UOL


São Paulo, quinta-feira, 16 de outubro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANÁLISE

Nem todos os católicos aplaudem João Paulo 2º

TOM HENEGHAN
DA ""REUTERS", NA CIDADE DO VATICANO

Quando o papa comemorar hoje o 25º aniversário de seu pontificado, em meio a toda a pompa e circunstância que o Vaticano é capaz de organizar, nem todos os católicos estarão aplaudindo.
O papa polonês conquistou a adesão entusiasmada de muitos fiéis, sem falar em figuras seculares e não-católicas, por sua dinâmica liderança moral.
Mas críticos pertencentes tanto à ala tradicionalista da igreja quanto à progressista questionam se João Paulo 2º, conservador convicto, fez ou não o melhor possível pelos católicos do mundo, que somam 1 bilhão.
A personalidade carismática do papa torna essa pergunta muito difícil. ""A fachada moderna desse pontificado esconde uma operação de bastidores extremamente reacionária", disse Christian Terras, editor-chefe do periódico mensal católico liberal "Golias", de Lyon (França).
Enquanto os liberais da igreja acusam o papa de revogar as reformas do Concílio Vaticano Segundo (1962-1965), os tradicionalistas dizem que ele exagerou em sua aplicação.
Os detratores do papa formam uma minoria pequena e que ganha pouco destaque, em parte porque o Vaticano conseguiu sufocar boa parte do debate teológico não-ortodoxo, proibindo os pensadores abertamente críticos de lecionar e publicar trabalhos com a aprovação da igreja. Indagado sobre as dimensões dos setores dissidentes, o cardeal Roger Mahoney, de Los Angeles, respondeu: "Na igreja, de modo geral, existem provavelmente 5% de extrema direita e 5% de extrema esquerda. Todo o resto ocupa a faixa intermediária."
Os críticos mais visíveis são os progressistas, ou liberais, muitos deles hoje católicos de meia-idade de países desenvolvidos, pessoas que se formaram na época instigante do Concílio Vaticano Segundo e da política dos anos 1960 e que rejeitam o conservadorismo intransigente do papa em áreas como o controle de natalidade e os direitos das mulheres.
""Esse pontificado foi um desastre para a Igreja Católica, apesar de ter tido alguns aspectos positivos", escreveu nesta semana o teólogo suíço Hans Küng, um dos principais críticos pertencentes à ala liberal. Proibido de lecionar como teólogo católico desde 1979, Küng criticou o papa por ter se negado a pôr fim ao celibato dos padres, a ordenar mulheres ou a revogar a postura rígida da igreja com relação à sexualidade. ""Não se deixe enganar pelas multidões que comparecem aos eventos do papa... Milhões de pessoas abandonaram a igreja ou se voltaram para dentro durante seu pontificado", disse ele.
As feministas católicas criticam João Paulo 2º por ele ter tentado sufocar qualquer discussão da questão da hegemonia masculina na igreja. ""Ele não poderia ter fechado com mais força a porta da questão do sacerdócio feminino", disse Frances Kissling, diretora do grupo Católicos pela Liberdade de Escolha, de Washington. ""O papa será lembrado como um papa do século 5, no que diz respeito às mulheres."
Já os tradicionalistas que rejeitaram as reformas promulgadas pelo Concílio Vaticano Segundo e conservaram a missa em latim e a teologia rígida anterior ao concílio se sentem lisonjeados com as tentativas do papa de atraí-los de volta à igreja, mas se decepcionaram com o fato de ele não compartilhar suas posições.

Texto Anterior: Pontificado é o 4º mais longo da história
Próximo Texto: Vizinho em crise: Cercada, La Paz espera a batalha final
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.