São Paulo, domingo, 16 de setembro de 2007

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Para analistas, humorista é alerta e perigo

Mobilização mostra esgotamento do sistema representativo italiano, mas pode redundar em mais crise

DA REDAÇÃO

Para o cientista político italiano Giuseppe Cocco, professor titular da UFRJ, a iniciativa de Beppe Grillo denuncia o esgotamento do sistema de representação político-partidário da Itália. Ela é um retrato, diz Cocco, do fato de o governo Prodi, que ganhou a eleição "de forma fraca, principalmente no Senado", não ter capacidade de mobilização.
Corroboram as palavras do professor da UFRJ episódio recente e emblemático que levou à queda temporária do governo de Prodi: em fevereiro deste ano, o premiê renunciou ao cargo após um racha em sua base ter impedido a aprovação, no Senado, de sua proposta de política externa. Pouco depois, Prodi foi reconduzido ao governo, mas a instabilidade da sua coalizão, a União, naquele momento ficou evidente.
Diferentemente de Cocco, Alfio Mastropaolo, professor do Departamento de Estudos Políticos da Università degli Studi di Torino, em Turim, diz que Beppe Grillo é, no momento, um fenômeno exclusivamente "antipolítico". "Não tem um projeto", afirma o acadêmico, que se dedica a pesquisas sobre democracia e populismo.
Mastropaolo crê que Grillo e suas reivindicações se tornaram populares porque, em parte, os privilégios dos políticos na Itália são mesmo "escandalosos". Mas ele credita sua popularidade também ao fato de o comediante fazer "escândalo". E a mídia, na Itália como em todas as democracias maduras, "ama o escândalo", diz.
Sobre o temor que Grillo despertou nos políticos italianos, o professor de ciência política de Turim avalia que afeta tanto os de direita quanto os de esquerda, porque "a antipolítica começa como gozação, mas não se sabe como pode terminar". No entanto, observa que a propaganda populista que Grillo faz é perigosa principalmente para a esquerda, porque a direita italiana "tem vários populistas".
Sobre a possibilidade de Beppe Grillo estar dando início a algo que se transforme em um movimento mais consistente, parece haver um consenso.
Cocco diz não acreditar que a iniciativa vá se consolidar em um movimento, mas tem esperança de que ela desperte, "na parte inteligente da esquerda", uma movimentação para mudanças políticas.
"Ninguém vai levar as propostas de Grillo a sério", antes de tudo porque são demagógicas, diz Mastropaolo. (FÁBIO CHIOSSI)

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