São Paulo, Sábado, 16 de Outubro de 1999
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ELEIÇÃO ARGENTINA
Candidato governista diz que presidente não o apóia porque planeja em voltar ao poder em 2003
Duhalde acusa Menem de boicote

ANDRÉ SOLIANI
VANESSA ADACHI
de Buenos Aires

O candidato a presidente da Argentina do Partido Justicialista (PJ), Eduardo Duhalde, atribuiu ontem a culpa de sua eventual derrota ao presidente Carlos Saúl Menem, seu correligionário. As acusações foram consideradas as mais duras desde que Duhalde foi escolhido como o candidato peronista.
"Menem está lançando sua candidatura de 2003. Está mais preocupado com seus assuntos pessoais que com a sorte do justicialismo no dia 24 de outubro (dia da eleição)", afirmou Duhalde a uma rádio da Província de Córdoba.
O atual presidente já está em campanha e tem comentado com ironia que na Argentina já não se fala da eleição do próximo domingo, mas apenas da de 2003. Na partida de futebol amistosa de quarta entre Argentina e Colômbia havia cartazes com o slogan "Menem 2003".
A disputa entre Duhalde e Menem nasceu quando o atual presidente ainda tinha esperanças de concorrer a um terceiro mandato. Duhalde, que estava de olho no cargo, foi o principal opositor. Em meados do ano, a Justiça acabou com o sonho de Menem. E a rivalidade continuou.
Duhalde sempre se apresentou como uma mudança em relação ao governo Menem, criticando o seu legado econômico e o alto índice de desemprego. Segundo o analista político Rosendo Fraga, os eleitores não enxergam Duhalde como uma força de transformação, pois ele foi o vice-presidente de Menem em seu primeiro mandato.
Para Menem, a vitória de Duhalde representaria um obstáculo ao plano de voltar em 2003. Devido à possibilidade de reeleição, o candidato natural do PJ seria o presidente empossado.
Como a vitória de Fernando de la Rúa, da coalizão oposicionista Aliança, é provável, o bate-boca agora gira em torno da caça de culpados pelo eventual fracasso eleitoral do PJ.
Segundo as últimas pesquisas de intenção de voto, o peronismo pode, pela primeira vez, ficar com menos de 35% dos votos.
No mais recente levantamento do Gallup, Duhalde aparece com 31% das intenções de voto. De la Rúa está com 43%. Na Argentina, poucos analistas parecem duvidar da vitória de De la Rúa no primeiro turno.
Em entrevista a jornalistas brasileiros, na terça, Menem jogou sobre Duhalde o peso do mau desempenho do partido nas eleições presidenciais."Se Duhalde perde, será uma derrota de todo o justicialismo, mas principalmente dele próprio", afirmou o presidente.
Ontem, Duhalde acusou Menem de ter lhe negado apoio efetivo. "Quando quero apoiar um candidato meu, não o faço com discurso, mas sim com ações concretas", disse ele.
Duhalde citou como exemplo do boicote presidencial o recente escândalo envolvendo a secretária de Meio Ambiente, María Julia Alsogaray. Apesar das denúncias de corrupção e de enriquecimento ilícito contra a secretária, Menem manifestou apoio a sua funcionária e a manteve no cargo.
A era Menem é considerada por seus críticos como um período de corrupção. De la Rúa usou o tema a seu favor, e o episódio de María Julia reforçou seu discurso e o deixou mais próximo da vitória.


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