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Para analistas, humorista é alerta e perigo
Mobilização mostra esgotamento do sistema representativo italiano, mas pode redundar em mais crise
DA REDAÇÃO
Para o cientista político italiano Giuseppe Cocco, professor titular da UFRJ, a iniciativa
de Beppe Grillo denuncia o esgotamento do sistema de representação político-partidário da Itália. Ela é um retrato,
diz Cocco, do fato de o governo
Prodi, que ganhou a eleição "de
forma fraca, principalmente no
Senado", não ter capacidade de
mobilização.
Corroboram as palavras do
professor da UFRJ episódio recente e emblemático que levou
à queda temporária do governo
de Prodi: em fevereiro deste
ano, o premiê renunciou ao
cargo após um racha em sua base ter impedido a aprovação, no
Senado, de sua proposta de política externa. Pouco depois,
Prodi foi reconduzido ao governo, mas a instabilidade da sua
coalizão, a União, naquele momento ficou evidente.
Diferentemente de Cocco,
Alfio Mastropaolo, professor
do Departamento de Estudos
Políticos da Università degli
Studi di Torino, em Turim, diz
que Beppe Grillo é, no momento, um fenômeno exclusivamente "antipolítico". "Não tem
um projeto", afirma o acadêmico, que se dedica a pesquisas sobre democracia e populismo.
Mastropaolo crê que Grillo e
suas reivindicações se tornaram populares porque, em parte, os privilégios dos políticos
na Itália são mesmo "escandalosos". Mas ele credita sua popularidade também ao fato de o
comediante fazer "escândalo".
E a mídia, na Itália como em todas as democracias maduras,
"ama o escândalo", diz.
Sobre o temor que Grillo despertou nos políticos italianos, o
professor de ciência política de
Turim avalia que afeta tanto os
de direita quanto os de esquerda, porque "a antipolítica começa como gozação, mas não se
sabe como pode terminar". No
entanto, observa que a propaganda populista que Grillo faz é
perigosa principalmente para a
esquerda, porque a direita italiana "tem vários populistas".
Sobre a possibilidade de Beppe Grillo estar dando início a algo que se transforme em um
movimento mais consistente,
parece haver um consenso.
Cocco diz não acreditar que a
iniciativa vá se consolidar em
um movimento, mas tem esperança de que ela desperte, "na
parte inteligente da esquerda",
uma movimentação para mudanças políticas.
"Ninguém vai levar as propostas de Grillo a sério", antes
de tudo porque são demagógicas, diz Mastropaolo.
(FÁBIO CHIOSSI)
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