São Paulo, sábado, 17 de janeiro de 2009

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SOB NOVA DIREÇÃO / PROMESSAS E SACRIFÍCIOS

Obama proporá "grande acordo" em seu governo

Presidente eleito, que inicia viagem de trem hoje, trabalha em três versões de discurso

Em visita a fábrica em Ohio, um dos Estados que mais sofre com a crise, ele diz que "não é tarde demais para mudar o rumo" do país

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

O presidente eleito dos EUA, Barack Obama, trabalha com três versões do discurso que fará na cerimônia de posse nesta terça. A unir os três esboços, segundo assessores, estão referências ao antecessor Abraham Lincoln (1809-65), a quem tem como paradigma político, e um chamado à sociedade americana para um "grande acordo".
O acordo, segundo mostra dada em entrevistas do democrata ao longo da última semana, é a sua versão, atualizada, do que foi o conjunto de ações batizado de "New Deal" (novo acordo) de Franklin D. Roosevelt nos anos 30 e o mote do discurso de posse de John F. Kennedy em 1960, "não pergunte o que o seu país pode fazer por você, mas o que você pode fazer por seu país".
Como Kennedy (1917-63), Obama pretende pedir sacrifício à população. Dirá que o deterioramento da situação econômica entre sua eleição e a posse impedirá que todas as promessas de campanha sejam cumpridas. Em troca, como Roosevelt (1882-1945), oferecerá um conjunto de medidas para recuperação da economia que exigirão a reforma de vários setores ineficientes.
O comando de transição não dá detalhes do texto, por razões óbvias. "O discurso vai descrever o momento em que nós estamos e a disposição exigida para sairmos desta crise ainda mais fortes e unidos do que antes", é tudo o que declarou a porta-voz Jen Psaki. Sabe-se que somente Obama, seu redator oficial de discursos, Jon Favreau, e o assessor sênior David Axelrod lidam com o texto. E que a filha mais velha dos Obama, Malia, 10, disse ao pai: "É o primeiro de um afroamericano. Melhor ser bom".
Em suas falas recentes, no entanto, Obama vem "testando as águas" com conceitos e ideias. Fez isso na visita que fez ontem a uma fábrica no subúrbio de Cleveland, em Ohio, um dos Estados mais atingidos pela crise econômica, que perdeu 25% dos postos de trabalho na indústria durante a Era Bush.
"Não é tarde demais para mudarmos o rumo, mas só se tomarmos ações drásticas o mais rápido possível", disse o eleito a operários na fábrica de componentes de turbinas eólicas. "O futuro deste país não pode mais repisar na velha maneira de se fazer as coisas."

Trem da posse
Quanto a Lincoln, o republicano que uniu o país e acabou com a escravidão já é onipresente nas diversas celebrações que culminarão na posse. Na manhã de hoje, por exemplo, Obama refaz parte do trajeto de trem que o 16º presidente fez ao vir de Illinois para a capital americana para assumir o governo. O último a fazer isso foi Dwight Eisenhower, em 1953.
Na versão 2008, Obama, a futura primeira-dama, Michelle, e as duas filhas partem da estação da rua 30, em Filadélfia, na Pensilvânia, param em Wilmington, Delaware, berço político do futuro vice, Joe Biden, que embarca com a mulher e família. A acompanhá-los, dez "americanos comuns" escolhidos em sorteio entre 250 mil que se inscreveram.
Todos seguem então para Baltimore, em Maryland, e à Union Station de Washington, aonde chegam perto das 19h (22h de Brasília), para o primeiro de dezenas de eventos oficiais na capital. Na noite de ontem, dada a procura por ingressos nas três cidades onde haverá paradas, foram criados "eventos marcha-lenta" em duas outras cidades, em que o trem só reduzirá a velocidade.
Ontem, ainda, funcionários da Casa Branca esvaziavam as gavetas e entregavam seus laptops, celulares, chaves, crachás e passes eletrônicos para o Serviço Secreto. Por conta do feriado de segunda, Dia de Martin Luther King, ontem foi o último dia útil do governo de George W. Bush.


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