São Paulo, quinta-feira, 16 de setembro de 2004

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Hu privilegiará questões sociais, afirma analista

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

Se conseguir apoio no Partido Comunista Chinês, o presidente Hu Jintao tentará tornar-se um líder cujas prioridades serão sobretudo sociais, buscando atenuar as dificuldades das centenas de milhares de pessoas que não puderam tirar proveito do forte crescimento econômico recente do país.
A análise é do renomado historiador britânico Jonathan D. Spence, uma das maiores autoridades em China do mundo e autor de "The Gate of Heavenly Peace: The Chinese and Their Revolution 1895-1980" (o portão da paz celestial: os chineses e sua revolução 1895-1980).
 

Folha - Especula-se que o ex-presidente Jiang Zemin venha a entregar o controle do Exército a Hu. Este passaria, com isso, a ter poder suficiente para introduzir reais mudanças na China?
Jonathan D. Spence -
Se Jiang abrir mão do controle dos militares, o que ainda não é certo, Hu passará a controlar o partido, a Presidência e as Forças Armadas. Mas a questão central é que essas posições não garantem tudo. Se se mostrar fraco, Hu não terá muito poder.
Isso já ocorreu com outros líderes comunistas, como o presidente Hua [Guofeng], que substituiu Mao [Tse-tung] por pouco tempo na década de 70. Ele respondia pelos três postos, porém não tinha uma base sólida no Partido Comunista Chinês, e sua ação não foi decisiva.
Se controlar os três postos, Hu terá mais liberdade para implementar suas políticas. Todavia ele ainda terá de ser muito cuidadoso, trabalhando com outros líderes do partido e com a ala liderada por Jiang.

Folha - Os líderes chineses sempre buscam imprimir seu estilo no país. Se Hu tiver poder, quais serão suas prioridades?
Spence -
Ele vem dando sinais de que é um líder que gostaria de ser lembrado como alguém que se preocupa com os problemas sociais. Hu e seu premiê [Wen Jiabao] estão conscientes das imensas dificuldades sociais que estão aparecendo na China, do desemprego e da falta de oportunidades.
Hu não parece ser um líder autoritário, preocupado só com a economia. Mas podemos descartar grandes mudanças nas estruturas do poder. Mesmo assim, o presidente deverá buscar alterar o foco das políticas governamentais, tentando privilegiar os excluídos.
Trata-se de centenas de milhões de pessoas que não puderam tirar proveito do extraordinário crescimento econômico recente da China. Hu tem experiência no assunto, visto que trabalhou em áreas pobres do país, como o Tibete.


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