São Paulo, quinta-feira, 16 de setembro de 2004

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ÁSIA

Antes da abertura da reunião do Comitê Central do Partido Comunista Chinês, presidente Hu indica que quer manter sistema atual

China descarta modelo político ocidental

DA REDAÇÃO

Hu Jintao, líder do Partido Comunista Chinês (PCC), exortou ontem, véspera da abertura da reunião do Comitê Central do partido, o Parlamento a desempenhar um papel mais ativo no que concerne à monitoração das ações do governo, mas descartou a possibilidade de a China adotar um sistema político baseado no modelo ocidental.
Segundo analistas, suas declarações indicam que qualquer reforma por ele introduzida no futuro próximo será marginal, não alterando o sistema político atual chinês, no qual não há pluripartidarismo. A visão de Hu sobre o futuro político da China, que visa perpetuar o controle do PCC por meio de boas políticas governamentais, além de transparência, estará no centro da agenda reunião do Comitê Central. Este é composto por 198 membros.
"A história indica que copiar indiscriminadamente sistemas políticos ocidentais não trás frutos para a China", disse Hu num evento para comemorar o 50º aniversário do Congresso Nacional do Povo, o Parlamento chinês.
O PCC, que foi fundado em Xangai em 1921, monopoliza a cena política chinesa desde a revolução ocorrida em 1949. Recentemente, porém, o partido permitiu a realização de algumas reformas em busca de mais transparência e de um certo equilíbrio que possa coibir a corrupção.
Num discurso de 50 minutos transmitido pela rede de TV estatal, Hu afirmou que o papel do Legislativo de observador do Executivo é vital e deverá ser fortalecido. "Exercer o poder sem restrições nem supervisão é algo que resulta em abuso de poder e em corrupção", afirmou Hu, 61.
Nos últimos anos, líderes do PCC vêm dizendo que o partido poderá se autodestruir se não conseguir combater a corrupção, um problema que contribuiu para a queda de várias dinastias imperiais chinesas.
Hu também disse que uma parte vital do poder deverá deixar de emanar das pessoas para privilegiar as instituições. Isso de acordo com o Estado de Direito para que os chineses possam ser os "senhores de suas próprias casas".
O dissidente Jiang Qisheng não ficou impressionado com o discurso de Hu. "Se os chineses devem ser os senhores de suas casas, devemos, então, ter eleições democráticas", afirmou.
As experiências de abertura política na China têm sido bastante limitadas. Autoridades chinesas introduziram eleições diretas para representantes locais em mais de 660 mil vilarejos do país, mas não permitem que os postos mais importantes sejam escolhidos pela via direta e impedem a formação de outros partidos políticos.

Jiang Zemin
Simpatizantes de Hu, que está no posto de líder do partido há menos de dois anos, disseram que ele não podia correr o risco de introduzir medidas radicais antes do início da reunião do Comitê Central, pois há boatos de uma crescente tensão entre ele e seu predecessor, Jiang Zemin, 78. Este ainda presidente a influente Comissão Militar Central.
Jiang tem sido pressionado a abrir mão da presidência dessa comissão durante a reunião do Comitê Central. Muitos analistas dizem, porém, que isso pode não ocorrer. A rivalidade existente entre ambos tornou-se pública recentemente, mas os analistas não crêem que ela possa se transformar numa disputa pelo poder.


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