São Paulo, segunda-feira, 17 de janeiro de 2005

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"CRIME ARQUEOLÓGICO"

Museu Britânico acusa militares de esmagar tijolos de 2.600 anos e usar relíquias para fazer trincheiras

Tropas danificam Babilônia, diz relatório

DA REDAÇÃO

Forças militares lideradas pelos Estados Unidos estão cometendo verdadeiros "crimes arqueológicos" no Iraque. A acusação é do Museu Britânico, que acaba de divulgar um relatório sobre a situação na Babilônia.
De acordo com o relatório, tanques esmagaram parte da pavimentação da cidade, feita com tijolos de 2.600 anos, e soldados usaram o solo rico em fragmentos arqueológicos para encher sacos de areia. Babilônia está sob os cuidados do destacamento polonês, que nega ter provocado estragos.
Um porta-voz do Ministério da Defesa da Polônia, coronel Piotr Pertek, disse que as tropas polonesas são acompanhadas por arqueólogos e por autoridades iraquianas. "Nem os poloneses nem soldados de nenhum outro país sob comando da força internacional liderada pela Polônia jamais desempenharam tarefas que arruinariam os monumentos", afirmou o coronel, em Varsóvia.
Embora também negasse a responsabilidade de suas tropas, o porta-voz militar da Polônia no Iraque, Artur Domanski, disse que a presença de tropas estrangeiras no sítio arqueológico "tem uma influência negativa".
O estudo do Museu Britânico, assinado por John Curtis, curador do Departamento de Oriente Médio da instituição, traz descrições detalhadas dos estragos. Segundo ele, imagens de dragões nos tijolos que compõem as fundações da famosa Porta de Ishtar foram danificadas por alguém que tentou arrancá-las à força.
Curtis também diz que foram cavadas trincheiras no local em que existiam depósitos. Fragmentos arqueológicos ficaram espalhados pelo local, incluindo tabletes de barro com o selo de Nabucodonosor (c. 1119 a.C.-1098 a.C.)
"Isso é o mesmo que estabelecer um acampamento militar em torno da Grande Pirâmide, no Egito", escreveu o arqueólogo.
Curtis, que foi convidado pelos iraquianos para estudar o sítio, também descobriu que grandes quantidades de areia misturada com fragmentos arqueológicos foram retiradas do local para encher sacos para uso militar.
Domanski, o porta-voz militar dos poloneses no Iraque, tem um diagnóstico menos catastrófico. Concordou que um levantamento fotográfico revelou a falta de certas peças arqueológicas. Mas negou que soldados de seu país fossem responsáveis.
O ministro da Cultura do Iraque, Mufid al Jazairi, concorda com a versão de Curtis. Disse que tropas da coalizão na Babilônia usam "veículos blindados e helicópteros que levantam e pousam livremente". Além disso, as forças também ergueram instalações e promoveram outras mudanças. "Minha expectativa é a de que o sítio arqueológico da Babilônia tenha sofrido danos generalizados, mas eu não sei exatamente o tamanho dos estragos."
Os remanescentes da Babilônia, um dos sítios arqueológicos mais importantes do mundo, foram ocupados desde os primeiros dias da invasão pelos marines norte-americanos. Mais recentemente, estão sob controle polonês. Ficam a 88 km ao sul de Bagdá.
Os sítios mais importantes, a Porta de Ishtar e as ruínas dos palácio de Nabucodonosor, ficam em uma área separada do perímetro do acampamento. Ela é controlada por iraquianos. Visitantes pagantes são admitidos.
Militares norte-americanos disseram que todas as movimentações de terra foram interrompidas e que pensam em enviar tropas para proteger as ruínas.
Em seu relatório, Curtis admite que, inicialmente, a presença de tropas serviu para inibir saqueadores, mas o trabalho subseqüente trouxe importantes danos, como a decisão de cobrir vastas áreas do sítio com pedras trazidas de outras áreas para fazer estacionamentos e bases de pouso e vazamento de combustível perto do anfiteatro grego.
Por mais de mil anos, a Babilônia foi uma das cidades mais importantes do mundo. Nela, Nabucodonosor 2º (c. 605 a.C.-561 a.C.) mandou construir os Jardins Suspensos, uma das Sete Maravilhas do Mundo. Ela começou a declinar depois que foi conquistada pelos persas, sob Ciro, o Grande, por volta de 538 a.C.


Com agências internacionais


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