São Paulo, sábado, 17 de janeiro de 2004

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EXÉRCITO

Há registros de 1986 a 1994

Argentina investiga tortura de recrutas

CAROLINA VILA-NOVA
DE BUENOS AIRES

O governo argentino vai investigar denúncias de práticas de tortura em programas de treinamento de comandos militares no país, que teriam ocorrido entre 1986 e 1994, entre os governos Raúl Alfonsín e Carlos Menem, a partir de fotos de alto impacto divulgadas anteontem pelas Mães da Praça de Maio, ONG de defesa dos direitos humanos.
As fotos mostram um campo com prisioneiros sem roupas e encapuzados e pessoas de pés e mãos atados sendo submetidas a tratamentos vexaminosos e degradantes, como choques com aparelhos elétricos usados para conduzir gado.
O chefe do Exército, tenente-general Roberto Bendini, confirmou a autenticidade das fotos.
Segundo um comunicado do Ministério da Defesa, elas foram tiradas durante um curso de comandos do Exército em 1986, numa guarnição de Córdoba.
O tema "preocupa muitíssimo" o governo. "São de 1986 e seguiram até 1994, uma década depois do retorno da democracia", disse Alberto Fernández, chefe-de-gabinete do presidente Néstor Kirchner.
Segundo relatos feitos a diários argentinos, outra forma de tortura utilizada era deixar o "prisioneiro" submerso em um poço com água até o pescoço por vários dias. Os que não agüentavam o tratamento eram desligados do curso.

"Tormentos"
O ministro da Defesa, José Pampurro, afirmou que esse tipo de "adestramento", chamado de "campo de prisioneiros", deixou de ser aplicado no país em 1994. Ele criticou "a metodologia de tormentos físicos, que não ajuda na formação dos quadros".
O governo afirmou que ontem já haviam sido identificados os militares que aparecem nas fotos. Segundo o Exército, algumas dessas pessoas permanecem em atividade, mas fontes citadas pelo diário "Clarín" descartaram sanções, alegando não haver delito e que aquele tipo de treinamento havia sido comum por muito tempo.
No entanto organismos de direitos humanos cobraram punições para os responsáveis pelos cursos e questionaram a responsabilidade de Alfonsín e Menem.
Ontem, Alfonsín disse que desconhecia as práticas de tortura nos treinamentos do Exército. "Eu não sabia de nada, é a primeira notícia que tenho", disse o ex-presidente à agência Télam. "Estou seguro de que o chefe de Estado-Maior naquele momento não poderia estar a par disso", afirmou Alfonsín. Menem não se pronunciou.


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