São Paulo, domingo, 16 de outubro de 2005

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Elo entre clima e aquecimento é controverso

DA REDAÇÃO

Um novo relatório sobre o aquecimento global divulgado na semana passada por climatologistas da Nasa, a agência espacial norte-americana, demonstrou que 2005 está a caminho de ser o ano mais quente de que se tem registro. Mas a influência do aquecimento global sobre fenômenos meteorológicos como o Katrina e outros furacões é hoje tema de intenso debate dentro da comunidade científica.
Contrariando a posição de muitos ambientalistas, grupos de especialistas em furacões refutam a relação entre o aumento da temperatura média do planeta e a intensidade e freqüência dos fenômenos.
Tad Murty, ex-diretor do Centro Australiano para Monitoramento de Marés e editor por 18 anos do "International Journal of Natural Hazards", publicação especializada em desastres naturais, disse à Folha que desde outubro de 1979 não há um novo recorde de intensidade de furacões. Ele diz que se baseou em 20 diferentes parâmetros atmosféricos e oceanográficos para chegar a essa conclusão.
Segundo o especialista, considerando furacões e tempestades tropicais, o maior número de fenômenos do tipo foi registrado em 1933. "O furacão mais intenso da história ocorreu em Bangladesh, no ano de 1876, com ondas de altura máxima de 13,6 metros provocadas pela tempestade. Para ter uma idéia, o Katrina provocou ondas de no máximo nove metros", diz.
William Gray, da Universidade do Estado do Colorado, o mais conhecido especialista em furacões nos Estados Unidos, diz que é cético sobre a ligação entre o aquecimento global e fenômenos meteorológicos.
À rede de TV CNN, ele defendeu a teoria de que os furacões são guiados por ciclos de altas temperaturas e salinidade que estão afetando sua intensidade no oceano Atlântico.

Infra-estrutura
Tad Murty afirma que o aumento populacional e de infra-estrutura causa a impressão de que os furacões estão mais letais do que nunca. "Os gastos com infra-estrutura no século 20 subiram 14 vezes se comparados com o século anterior. Isso significa que, numa região costeira, onde havia uma casa, no século seguinte havia 14."
Michael Oppenheimer, professor do departamento de geociências da Universidade de Princeton e um dos maiores críticos da política ambiental da administração George W. Bush, é ambíguo em relação ao tema.
"Não há prova que possa ligar a intensidade de uma determinada tempestade ao aquecimento global. Mas existem provas de que, na média, os furacões se intensificaram", declara, em e-mail à Folha.
De acordo com o o Goddard Institute para Estudos Espaciais da Nasa, a temperatura global neste ano será 0,75C superior à média de temperaturas de 1950 a 1980. Segundo os dados, a Terra está se aquecendo mais no hemisfério Norte.
Cientistas da Nasa, em conjunto com pesquisadores da Universidade do Colorado, chegaram à conclusão de que a área da superfície de gelo na região do Ártico diminuiu 1.295.000 km 2 em relação à média de 1979 a 2000. (SOS)


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