berlim.
"Isso permitiria que o chanceler
não tivesse de lidar com o problema, já que nem Stoiber é favorável
à participação alemã numa ação
militar desprovida da anuência
das Nações Unidas. Ademais, se
reeleito, Schröder poderá mudar
de opinião, argumentando ser necessário respeitar decisões tomadas consensualmente pela comunidade internacional. Isso, é claro,
se a ONU aprovar o ataque",
acrescenta.
Amizade
Num comício realizado em Aachen (centro-oeste), ao qual a reportagem da Folha esteve presente, o chanceler refutou a acusação
de pôr em risco as boas relações
da Alemanha com os EUA. "Numa amizade, pode haver divergências de opinião. Não devemos
aceitar que algo [a ofensiva contra
Saddam" seja imposto ao restante
do planeta", declarou.
A coalizão liderada por Stoiber,
composta pela União Democrata
Cristã (CDU) e pela União Social
Cristã, vinha liderando as pesquisas de opinião havia meses. Porém uma enquete realizada pelo
instituto Politbarometer, divulgada na última sexta-feira, mostrou
que o Partido Social-Democrata
inverteu a situação, obtendo 40%
das intenções de voto contra 37%
da coalizão adversária (embora a
diferença esteja dentro da margem de erro).
"Schröder deve a mudança da
tendência eleitoral a vários fatores. Primeiro, houve o modo como ele geriu a crise provocada pelas inundações, que foi muito
bem-visto pela população. Segundo, como o interesse pela política
vem caindo, o fato de ele ser muito mais simpático do que seu adversário o ajuda. Terceiro, ele obteve uma vitória clara no último
debate na TV. E, finalmente, sua
oposição à guerra agrada à maioria dos eleitores", explicou Manfred Nitsch, também da Universidade Livre de Berlim.
O jornalista Márcio Senne de Moraes
viajou a convite do Escritório Federal de
Imprensa da Alemanha
Texto Anterior: "Americanos querem afirmar seu poder", diz analista Próximo Texto: Terror: EUA querem custódia de iemenita Índice
|