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ARTIGO
O resumo de uma era
DE WASHINGTON
Em 9 de abril de 2003, ganharam o mundo as imagens de
iraquianos dando chineladas
nos pedaços da estátua de Saddam Hussein que havia sido
derrubada da praça Firdos (paraíso, em árabe), em Bagdá, e
que então rodavam a cidade,
num Carnaval de liberdade.
Anteontem, os sapatos voadores tinham como alvo o suposto
libertador do país, o (ainda)
presidente George W. Bush.
Nos quase seis anos que separam os chinelos dos sapatos,
o mundo assistiu a ascensão, o
auge e a irresistível queda da
Era Bush. O ato condenável do
jornalista iraquiano Muntader
al Zaidi, correspondente do canal Al Baghdadiya, baseado no
Cairo, enterra simbolicamente
aquele que entrará para a história como o pior presidente dos
EUA da era moderna.
Movido por interesses nunca
totalmente claros e baseado em
inteligência falha -o quão deliberadamente falha a história
ainda julga-, Bush livrou o
mundo de um ditador sangüinário. Como no pós-11 de Setembro, contava com a boa
vontade de parte da população
da região. Como no pós-11 de
Setembro, desperdiçou-a em
meio a desmandos, mau planejamento, interesses torpes.
Esse vai ser o legado de Bush:
um presidente a quem a História, com agá maiúsculo, deu
três chances de ser maior do
que o cargo, a última sendo a
crise econômica sem precedentes. Nas três, ele empurrou as
oportunidades para debaixo do
tapete. Agora, sai não sob vaias,
mas sapatadas.
Na etiqueta árabe, agredir alguém com a sola do calçado é
uma grande ofensa. Saddam sabia, Bush descobriu anteontem. Que fique registrado que,
como estadista, o republicano é
amador, mas poucos conseguiriam se desviar dos petardos
com tamanha destreza.
(SÉRGIO DÁVILA)
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