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ARTIGO
Os EUA e a eleição na Nicarágua
NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Os EUA travam outra guerra
na Nicarágua e os alvos são os
mesmos dos anos 80: Daniel
Ortega e a Frente Sandinista de
Libertação Nacional. Só que
agora contam votos, e não luta
armada, para impedir que Ortega, líder nas pesquisas de opinião, ganhe a eleição presidencial de 5 de novembro.
Há preocupação com interferências do presidente Hugo
Chávez, da Venezuela, tempero
freqüente em disputas políticas
em países latino-americanos.
Mas o semanário "Confidencial", de um membro da família
Chamorro, com fortes antecedentes anti-sandinistas, escreveu que "a Venezuela tem sido mais esperta do que os EUA".
Seu embaixador "trata de se
manter discreto".
O americano, Paul A. Trivelli,
ao contrário, "age com arrogância, se comporta como um ator
político e quase diariamente dá
sua opinião sobre quem deve
ser o futuro presidente". Alguns órgãos de imprensa se referiram a ele como um sexto
candidato presidencial: empenhou-se com visibilidade total,
como se fosse um articulador
nacional de movimentos partidários, com o objetivo de reunificar a "família liberal". Esta se
dividiu em três partidos, o que
enfraqueceu a oposição aos
sandinistas -embora Ortega
comande uma frente esfarrapada, com rastros de corrupção, formada do que restou da
organização revolucionária
convertida em partido político.
Ex-inimigos
Acontece que Ortega, após
perder velhos amigos, conseguiu atrair velhos inimigos. O
argumento é "reconciliação".
Seu candidato a vice é o ex-contra Jaime Morales, da guerrilha
que tentou derrubar o regime
sandinista numa guerra suja financiada pelos EUA.
Ortega se aproximou do partido Resistência Nicaragüense,
também de ex-contras, e acabou formalizando aliança. As
amarguras de três derrotas em
eleições presidenciais se sobrepuseram a veleidades como
coerência. Os sandinistas e
seus antigos inimigos assinaram um pacto de 15 pontos prometendo que "a família nicaragüense nunca mais recorrerá a
métodos violentos para resolver suas diferenças".
No mesmo ato, a candidatura
de Ortega recebeu o apoio de
Maria Rizo, irmã de um ex-vice-presidente, agora candidato
de um dos ramos da "família liberal", o partido Liberal Nacionalista. O mais forte adversário
de Ortega, Eduardo Montealegre, pertence a outro ramo, a
Aliança Liberal Nicaragüense.
Mesmo com toda essa reciclagem, os sandinistas continuam assombrando Washington. Nas eleições de 2001, perdidas por Ortega, Jeb Bush, irmão do presidente Bush e governador da Flórida, publicou
texto de página inteira no "La
Prensa", da família Chamorro,
afirmando que "Ortega é inimigo de tudo o que os EUA representam" e não aceita os "princípios básicos da democracia e do
livre mercado".
Na campanha atual, o embaixador Trivelli faz dupla com o
deputado Dan Burton, que apelou para que os eleitores nicaragüenses não coloquem em risco "as excelentes relações
entre a Nicarágua e os EUA"
votando em Ortega. Também
pediu que se faça uma frente
anti-sandinista.
Trivelli disse que explicar
reações do Congresso americano não é intervenção. Um repórter da rede britânica BBC perguntou a Ortega se ele é ainda um revolucionário. A resposta foi um "inequívoco" sim.
Com o seguinte adendo: "No
passado lutamos uma revolução com armas, mas a Nicarágua está agora em nova etapa.
Agora o projeto revolucionário
é feito por meio do voto".
O jornalista NEWTON CARLOS é analista de
questões internacionais
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