|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Agressor de Bush vira herói local
EUA minimizam arremesso de sapatos contra presidente, cujo autor está preso sem acusação formal
Advogado de Saddam Hussein diz que há mais de cem colegas árabes dispostos a defender jornalista voluntariamente
Karim Kadim/Associated Press
|
|
Manifestantes mostram seus sapatos em passeata contra os Estados Unidos ontem em Bagdá
DA REDAÇÃO
"Juro por Alá: ele é um herói." O comentário, feito ontem
pela irmã do jornalista iraquiano que lançou sapatos contra o
presidente dos EUA, George W.
Bush na véspera, reflete a repercussão que o episódio recebeu -e não apenas no Iraque.
As cenas de Muntader al Zaidi arremessando seus sapatos e
chamando Bush de cachorro foi
repetida pelas emissoras de TV
árabes, enquanto fotografias do
americano se esquivando ilustraram as primeiras páginas
dos principais jornais da região.
"Uma excitação velada podia
ser identificada em muitas reportagens, especialmente nos
países em que o sentimento antiamericano é mais profundo",
registrou o "New York Times".
Na Líbia, um grupo de caridade liderado pela filha do chefe de Estado Muamar Gaddafi
anunciou que dará ao jornalista
um prêmio por coragem "porque o que ele fez representa
uma vitória pelos direitos humanos ao redor do mundo".
Nos EUA, a tática foi minimizar o caso, acusando o repórter
de tentar chamar atenção. "Foi
um incidente isolado. Põe em
cena uma vontade particular",
disse Robert Wood, porta-voz
do Departamento de Estado.
A imediata libertação foi pedida numa passeata em Bagdá.
Em Najaf, manifestantes lançaram sapatos contra uma patrulha dos EUA.
O episódio motivou uma onda de solidariedade entre advogados. Jalil al Duleimi, defensor do ex-ditador Saddam Hussein, declarou: "Esse herói deve
ter um julgamento justo, e já há
mais de cem advogados árabes
que se apresentaram como voluntários para defendê-lo".
Imediatamente detido após
ter arremessado seus dois sapatos contra Bush, Zaidi segue
sob custódia iraquiana sem
acusação formal. Citando autoridades locais, o "Times" registrou que ele está sujeito a até
sete anos de prisão, por cometer um ato agressivo a um chefe
de Estado visitante.
A publicação noticiou também que o jornalista foi agredido "severamente" por seus captores, que, além de privá-lo do
contato com os familiares,
ameaçaram seus irmãos.
Ele foi interrogado ontem,
para saber se o protesto foi pago por terceiros, e submetido a
testes para apurar se estava bêbado ou drogado ao ser detido.
Além de lançar os sapatos, o
repórter da emissora privada Al
Baghdadiya bradou: "É seu beijo de despedida, cachorro. Isso
é pelas viúvas, órfãos e pelos
que foram mortos no Iraque".
Exortada pelo governo a se
desculpar publicamente pelo
episódio, a empresa ignorou o
pedido e engrossou o coro das
reivindicações por sua libertação. O sindicato dos jornalistas
iraquianos condenou o ato,
mas também cobrou a soltura.
A ofensa é a pior possível na
cultura islâmica. Atingir alguém com sapato demonstra
que o visado é tão desprezível
quanto a sujeira sob a sola.
Também considerado "impuro", o cachorro é um animal
vedado aos muçulmanos.
Com agências internacionais
Assista ao vídeo de Bush
se desviando dos sapatos
www.folha.com.br/083501
Texto Anterior: Equador terá economista como chanceler Próximo Texto: Artigo: O resumo de uma era Índice
|