São Paulo, terça-feira, 16 de dezembro de 2008

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ARTIGO

O resumo de uma era

DE WASHINGTON

Em 9 de abril de 2003, ganharam o mundo as imagens de iraquianos dando chineladas nos pedaços da estátua de Saddam Hussein que havia sido derrubada da praça Firdos (paraíso, em árabe), em Bagdá, e que então rodavam a cidade, num Carnaval de liberdade. Anteontem, os sapatos voadores tinham como alvo o suposto libertador do país, o (ainda) presidente George W. Bush.
Nos quase seis anos que separam os chinelos dos sapatos, o mundo assistiu a ascensão, o auge e a irresistível queda da Era Bush. O ato condenável do jornalista iraquiano Muntader al Zaidi, correspondente do canal Al Baghdadiya, baseado no Cairo, enterra simbolicamente aquele que entrará para a história como o pior presidente dos EUA da era moderna.
Movido por interesses nunca totalmente claros e baseado em inteligência falha -o quão deliberadamente falha a história ainda julga-, Bush livrou o mundo de um ditador sangüinário. Como no pós-11 de Setembro, contava com a boa vontade de parte da população da região. Como no pós-11 de Setembro, desperdiçou-a em meio a desmandos, mau planejamento, interesses torpes.
Esse vai ser o legado de Bush: um presidente a quem a História, com agá maiúsculo, deu três chances de ser maior do que o cargo, a última sendo a crise econômica sem precedentes. Nas três, ele empurrou as oportunidades para debaixo do tapete. Agora, sai não sob vaias, mas sapatadas.
Na etiqueta árabe, agredir alguém com a sola do calçado é uma grande ofensa. Saddam sabia, Bush descobriu anteontem. Que fique registrado que, como estadista, o republicano é amador, mas poucos conseguiriam se desviar dos petardos com tamanha destreza.
(SÉRGIO DÁVILA)


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