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VIZINHO EM CRISE
Brasileiro e Kirchner devem condenar hoje oposição e governo
Insatisfeito com presidente, Lula diz que apóia a Bolívia
Carlos Barria/ Reuters
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Bolivianos acompanham discurso de líder sindical, em La Paz |
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
GABRIELA ATHIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva disse ontem, por meio de seu
porta-voz, André Singer, que o
Brasil está à disposição para ajudar a Bolívia a encontrar uma saída pacífica para a crise política.
Numa sutileza diplomática, Lula não disse que está disposto a
ajudar o presidente Gonzalo Sánchez de Lozada, mas sim "os bolivianos", o que inclui a oposição.
"O Brasil está disposto a fazer
tudo o que for considerado útil
para ajudar os bolivianos a encontrar uma solução pacífica e legal para superar o mais rápido
possível o atual momento de dificuldades", disse Singer, à noite.
Até ontem, o Brasil não fora acionado para mediar o conflito. Se
for, poderá participar.
A declaração foi feita depois do
embarque de Lula para a Argentina. O governo Lula não apóia a
tentativa de golpe, mas também
não está nada satisfeito com o
presidente Sánchez de Lozada,
que é aliado incondicional dos Estados Unidos, foi responsabilizado pela violência que já gerou cerca de 70 mortes e tem poucas
chances de manter o cargo.
Conforme a Folha apurou, a
posição equidistante entre oposição e governo constitucional deverá ficar clara hoje nas manifestações de Lula e do presidente argentino, Néstor Kirchner, que se
encontram em Buenos Aires. Eles
devem condenar, igualmente, a
oposição e o que consideram truculência na reação do governo.
Lula e Kirchner deverão lembrar a "cláusula democrática" do
Mercosul, que prevê sanções, inclusive interrupção de cooperação, para países que desrespeitem
normas básicas de democracia. A
Bolívia é país associado do bloco.
Segundo o embaixador do Brasil em La Paz, Antonino Mena
Gonçalves, "o Brasil aguarda que
os dois lados [governo e oposição] abram canais de diálogo,
mas o quadro negociador é muito
confuso". Afirmou que "há intransigência de parte a parte e, como as facções de oposição não se
entendem, não há interlocutores
claramente estabelecidos".
A expectativa, até ontem, era a
de que a Igreja Católica e a OEA
(Organização dos Estados Americanos) entrassem como mediadores, tentando abrir o diálogo
governo-oposição. "Apesar do
enorme prestígio que o Brasil e o
presidente [Lula] têm aqui, não
houve pedido nem oferecimento
para que o Brasil participasse desse esforço de negociação", disse o
embaixador, por telefone.
Ainda ontem, o chanceler Celso
Amorim disparou uma série de
telefonemas a pedido de Lula. Falou com o secretário-geral da
OEA, César Gaviria, com a chanceler da Espanha, Ana Palácios, e
com o ex-presidente da Bolívia
Jaime Paz Zamora, líder do Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR), partido que apóia Sanchéz de Lozada.
As posições do Brasil e dos Estados Unidos diante da crise da Bolívia têm sido inversas às que os
dois países tiveram durante a tentativa de golpe na Venezuela, em
11 de abril do ano passado.
Os EUA rapidamente apoiaram
o golpe liderado pelo empresário
Pedro Carmona contra o presidente venezuelano, Hugo Chávez.
Agora, apoiaram incondicionalmente o presidente boliviano
Sánchez de Lozada -um velho
aliado norte-americano, que morou e estudou nos EUA- e condenaram a oposição.
Já o Brasil fez diferente: na Venezuela, condenou radicalmente
o golpe e apoiou o presidente
constitucionalmente eleito. Na
Bolívia, condenou tanto o golpe
quanto a "violência" e o "elevado
número de feridos e as perdas de
vidas". Para o governo brasileiro,
a violência é responsabilidade da
reação oficial.
Para Mena Gonçalves, o país parecia "razoavelmente sob controle", mas havia sérias dificuldades
de obter informação. Contou que,
apesar da gravidade da situação,
só um dos sete canais de TV
transmitia noticiário sobre o que
ocorria no país.
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