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SOB NOVA DIREÇÃO / PROMESSAS E SACRIFÍCIOS
Obama proporá "grande acordo" em seu governo
Presidente eleito, que inicia viagem de trem hoje, trabalha em três versões de discurso
Em visita a fábrica em Ohio, um dos Estados que mais sofre com a crise, ele diz que "não é tarde demais para mudar o rumo" do país
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
O presidente eleito dos EUA,
Barack Obama, trabalha com
três versões do discurso que fará na cerimônia de posse nesta
terça. A unir os três esboços, segundo assessores, estão referências ao antecessor Abraham
Lincoln (1809-65), a quem tem
como paradigma político, e um
chamado à sociedade americana para um "grande acordo".
O acordo, segundo mostra
dada em entrevistas do democrata ao longo da última semana, é a sua versão, atualizada,
do que foi o conjunto de ações
batizado de "New Deal" (novo
acordo) de Franklin D. Roosevelt nos anos 30 e o mote do
discurso de posse de John F.
Kennedy em 1960, "não pergunte o que o seu país pode fazer por você, mas o que você
pode fazer por seu país".
Como Kennedy (1917-63),
Obama pretende pedir sacrifício à população. Dirá que o deterioramento da situação econômica entre sua eleição e a
posse impedirá que todas as
promessas de campanha sejam
cumpridas. Em troca, como
Roosevelt (1882-1945), oferecerá um conjunto de medidas
para recuperação da economia
que exigirão a reforma de vários setores ineficientes.
O comando de transição não
dá detalhes do texto, por razões
óbvias. "O discurso vai descrever o momento em que nós estamos e a disposição exigida para sairmos desta crise ainda
mais fortes e unidos do que antes", é tudo o que declarou a
porta-voz Jen Psaki. Sabe-se
que somente Obama, seu redator oficial de discursos, Jon Favreau, e o assessor sênior David
Axelrod lidam com o texto. E
que a filha mais velha dos Obama, Malia, 10, disse ao pai: "É o
primeiro de um afroamericano.
Melhor ser bom".
Em suas falas recentes, no
entanto, Obama vem "testando
as águas" com conceitos e
ideias. Fez isso na visita que fez
ontem a uma fábrica no subúrbio de Cleveland, em Ohio, um
dos Estados mais atingidos pela
crise econômica, que perdeu
25% dos postos de trabalho na
indústria durante a Era Bush.
"Não é tarde demais para
mudarmos o rumo, mas só se
tomarmos ações drásticas o
mais rápido possível", disse o
eleito a operários na fábrica de
componentes de turbinas eólicas. "O futuro deste país não
pode mais repisar na velha maneira de se fazer as coisas."
Trem da posse
Quanto a Lincoln, o republicano que uniu o país e acabou
com a escravidão já é onipresente nas diversas celebrações
que culminarão na posse. Na
manhã de hoje, por exemplo,
Obama refaz parte do trajeto de
trem que o 16º presidente fez
ao vir de Illinois para a capital
americana para assumir o governo. O último a fazer isso foi
Dwight Eisenhower, em 1953.
Na versão 2008, Obama, a futura primeira-dama, Michelle,
e as duas filhas partem da estação da rua 30, em Filadélfia, na
Pensilvânia, param em Wilmington, Delaware, berço político do futuro vice, Joe Biden,
que embarca com a mulher e
família. A acompanhá-los, dez
"americanos comuns" escolhidos em sorteio entre 250 mil
que se inscreveram.
Todos seguem então para
Baltimore, em Maryland, e à
Union Station de Washington,
aonde chegam perto das 19h
(22h de Brasília), para o primeiro de dezenas de eventos
oficiais na capital. Na noite de
ontem, dada a procura por ingressos nas três cidades onde
haverá paradas, foram criados
"eventos marcha-lenta" em
duas outras cidades, em que o
trem só reduzirá a velocidade.
Ontem, ainda, funcionários
da Casa Branca esvaziavam as
gavetas e entregavam seus laptops, celulares, chaves, crachás
e passes eletrônicos para o Serviço Secreto. Por conta do feriado de segunda, Dia de Martin Luther King, ontem foi o último dia útil do governo de
George W. Bush.
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