São Paulo, sábado, 16 de outubro de 2004

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Esquerda adula terror, diz analista espanhola

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Parte das esquerdas é condescendente com o terrorismo, porque acredita que se trata de movimentos de resistência e também por questão de afinidades com o pensamento antiamericano.
É o que diz a cientista política Pilar Rahola, 45, ex-vice-prefeita de Barcelona, ex-deputada no Parlamento Europeu, ex-deputada espanhola pela Esquerda Republicana Catalã e autora de estudos sobre direitos de minorias.
Ela participa na próxima sexta, no Rio, do debate "A Esquerda e o Terrorismo Global" promovido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. No dia 28 participará do 1º Congresso Internacional sobre Intolerância, promovido em São Paulo pela USP.
Eis os principais trechos de sua entrevista à Folha.
 

Folha - Algum partido de esquerda chegou a se solidarizar abertamente com o terrorismo islâmico?
Pilar Rahola -
Há posicionamentos dentro da esquerda condescendentes com o terrorismo, porque confundem o terrorismo com resistência, que é um conceito mais mítico. As ações terroristas são desculpadas em nome da lógica que opõe oprimido e opressor. Essa forma de pensar é construída em nome do antiamericanismo.

Folha - Não haveria diferença entre o iraquiano que atira num militar americano uniformizado e um atentado contra civis inocentes?
Rahola -
Não é tão simples assim no caso iraquiano, já que todos os grupos que atuam contra a presença norte-americana naquele país defendem abertamente o terrorismo. Esses grupos têm ramificações internacionais e não trazem por objetivo a liberdade. Querem regimes islâmicos.

Folha - É possível separar terroristas de grupos nacionalistas?
Rahola -
A esquerda européia se move por dois parâmetros fundamentais. Há o antiamericanismo e a mítica dos chamados processos de libertação. O erro cometido por pensadores da esquerda ou grupos antiglobalização é de que o terrorismo tem por objetivo a libertação dos povos.

Folha - Como enquadrar então os nacionalistas tchetchenos adversários do terrorismo?
Rahola -
Uma coisa é pensar na legitimidade desse segmento dos nacionalistas tchetchenos ou do movimento palestino, que luta por um Estado apenas por meios políticos. Outra coisa é não percebermos que essas causas são "seqüestradas" por aqueles que querem impor a ditadura do integrismo islâmico ao resto do mundo.

Folha - A confusão é feita por grupos marginais das esquerdas ou também por comunistas e socialistas europeus?
Rahola -
Intelectuais e organizações como os socialistas e comunistas da Espanha acreditam que os grupos terroristas palestinos sejam movimentos de resistência. Esse engano é também cometido dentro da esquerda institucionalizada e que nada tem de marginal.

Folha - No caso dos comunistas, não adiantou nada a reflexão "eurocomunista" de há 30 anos, sobretudo na Espanha e na Itália?
Rahola -
O eurocomunismo foi importante e provocou mudanças de peso entre partidos comunistas europeus. Mas a adesão à democracia funciona apenas para efeitos internos. Quando são questões externas, esses partidos se apaixonam com freqüência por ditadores ou por grupos terroristas que tomem por alvo interesses americanos.

Folha - Como a sra. vê a questão palestina?
Rahola -
Um líder democrático dos palestinos pode ser visto como um libertador de seu povo. Mas o Hamas não se enquadra nessa definição. É uma organização terrorista que doutrina crianças de oito anos e as prepara para a morte, que não quer criar um Estado Palestino, mas uma república islâmica na Mesopotâmia. A esquerda, de um modo geral, não consegue facilmente fazer essa distinção. Os parâmetros de análise da esquerda européia foram sempre muito pobres.


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