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São Paulo, terça-feira, 16 de dezembro de 2003

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"Saddam cansou", diz correspondente da CNN

LUCIANA COELHO
DA REDAÇÃO

O jornalista britânico Nic Robertson, 41, correspondente da rede de TV americana CNN, foi um dos primeiros repórteres a conhecer o buraco em que Saddam Hussein foi preso, sábado, perto de Tikrit. Robertson, que trabalhou na cobertura da Guerra do Golfo (1991) e da Guerra do Iraque, falou à Folha, por telefone, de Tikrit, sobre a captura. Leia a seguir trechos da entrevista:
 

Folha - Qual foi sua primeira impressão ao entrar no buraco?
Nic Robertson -
Fiquei realmente surpreso. Era muito, muito apertado. Eu conheci Saddam em 1991, e ele já era grande. Pelas imagens que vi depois, ele ganhara peso. É difícil imaginar um homem daquele tamanho e daquela idade [66 anos] entrando e saindo a todo hora daquele buraco.

Folha - Você acha que era possível ele passar dias ali?
Robertson -
Não, a impressão é que era um lugar para onde ele corria quando suspeitava que alguém estivesse vindo, e acho que foi isso que ocorreu naquela noite. Havia um casebre ao lado, e o buraco parecia ser usado só em emergências. Era muito pequeno, não havia uma cama nem nada, só sujeira, e ainda parecia frio e úmido. Não dava para alguém chegar a dormir lá.

Folha - Como era o casebre? Parecia ser usado havia tempo?
Robertson -
Não me pareceu um lugar onde ele estaria se escondendo havia dias. Havia uma caixa com roupas, uma prateleira de livros -alguns ainda embalados- e sapatos novos. A impressão que eu tive é que alguém teria comprado os livros e as roupas para ele. E tinha uma espécie de baú de madeira, algo que coubesse no porta-malas de um carro.

Folha - Não havia uma mala feita ou algo que indicasse que ele estava pronto para fugir?
Robertson -
Não, não havia nada que ele pudesse pegar e levar em cima da hora. Tinha roupas jogadas sobre a cama, algumas novas. E comida: bananas, laranjas, pepinos, kiwis, ovos, geléia, pedaços de carne de peru no chão...

Folha - Como se ele achasse que não seria encontrado ali?
Robertson -
Não sei, porque os soldados disseram que ele já saiu com as mãos para cima, o que me parece a atitude de alguém resignado, e não pego de surpresa. Parece que ele percebeu que o jogo tinha acabado. Em fitas que ouvimos [após a captura], ele parecia acabado. Parece que Saddam cansou, como se tivesse decidido que não tinha mais onde se esconder.

Folha - Ele parecia abandonado?
Robertson -
Com certeza. Ele já estava muito sozinho, não havia gente com ele. Não dava para ficar viajando e se esconder com muita gente, porque assim ele seria visto. A coalizão [anglo-americana] disse que o modo para encontrá-lo foi ir pegando seus amigos.


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