São Paulo, quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

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Illinois pode receber presos de Guantánamo

Governo Obama anuncia compra de penitenciária no Estado e diz que pretende realocar para lá detentos de base militar

Plano esbarra, porém, em resistência do Congresso a permitir detenção por longo período de suspeitos de terrorismo em solo dos EUA


Todd Mizener - 12.nov.01/Associated Press
Interior da prisão de Thomson, Illinois, onde o governo Obama pretende abrigar cerca de duas dúzias dos 210 presos de Guantánamo

JANAINA LAGE
DE NOVA YORK

A Casa Branca informou ontem que vai comprar a prisão de Thomson, a 240 km de Chicago, no Estado de Illinois, para alojar parte dos presos da base militar de Guantánamo.
A medida é um avanço na promessa do presidente dos EUA, Barack Obama, de fechar a prisão, que abriga os presos da "guerra ao terror". A perspectiva de trazer prisioneiros ligados ao terrorismo para o país, porém, foi alvo de críticas da oposição republicana.
Em carta enviada ao governador do Illinois, Pat Quinn, o governo afirma que o objetivo do fechamento da prisão é proteger a segurança nacional e retirar da Al-Qaeda uma ferramenta de recrutamento de pessoal. A carta é assinada pela secretária de Estado, Hillary Clinton e pelo secretário de Defesa, Robert Gates. No fim da tarde, Obama divulgou memorando com instruções sobre a aquisição da penitenciária.
Estima-se que dezenas de prisioneiros poderão ser transferidos para Thomson. Atualmente, Guantánamo abriga cerca de 210 presos. O governo não divulgou o valor que pretende pagar pela prisão. Em 2001, quando foi construída, a penitenciária custou US$ 120 milhões a Illinois.
Além de abrigar os detentos de Guantánamo, a prisão também aumentará a oferta de espaço para os prisioneiros federais. A administração será feita de forma independente pelo Departamento da Justiça e pelo Departamento de Estado. O governo afirma que os detentos de Guantánamo não terão contato com os demais presos.
A prisão de Thomson foi construída com capacidade para até 1.600 presos, mas conta hoje com apenas 200 detentos. O governo quer elevar o padrão de segurança para que ela se equipare à única prisão de segurança "supermáxima" do país, a de Florence, no Colorado, onde nunca houve fugas.
A decisão de levar os presos de Guantánamo para o Estado onde Obama construiu sua carreira política foi motivada em parte pela economia. Nos cálculos de Richard Durbin, senador democrata de Illinois, a decisão poderá gerar 3.000 empregos. Em Illinois, a taxa de desemprego está em 11%, acima da taxa nacional de 10%. No Estado, a população se divide entre a expectativa favorável pela perspectiva de um cenário econômico mais positivo e o receio de que a região se torne alvo de ataques terroristas.
A decisão do governo ocorre pouco menos de um mês após Obama reconhecer que não cumprirá o prazo estipulado por ele, ao assumir a Presidência, para fechar Guantánamo até o fim de janeiro próximo. Ele não quis estipular uma nova data, mas disse que a prisão deverá ser fechada em 2010.
Na carta a Quinn, o governo afirma que Obama não tem intenção de soltar nenhum preso em território americano. Mesmo assim, o presidente precisará contar com a aprovação do Congresso para levar seu projeto adiante. A legislação atual determina que os detentos de Guantánamo só podem ser trazidos ao país para julgamento.
Os republicanos criticaram a medida. O líder republicano no Senado, Mitch McConnell, disse que os americanos e o Congresso "já rejeitaram trazer terroristas para o solo americano para detenção de longo prazo e a legislação atual proíbe isso". O representante (deputado) republicano Lamar Smith disse que a medida estenderá aos terroristas os mesmos direitos dados a cidadãos americanos.


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