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Mortes em conflito no Sudão somam 200 mil, diz estudo
Disputa entre rebeldes e milícia pró-governo é considerada 1º genocídio do século
Bush sugere envio de tropas da ONU a Darfur ainda que governo não aceite; conflito evoca comparações com o massacre em Ruanda
CRISTIANE CARVALHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Um estudo sobre o conflito
que se estende há mais de três
anos na região de Darfur (oeste
do Sudão) concluiu que ele já
provocou a morte de pelo menos 200 mil pessoas. O levantamento sobre o primeiro genocídio do século -conforme definição da ONU- foi publicado
ontem na principal revista
científica dos EUA, a "Science".
Segundo o sociólogo John
Hagan, da Universidade Northwestern, que realizou a pesquisa com o também sociólogo Alberto Palloni, governos, organizações humanitárias e jornalistas subestimam o número de
vítimas do confronto. "Concluímos que ele é da ordem de
centenas de milhares, e não dezenas de milhares." O estudo
combinou pesquisas realizadas
em campos de refugiados a levantamentos da Organização
Mundial da Saúde e do Departamento de Estado americano.
Ontem, o presidente dos
EUA, George W. Bush, sugeriu
enviar uma força de paz a Darfur mesmo sem o consentimento do governo do Sudão.
Ele se disse "frustrado" com a
falta de progresso do plano de
enviar 20 mil soldados ao país,
aprovado por resolução da
ONU. Minimizando a forte resistência do país africano às
tropas, disse: "Há outras alternativas, como aprovar uma resolução dizendo: "Estamos entrando com uma força da ONU
para salvar vidas'".
O premiê britânico, Tony
Blair, sugeriu propor um pacote de incentivos ao governo para que ele aceite as tropas, deixando claro que uma recusa poderia trazer "conseqüências".
"Conversarei com outros líderes para chegar a um acordo sobre incentivos que o Sudão pode esperar caso cumpra suas
obrigações e sobre o que acontecerá se não o fizer."
A União Européia também
pressiona o país. "Sem a ONU,
iremos em direção a outra
Ruanda", disse o porta-voz da
Comissão Européia, Amadeu
Altajaf, referindo-se ao genocídio de 800 mil em 1994.
Para Alan Kuperman, professor de Assuntos Públicos na
Universidade do Texas e especialista em Relações Internacionais, que há anos acompanha o conflito, não se pode culpar só o governo pelo massacre.
"Isso é simplista demais. Não se
pode esquecer que grupos rebeldes se recusaram a assinar
um acordo em maio, mesmo isso significando a continuidade
do genocídio do seu povo", disse à Folha. "Temos que conseguir que eles sentem à mesa para negociar", afirmou.
"E é preciso deixar claro para
o governo: "Se vocês combaterem os rebeldes com forças legais, isso será tolerado. Mas
não vamos tolerar que vocês
armem milícias, que neguem
ajuda humanitária e, se vocês
continuarem, serão punidos"."
Anteontem, em sessão da
ONU, o Nobel da Paz Elie Wiesel e o ator George Clooney pediram uma ação mais incisiva
em Darfur.
Com agências internacionais
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