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China tenta "blindar" visita de Obama
Maior receio de Pequim é que algum tema sensível surja em debate de americano com 600 estudantes hoje, em Xangai
Relação de dependência econômica deve manter cobranças sobre direitos humanos distantes de falas do presidente dos EUA
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
A realização de um debate
com 600 estudantes, que farão
perguntas diretamente ao presidente Barack Obama hoje em
Xangai, revela a tensão durante
a primeira visita oficial do americano à China.
Até ontem à noite, quando o
presidente desembarcou em
Xangai, não estava claro como
seria o debate, em um país onde
professores ditam que perguntas universitários podem fazer
em eventos similares.
A transmissão seria para todo o país, mas deve ficar limitada a Xangai. Ao mesmo tempo,
pelo menos uma centena de ativistas e dissidentes políticos estão em prisão domiciliar ou foram retirados de Pequim e
Xangai às vésperas da visita.
O governo chinês teme protestos e tentou evitar que Obama se encontre com dissidentes -e receia que algum estudante fale sobre censura na internet no debate ao vivo.
Nos últimos anos, há diversos sinais de retrocessos na liberdade de expressão e aumento do controle e da censura no
país, após certa abertura nos
anos 90.
Obama se encontrará com o
presidente chinês, Hu Jintao, e
o primeiro-ministro Wen Jiabao e visitará a Cidade Proibida
e a Grande Muralha em Pequim, onde chega hoje e fica até
quarta-feira. Na agenda, cooperação econômica, contenção da
Coreia do Norte e do Irã, ambos
aliados chineses, e a mudança
climática -China e EUA são os
dois maiores emissores de poluentes do mundo.
Mas, como a China é a maior
financiadora do deficit público
americano, pois usa bilhões de
dólares de seu superavit comercial para comprar títulos
do Tesouro americano, observadores políticos duvidam que
Obama seja direto na cobrança
em relação ao desrespeito dos
direitos humanos dos anfitriões. Ou que consiga chegar a
um acordo sobre novas sanções
à Coreia do Norte ou ao Irã se
continuarem seus programas
nucleares.
A Coreia do Norte serviu de
Estado tampão por décadas de
Guerra Fria, e o Irã se tornou o
segundo maior fornecedor de
petróleo à China no último ano.
A China possui US$ 1,6 trilhão em moeda e títulos do Tesouro americano, segundo estimativas recentes. Obteve US$
275 bilhões em superavit em
seu comércio com os EUA.
Perseguição religiosa
Outro grupo que o governo
quer controlar no esforço antiprotesto durante a visita de
Obama é o dos fiéis das "igrejas
clandestinas". Elas são formadas por grupos de leitura da Bíblia que começam em apartamentos, mas que têm se multiplicado pelo país.
A China só permite o funcionamento de igrejas com autorização do Partido Comunista,
que pode até nomear pastores,
padres e bispos. O país não tem
relações diplomáticas com o
Vaticano e é oficialmente um
Estado ateu.
Ontem, cerca de 800 fiéis da
igreja evangélica Shouwang desafiaram a pressão policial e se
reuniram no auditório alugado
de uma faculdade em Pequim.
Na semana passada, eles tiveram que se reunir em um parque, sob a neve, depois de terem sido desalojados de um
condomínio.
Os pastores estavam detidos
em suas casas, mas, diante da
negativa dos fiéis de classe média de abandonar o recinto, a
polícia acabou liberando os
pastores, que foram escoltados
até chegar ao altar, segundo
presentes relataram à Folha.
No ano passado, o ex-presidente George W. Bush foi a um
culto em Pequim em uma igreja autorizada pelo governo chinês. Ativistas pedem que Obama defenda a liberdade religiosa no país e se encontre com líderes das igrejas clandestinas.
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