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"Saddam cansou", diz correspondente da CNN
LUCIANA COELHO
DA REDAÇÃO
O jornalista britânico Nic Robertson, 41, correspondente da rede de TV americana CNN, foi um
dos primeiros repórteres a conhecer o buraco em que Saddam
Hussein foi preso, sábado, perto
de Tikrit. Robertson, que trabalhou na cobertura da Guerra do
Golfo (1991) e da Guerra do Iraque, falou à Folha, por telefone,
de Tikrit, sobre a captura. Leia a
seguir trechos da entrevista:
Folha - Qual foi sua primeira impressão ao entrar no buraco?
Nic Robertson - Fiquei realmente
surpreso. Era muito, muito apertado. Eu conheci Saddam em
1991, e ele já era grande. Pelas imagens que vi depois, ele ganhara
peso. É difícil imaginar um homem daquele tamanho e daquela
idade [66 anos] entrando e saindo
a todo hora daquele buraco.
Folha - Você acha que era possível ele passar dias ali?
Robertson - Não, a impressão é
que era um lugar para onde ele
corria quando suspeitava que alguém estivesse vindo, e acho que
foi isso que ocorreu naquela noite. Havia um casebre ao lado, e o
buraco parecia ser usado só em
emergências. Era muito pequeno,
não havia uma cama nem nada,
só sujeira, e ainda parecia frio e
úmido. Não dava para alguém
chegar a dormir lá.
Folha - Como era o casebre? Parecia ser usado havia tempo?
Robertson - Não me pareceu um
lugar onde ele estaria se escondendo havia dias. Havia uma caixa com roupas, uma prateleira de
livros -alguns ainda embalados- e sapatos novos. A impressão que eu tive é que alguém teria
comprado os livros e as roupas
para ele. E tinha uma espécie de
baú de madeira, algo que coubesse no porta-malas de um carro.
Folha - Não havia uma mala feita
ou algo que indicasse que ele estava pronto para fugir?
Robertson - Não, não havia nada
que ele pudesse pegar e levar em
cima da hora. Tinha roupas jogadas sobre a cama, algumas novas.
E comida: bananas, laranjas, pepinos, kiwis, ovos, geléia, pedaços
de carne de peru no chão...
Folha - Como se ele achasse que
não seria encontrado ali?
Robertson - Não sei, porque os
soldados disseram que ele já saiu
com as mãos para cima, o que me
parece a atitude de alguém resignado, e não pego de surpresa. Parece que ele percebeu que o jogo
tinha acabado. Em fitas que ouvimos [após a captura], ele parecia
acabado. Parece que Saddam cansou, como se tivesse decidido que
não tinha mais onde se esconder.
Folha - Ele parecia abandonado?
Robertson - Com certeza. Ele já
estava muito sozinho, não havia
gente com ele. Não dava para ficar
viajando e se esconder com muita
gente, porque assim ele seria visto. A coalizão [anglo-americana]
disse que o modo para encontrá-lo foi ir pegando seus amigos.
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