São Paulo, sábado, 17 de janeiro de 2004

Próximo Texto | Índice

ORIENTE MÉDIO

Xeque Ahmed Yassin diz buscar o "martírio" após membro do governo afirmar que ele está "marcado para morrer"

Israel ameaça matar fundador do Hamas

DA REDAÇÃO

O fundador do grupo terrorista palestino Hamas, xeque Ahmed Yassin, está "marcado para morrer", disse ontem o vice-ministro da Defesa israelense, Zeev Boim.
O Hamas, responsável pela maioria dos ataques contra Israel, assumiu a autoria de um atentado na última quarta-feira, que matou quatro israelenses. Foi a primeira vez que o grupo utilizou uma mulher-bomba -mãe de duas crianças de menos de quatro anos de idade- em um atentado suicida.
"Ele [Yassin] deveria se esconder bem fundo no subterrâneo, onde não saberá a diferença entre o dia e a noite. Mas nós o encontraremos e o eliminaremos", disse Boim à rádio militar de Israel. Não houve reação por parte do premiê de Israel, Ariel Sharon.
Após a ameaça, Yassin, que é tetraplégico, apareceu em público, percorrendo, em cadeira de rodas, o caminho entre a sua casa e uma mesquita, na Cidade de Gaza. "Digo a eles que não tememos ameaças de morte. Nós buscamos o martírio", disse. "Não cederemos à pressão, a resistência continuará até que a ocupação [israelense] seja destruída", afirmou.
Israel afirma que a perseguição e a morte de líderes terroristas são ações em legítima defesa, rejeitando apelos internacionais contra esse tipo de ação.
"A União Européia já se manifestou contra os chamados assassinatos extrajudiciais de suspeitos de terrorismo", afirmou Diego Ojeda, porta-voz da UE.
Em Washington, o porta-voz do Departamento de Estado, Richard Boucher, disse que Israel tem o direito de se defender, mas deve considerar as consequências de suas ações.
"Uma escalada da política israelense de assassinatos levará a um aprofundamento do ciclo de violência", afirmou o palestino Saeb Erekat, liderança moderada da Autoridade Nacional Palestina.
Yassin, 65, fundou o Hamas em 1987. Ele é considerado seu líder religioso e político, mas busca se distanciar do braço militar da organização. Passou anos detido por Israel e, em setembro último, escapou, com um ferimento na mão, ao bombardeio de um prédio em que se encontrava.
Segundo funcionários de inteligência israelenses, o xeque teria aprovado pessoalmente o atentado da última quarta-feira. Também teria emitido um decreto religioso autorizando mulheres a realizar atentados suicidas. Anteriormente, o Hamas recrutava apenas homens-bombas.
Na quarta-feira, após o ataque terrorista, autoridades israelenses se reuniram e, segundo fontes, decidiram retomar a perseguição a líderes do Hamas, após um período de relativa trégua.
No ano passado, Israel lançou uma série de ataques contra líderes do Hamas e de outros grupos terroristas, em geral alvejando seus carros com mísseis disparados de helicópteros. Em alguns casos, civis foram atingidos.
Israel tem uma longa história de perseguição a palestinos acusados de envolvimento em ataques contra o país. Nos anos 1970 e 1980, agentes israelenses perseguiram e mataram responsáveis pelo sequestro de atletas israelenses na Olimpíada de Munique (1972).


Com agências internacionais

Próximo Texto: Exército: Argentina investiga tortura de recrutas
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.