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"Nossa única obsessão é a de manter a ordem interna", diz Colômbia
Ministros dizem à Folha que demais países da região não os
compreendem porque não viveram guerra ao narcotráfico
Chanceler reitera que direito internacional já é garantia sobre bases; ministro da Defesa cobra simetria em documentos da Unasul
DO ENVIADO A QUITO
A Colômbia jamais se esquivou de dar explicações sobre o
pacto com os EUA e hoje paga o
preço de ser um país incompreendido. Foi o que disseram,
em entrevista à Folha, os chefes da delegação colombiana no
encontro em Quito, o chanceler Jaime Bermúdez e o ministro da Defesa, Gabriel Silva.
Eles receberam a reportagem numa suíte do hotel onde
houve o encontro, momentos
antes de irem ao aeroporto para voltar a Bogotá. Estavam
sem paletó, comiam chips e
mandavam torpedos pelos seus
aparelhos celulares enquanto
respondiam às perguntas.
(SA)
FOLHA - Por que a reunião não deu
certo?
JAIME BERMÚDEZ - Achamos que
é uma obrigação de todos os
países seguirem o que foi acordado em Bariloche: construir
medidas de confiança em vários temas, acordos de cooperação, compras de armas de terceiros países e presença de grupos terroristas e narcotráfico.
As garantias devem abranger
todos esses temas.
GABRIEL SILVA - A Colômbia reiterou o princípio da simetria.
Temos de reconhecer que não
temos as mesmas agendas, mas
que a agenda de um é tão importante quanto a do outro. O
Brasil está preocupado com as
garantias formais do pacto com
os EUA. Mas nós estamos preocupados com o alcance dos
acordos que o Brasil está fazendo com outros países.
Nenhum país viveu o que
passamos, um processo doloroso do qual começamos a sair. É
difícil para um país onde o narcotráfico se limita a uma presença periférica entender outro onde todas as instituições
foram tocadas por ele. É compreensível que um país que não
tenha vivido isso seja menos
sensível a essas questões, mas
temos de entender as preocupações de cada um. O texto não
compreendia as simetrias das
nossas preocupações.
FOLHA - A Colômbia rejeitou o
acordo por que não queria dizer que
suas garantias eram "formais" ?
BERMÚDEZ - Houve debates sobre várias outras palavras.
SILVA - A sua pergunta é o melhor reflexo das assimetrias que
menciono. Para um país, essa
palavra fez o acordo fracassar.
Mas para outros, os temas que
mencionamos são os que fazem
a diferença.
FOLHA - Por que é tão difícil para a
Colômbia falar em garantias?
BERMÚDEZ - Queremos acordos
como todo mundo, não só com
os EUA. Acordos com o Brasil
ou até a Venezuela beneficiariam a toda a região.
A Colômbia está disposta a
dar garantias de confiança sobre esse e sobre todos os temas.
Mas temos que avançar de maneira simétrica.
De qualquer jeito, o acordo é
transparente no artigo 3º, relativo aos princípios fundamentais do direito internacional,
que são garantias que falam por
si. Primeiro princípio: a igualdade soberana dos Estados. Segundo: a integridade territorial
dos Estados. Terceiro: não intervenção nos assuntos internos de todos os países. Nossa
Constituição e nossa firma em
todos os acordos internacionais dos quais somos signatários também têm valor legal.
FOLHA - A Colômbia parece isolada
na América do Sul.
BERMÚDEZ - A Colômbia é o
único país a ter sofrido o impacto do narcotráfico nessa dimensão. Lutamos contra grupos terroristas há mais de 40
anos. Caminhamos muito, recuperamos o monopólio da força legítima. Mas ainda há muito
o que fazer. Esses resultados só
serão duradouros e sustentáveis graças a uma cooperação
internacional eficaz. Nossa
única obsessão é manter a ordem pública interna.
FOLHA - Qual o limite da ação americana nas bases americanas?
BERMÚDEZ - O alcance é claro.
Teremos palavra final sobre todas as decisões. O mando é exclusivamente colombiano.
Além disso, não estamos falando de tropas, mas de cooperação técnica. O acordo envolve
só o território colombiano, já
dissemos isso várias vezes.
SILVA - As pessoas imaginam
que há batalhões de americanos. Sua presença nunca passou de cem militares. Há gente
que, por sua visão de mundo, vê
perigo onde ele não está.
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