São Paulo, sábado, 16 de setembro de 2006

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Mortes em conflito no Sudão somam 200 mil, diz estudo

Disputa entre rebeldes e milícia pró-governo é considerada 1º genocídio do século

Bush sugere envio de tropas da ONU a Darfur ainda que governo não aceite; conflito evoca comparações com o massacre em Ruanda

CRISTIANE CARVALHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Um estudo sobre o conflito que se estende há mais de três anos na região de Darfur (oeste do Sudão) concluiu que ele já provocou a morte de pelo menos 200 mil pessoas. O levantamento sobre o primeiro genocídio do século -conforme definição da ONU- foi publicado ontem na principal revista científica dos EUA, a "Science".
Segundo o sociólogo John Hagan, da Universidade Northwestern, que realizou a pesquisa com o também sociólogo Alberto Palloni, governos, organizações humanitárias e jornalistas subestimam o número de vítimas do confronto. "Concluímos que ele é da ordem de centenas de milhares, e não dezenas de milhares." O estudo combinou pesquisas realizadas em campos de refugiados a levantamentos da Organização Mundial da Saúde e do Departamento de Estado americano.
Ontem, o presidente dos EUA, George W. Bush, sugeriu enviar uma força de paz a Darfur mesmo sem o consentimento do governo do Sudão. Ele se disse "frustrado" com a falta de progresso do plano de enviar 20 mil soldados ao país, aprovado por resolução da ONU. Minimizando a forte resistência do país africano às tropas, disse: "Há outras alternativas, como aprovar uma resolução dizendo: "Estamos entrando com uma força da ONU para salvar vidas'".
O premiê britânico, Tony Blair, sugeriu propor um pacote de incentivos ao governo para que ele aceite as tropas, deixando claro que uma recusa poderia trazer "conseqüências". "Conversarei com outros líderes para chegar a um acordo sobre incentivos que o Sudão pode esperar caso cumpra suas obrigações e sobre o que acontecerá se não o fizer."
A União Européia também pressiona o país. "Sem a ONU, iremos em direção a outra Ruanda", disse o porta-voz da Comissão Européia, Amadeu Altajaf, referindo-se ao genocídio de 800 mil em 1994.
Para Alan Kuperman, professor de Assuntos Públicos na Universidade do Texas e especialista em Relações Internacionais, que há anos acompanha o conflito, não se pode culpar só o governo pelo massacre. "Isso é simplista demais. Não se pode esquecer que grupos rebeldes se recusaram a assinar um acordo em maio, mesmo isso significando a continuidade do genocídio do seu povo", disse à Folha. "Temos que conseguir que eles sentem à mesa para negociar", afirmou.
"E é preciso deixar claro para o governo: "Se vocês combaterem os rebeldes com forças legais, isso será tolerado. Mas não vamos tolerar que vocês armem milícias, que neguem ajuda humanitária e, se vocês continuarem, serão punidos"."
Anteontem, em sessão da ONU, o Nobel da Paz Elie Wiesel e o ator George Clooney pediram uma ação mais incisiva em Darfur.


Com agências internacionais


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