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Desastres criam 25 milhões de refugiados
LEILA SUWWAN
DE NOVA YORK
A ONU estima que, na última
década, 25 milhões de pessoas tenham se tornado "refugiadas ambientais" -deixaram suas terras
por causa de degradação e desastres naturais. A previsão é que esse número duplique nos próximos cinco anos, devido ao crescimento da população vulnerável e
do aumento de secas e enchentes.
O Instituto de Ambiente e Segurança Humana da Universidade
da ONU reconhece que o alerta é
tanto científico quanto político,
para pressionar por mais recursos
para os países pobres e proteção
internacional para os refugiados.
"Desastres como o Katrina e o
tremor no Paquistão, televisionados, podem elevar a consciência
política", disse à Folha o diretor
do Instituto, Janos Bogardi. "Mais
pessoas estão em risco e mais
eventos meteorológicos ligados à
ação humana estão ocorrendo."
As projeções têm como base estudos da Universidade de Oxford.
Dos 25 milhões calculados, 16 milhões são africanos, 6 milhões são
chineses e 2 milhões são mexicanos. O restante são pessoas deslocadas permanentemente por represas e outras obras.
Os dois fatores de preocupação
são a degradação da terra e os desastres ligados à mudança climática causada pelo homem.
Segundo Bogardi, nos últimos
30 anos houve uma duplicação no
número de "eventos meteorológicos". Mas ele considera que a desertificação é um problema mais
grave e "invisível".
"A degradação da terra não está
nas manchetes. A terra alagada é
fácil de ver; a seca parece ser invisível", disse Bogardi. Além da
África, uma das regiões de maior
preocupação é a China, onde o
deserto de Gobi se expande 10 mil
km2 ao ano.
Segundo o professor Tony Oliver Smith, também do instituto
da ONU, a vulnerabilidade aumenta com a expansão urbana
em cidades na costa. Cerca de 100
milhões de pessoas vivem em
áreas abaixo do nível do mar ou
sujeitas a tempestades.
"A projeção de 50 milhões pode
até ser modesta, só contamos as
pessoas que fugiram para salvar a
própria pele", disse Bogardi.
A controvérsia na estatística
vem justamente da caracterização
do problema puramente ambiental. Segundo o professor Norman
Myers, de Oxford, é difícil diferenciar fatores ambientais de
pressões econômicas -interligadas com a pobreza, desnutrição,
desemprego e conflitos.
No caso da África, é problemático distinguir a fome relacionada à
seca da fome relacionada às guerras civis e à manipulação de estoques de alimentos.
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