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ANÁLISE
Nem todos os católicos aplaudem João Paulo 2º
TOM HENEGHAN
DA ""REUTERS", NA CIDADE DO VATICANO
Quando o papa comemorar hoje o 25º aniversário de seu pontificado, em meio a toda a pompa e
circunstância que o Vaticano é capaz de organizar, nem todos os
católicos estarão aplaudindo.
O papa polonês conquistou a
adesão entusiasmada de muitos
fiéis, sem falar em figuras seculares e não-católicas, por sua dinâmica liderança moral.
Mas críticos pertencentes tanto
à ala tradicionalista da igreja
quanto à progressista questionam
se João Paulo 2º, conservador
convicto, fez ou não o melhor
possível pelos católicos do mundo, que somam 1 bilhão.
A personalidade carismática do
papa torna essa pergunta muito
difícil. ""A fachada moderna desse
pontificado esconde uma operação de bastidores extremamente
reacionária", disse Christian Terras, editor-chefe do periódico
mensal católico liberal "Golias",
de Lyon (França).
Enquanto os liberais da igreja
acusam o papa de revogar as reformas do Concílio Vaticano Segundo (1962-1965), os tradicionalistas dizem que ele exagerou em
sua aplicação.
Os detratores do papa formam
uma minoria pequena e que ganha pouco destaque, em parte
porque o Vaticano conseguiu sufocar boa parte do debate teológico não-ortodoxo, proibindo os
pensadores abertamente críticos
de lecionar e publicar trabalhos
com a aprovação da igreja. Indagado sobre as dimensões dos setores dissidentes, o cardeal Roger
Mahoney, de Los Angeles, respondeu: "Na igreja, de modo geral, existem provavelmente 5% de
extrema direita e 5% de extrema
esquerda. Todo o resto ocupa a
faixa intermediária."
Os críticos mais visíveis são os
progressistas, ou liberais, muitos
deles hoje católicos de meia-idade
de países desenvolvidos, pessoas
que se formaram na época instigante do Concílio Vaticano Segundo e da política dos anos 1960
e que rejeitam o conservadorismo
intransigente do papa em áreas
como o controle de natalidade e
os direitos das mulheres.
""Esse pontificado foi um desastre para a Igreja Católica, apesar
de ter tido alguns aspectos positivos", escreveu nesta semana o
teólogo suíço Hans Küng, um dos
principais críticos pertencentes à
ala liberal. Proibido de lecionar
como teólogo católico desde 1979,
Küng criticou o papa por ter se
negado a pôr fim ao celibato dos
padres, a ordenar mulheres ou a
revogar a postura rígida da igreja
com relação à sexualidade. ""Não
se deixe enganar pelas multidões
que comparecem aos eventos do
papa... Milhões de pessoas abandonaram a igreja ou se voltaram
para dentro durante seu pontificado", disse ele.
As feministas católicas criticam
João Paulo 2º por ele ter tentado
sufocar qualquer discussão da
questão da hegemonia masculina
na igreja. ""Ele não poderia ter fechado com mais força a porta da
questão do sacerdócio feminino",
disse Frances Kissling, diretora do
grupo Católicos pela Liberdade de
Escolha, de Washington. ""O papa
será lembrado como um papa do
século 5, no que diz respeito às
mulheres."
Já os tradicionalistas que rejeitaram as reformas promulgadas pelo Concílio Vaticano Segundo e
conservaram a missa em latim e a
teologia rígida anterior ao concílio se sentem lisonjeados com as
tentativas do papa de atraí-los de
volta à igreja, mas se decepcionaram com o fato de ele não compartilhar suas posições.
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