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GUERRA AO TERROR
Marroquinos inocentados de envolvimento no 11 de Setembro podem ser deportados da Alemanha
Europa discute como tratar réus absolvidos
HUGH WILLIAMSON
NIKKI TAIT
DO "FINANCIAL TIMES"
Se uma pessoa acusada de terrorismo for absolvida nos tribunais,
deveria ser autorizada a se movimentar sem restrições ou será que
deveria ser trancafiada ou até deportada, caso as autoridades considerem que ela continua sendo
uma ameaça à segurança?
Questões como essa estão preocupando os políticos e as autoridades policiais de Hamburgo,
Alemanha, cidade em que moravam três dos autores dos atentados de 11 de setembro de 2001.
Preocupações semelhantes no
Reino Unido e em outros países
conduziram à detenção de dezenas de radicais islâmicos, ainda
que não haja provas de que tenham vínculos com o terrorismo.
Abdelghani Mzoudi, o marroquino inocentado em fevereiro de
uma acusação de envolvimento
no planejamento dos ataques de
11 de setembro, esperava retomar
a vida como estudante de engenharia elétrica em Hamburgo.
Um tribunal decidiu que a universidade não pode lhe negar a vaga.
Mas Udo Nagel, ministro do Interior no governo estadual de
Hamburgo, interveio e impediu
que Mzoudi retornasse aos estudos, até que seja decidido se ele será ou não conduzido a um novo
julgamento. Nagel argumenta,
também, que, a despeito de
Mzoudi ter sido absolvido das
acusações de terrorismo, há indícios suficientes de seu envolvimento com terroristas para que
seja deportado, de acordo com as
leis alemãs para estrangeiros.
Mounir al Motassadeq, outro
marroquino cuja condenação foi
revertida em março, também pode enfrentar deportação, mesmo
que seja absolvido em seu segundo julgamento, que está em curso.
Nagel diz que 20 outros supostos
extremistas islâmicos estavam em
observação em Hamburgo e poderiam ser deportados.
Uma perspectiva como essa
mexe com uma área sensível para
o povo alemão, já que as tradições
de liberdades civis do país entraram em conflito com as demandas de maior segurança e de procedimentos mais severos contra
os estrangeiros indesejados, depois do 11 de Setembro.
Desde o final de 2001, a Alemanha adotou novas leis para reforçar a segurança nacional e modificou as regras de imigração para
permitir que os tribunais deportem migrantes que apóiem organizações terroristas estrangeiras.
Nagel diz que provas de que
Mzoudi visitou um campo de treinamento da Al Qaeda no Afeganistão eram indício suficiente de
seu apoio ao grupo terrorista, e
justificariam sua deportação,
mesmo que não bastassem para
garantir sua condenação por acusações mais graves. Ele diz que a
ação de deportação contra Mzoudi por seu apoio a uma organização terrorista estrangeira seria a
primeira do tipo na Alemanha.
Otto Schilly, ministro do Interior, também instou os tribunais a
adotar posições duras, com o
apoio de parte da mídia.
Steffen Till, porta-voz do Partido Verde em Hamburgo para os
assuntos legais, diz que Nagel e
seus colegas conservadores do
Partido Democrata Cristão, que
governa Hamburgo, deveriam esperar o final dos julgamentos
pendentes. "Não podemos adotar
imediatamente a opinião de que
essas pessoas devem ser expulsas
de qualquer jeito", disse. "É bastante possível que elas encontrem
um meio de voltar ao convívio
majoritário da sociedade, e certamente é preciso manter essa opção em aberto".
Enquanto isso, no Reino Unido,
o número de terroristas condenados recentemente é muito baixo.
Até maio, 562 pessoas haviam sido detidas sob as leis de combate
ao terror, desde setembro de 2001,
e dessas 97 haviam sido acusadas
e 14 condenadas por terrorismo.
Mais recentemente, as atenções
retornaram aos 11 suspeitos detidos sem julgamento e por prazo
indefinido na penitenciária de
Belmarsh. Nove juízes estão analisando uma contestação aos poderes de detenção concedidos ao governo sob a lei de segurança e
combate ao terrorismo de 2001.
Ao adotá-la, o Reino Unido suspendeu o cumprimento de parte
de suas obrigações sob a Convenção Européia de Direitos Humanos, medida criticada por parlamentares e pelas organizações de
defesa das liberdades civis.
Tradução de Paulo Migliacci
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