São Paulo, domingo, 16 de outubro de 2005

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Desastres criam 25 milhões de refugiados

LEILA SUWWAN
DE NOVA YORK

A ONU estima que, na última década, 25 milhões de pessoas tenham se tornado "refugiadas ambientais" -deixaram suas terras por causa de degradação e desastres naturais. A previsão é que esse número duplique nos próximos cinco anos, devido ao crescimento da população vulnerável e do aumento de secas e enchentes.
O Instituto de Ambiente e Segurança Humana da Universidade da ONU reconhece que o alerta é tanto científico quanto político, para pressionar por mais recursos para os países pobres e proteção internacional para os refugiados.
"Desastres como o Katrina e o tremor no Paquistão, televisionados, podem elevar a consciência política", disse à Folha o diretor do Instituto, Janos Bogardi. "Mais pessoas estão em risco e mais eventos meteorológicos ligados à ação humana estão ocorrendo."
As projeções têm como base estudos da Universidade de Oxford. Dos 25 milhões calculados, 16 milhões são africanos, 6 milhões são chineses e 2 milhões são mexicanos. O restante são pessoas deslocadas permanentemente por represas e outras obras.
Os dois fatores de preocupação são a degradação da terra e os desastres ligados à mudança climática causada pelo homem.
Segundo Bogardi, nos últimos 30 anos houve uma duplicação no número de "eventos meteorológicos". Mas ele considera que a desertificação é um problema mais grave e "invisível".
"A degradação da terra não está nas manchetes. A terra alagada é fácil de ver; a seca parece ser invisível", disse Bogardi. Além da África, uma das regiões de maior preocupação é a China, onde o deserto de Gobi se expande 10 mil km2 ao ano.
Segundo o professor Tony Oliver Smith, também do instituto da ONU, a vulnerabilidade aumenta com a expansão urbana em cidades na costa. Cerca de 100 milhões de pessoas vivem em áreas abaixo do nível do mar ou sujeitas a tempestades.
"A projeção de 50 milhões pode até ser modesta, só contamos as pessoas que fugiram para salvar a própria pele", disse Bogardi.
A controvérsia na estatística vem justamente da caracterização do problema puramente ambiental. Segundo o professor Norman Myers, de Oxford, é difícil diferenciar fatores ambientais de pressões econômicas -interligadas com a pobreza, desnutrição, desemprego e conflitos.
No caso da África, é problemático distinguir a fome relacionada à seca da fome relacionada às guerras civis e à manipulação de estoques de alimentos.


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