São Paulo, quarta-feira, 16 de setembro de 2009

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"Nossa única obsessão é a de manter a ordem interna", diz Colômbia

Ministros dizem à Folha que demais países da região não os compreendem porque não viveram guerra ao narcotráfico

Chanceler reitera que direito internacional já é garantia sobre bases; ministro da Defesa cobra simetria em documentos da Unasul


DO ENVIADO A QUITO

A Colômbia jamais se esquivou de dar explicações sobre o pacto com os EUA e hoje paga o preço de ser um país incompreendido. Foi o que disseram, em entrevista à Folha, os chefes da delegação colombiana no encontro em Quito, o chanceler Jaime Bermúdez e o ministro da Defesa, Gabriel Silva. Eles receberam a reportagem numa suíte do hotel onde houve o encontro, momentos antes de irem ao aeroporto para voltar a Bogotá. Estavam sem paletó, comiam chips e mandavam torpedos pelos seus aparelhos celulares enquanto respondiam às perguntas. (SA)

 

FOLHA - Por que a reunião não deu certo?
JAIME BERMÚDEZ
- Achamos que é uma obrigação de todos os países seguirem o que foi acordado em Bariloche: construir medidas de confiança em vários temas, acordos de cooperação, compras de armas de terceiros países e presença de grupos terroristas e narcotráfico. As garantias devem abranger todos esses temas. GABRIEL SILVA - A Colômbia reiterou o princípio da simetria. Temos de reconhecer que não temos as mesmas agendas, mas que a agenda de um é tão importante quanto a do outro. O Brasil está preocupado com as garantias formais do pacto com os EUA. Mas nós estamos preocupados com o alcance dos acordos que o Brasil está fazendo com outros países. Nenhum país viveu o que passamos, um processo doloroso do qual começamos a sair. É difícil para um país onde o narcotráfico se limita a uma presença periférica entender outro onde todas as instituições foram tocadas por ele. É compreensível que um país que não tenha vivido isso seja menos sensível a essas questões, mas temos de entender as preocupações de cada um. O texto não compreendia as simetrias das nossas preocupações.

FOLHA - A Colômbia rejeitou o acordo por que não queria dizer que suas garantias eram "formais" ?
BERMÚDEZ
- Houve debates sobre várias outras palavras. SILVA - A sua pergunta é o melhor reflexo das assimetrias que menciono. Para um país, essa palavra fez o acordo fracassar. Mas para outros, os temas que mencionamos são os que fazem a diferença.

FOLHA - Por que é tão difícil para a Colômbia falar em garantias?
BERMÚDEZ
- Queremos acordos como todo mundo, não só com os EUA. Acordos com o Brasil ou até a Venezuela beneficiariam a toda a região. A Colômbia está disposta a dar garantias de confiança sobre esse e sobre todos os temas. Mas temos que avançar de maneira simétrica. De qualquer jeito, o acordo é transparente no artigo 3º, relativo aos princípios fundamentais do direito internacional, que são garantias que falam por si. Primeiro princípio: a igualdade soberana dos Estados. Segundo: a integridade territorial dos Estados. Terceiro: não intervenção nos assuntos internos de todos os países. Nossa Constituição e nossa firma em todos os acordos internacionais dos quais somos signatários também têm valor legal.

FOLHA - A Colômbia parece isolada na América do Sul.
BERMÚDEZ
- A Colômbia é o único país a ter sofrido o impacto do narcotráfico nessa dimensão. Lutamos contra grupos terroristas há mais de 40 anos. Caminhamos muito, recuperamos o monopólio da força legítima. Mas ainda há muito o que fazer. Esses resultados só serão duradouros e sustentáveis graças a uma cooperação internacional eficaz. Nossa única obsessão é manter a ordem pública interna.

FOLHA - Qual o limite da ação americana nas bases americanas?
BERMÚDEZ
- O alcance é claro. Teremos palavra final sobre todas as decisões. O mando é exclusivamente colombiano. Além disso, não estamos falando de tropas, mas de cooperação técnica. O acordo envolve só o território colombiano, já dissemos isso várias vezes. SILVA - As pessoas imaginam que há batalhões de americanos. Sua presença nunca passou de cem militares. Há gente que, por sua visão de mundo, vê perigo onde ele não está.


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