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EXÉRCITO
Há registros de 1986 a 1994
Argentina investiga tortura de recrutas
CAROLINA VILA-NOVA
DE BUENOS AIRES
O governo argentino vai investigar denúncias de práticas de tortura em programas de treinamento de comandos militares no país,
que teriam ocorrido entre 1986 e
1994, entre os governos Raúl Alfonsín e Carlos Menem, a partir
de fotos de alto impacto divulgadas anteontem pelas Mães da Praça de Maio, ONG de defesa dos direitos humanos.
As fotos mostram um campo
com prisioneiros sem roupas e
encapuzados e pessoas de pés e
mãos atados sendo submetidas a
tratamentos vexaminosos e degradantes, como choques com
aparelhos elétricos usados para
conduzir gado.
O chefe do Exército, tenente-general Roberto Bendini, confirmou a autenticidade das fotos.
Segundo um comunicado do
Ministério da Defesa, elas foram
tiradas durante um curso de comandos do Exército em 1986, numa guarnição de Córdoba.
O tema "preocupa muitíssimo"
o governo. "São de 1986 e seguiram até 1994, uma década depois
do retorno da democracia", disse
Alberto Fernández, chefe-de-gabinete do presidente Néstor
Kirchner.
Segundo relatos feitos a diários
argentinos, outra forma de tortura utilizada era deixar o "prisioneiro" submerso em um poço
com água até o pescoço por vários
dias. Os que não agüentavam o
tratamento eram desligados do
curso.
"Tormentos"
O ministro da Defesa, José Pampurro, afirmou que esse tipo de
"adestramento", chamado de
"campo de prisioneiros", deixou
de ser aplicado no país em 1994.
Ele criticou "a metodologia de
tormentos físicos, que não ajuda
na formação dos quadros".
O governo afirmou que ontem
já haviam sido identificados os
militares que aparecem nas fotos.
Segundo o Exército, algumas dessas pessoas permanecem em atividade, mas fontes citadas pelo
diário "Clarín" descartaram sanções, alegando não haver delito e
que aquele tipo de treinamento
havia sido comum por muito
tempo.
No entanto organismos de direitos humanos cobraram punições para os responsáveis pelos
cursos e questionaram a responsabilidade de Alfonsín e Menem.
Ontem, Alfonsín disse que desconhecia as práticas de tortura
nos treinamentos do Exército.
"Eu não sabia de nada, é a primeira notícia que tenho", disse o ex-presidente à agência Télam. "Estou seguro de que o chefe de Estado-Maior naquele momento não
poderia estar a par disso", afirmou Alfonsín. Menem não se
pronunciou.
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