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HAITI EM RUÍNAS
"Cada um de nós viveu seu drama individual", diz coronel brasileiro
COMANDANTE do Batalhão de Infantaria de
Força de Paz (Brabatt, na sigla em inglês),
o coronel gaúcho João Batista Carvalho
Bernardes perdeu 13 de seus 1.048 militares -mais do que o triplo de todas as baixas desde o
início da missão no Haiti, em 2004. O terremoto ainda
destruiu as instalações de duas bases destacadas, ambas com capacidade para 130 homens, e dois pontos
fortes, que abrigavam um pelotão cada.
Carlos Garcia Rawlin/Reuters
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Mulher reza e chora nas ruas devastadas de Porto Príncipe após terremoto de terça
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A PORTO PRÍNCIPE
Comandante do Batalhão de
Infantaria de Força de Paz
(Brabatt, na sigla em inglês), o
coronel gaúcho João Batista
Carvalho Bernardes perdeu 13
de seus 1.048 militares -mais
do que o triplo de todas as baixas desde o início da missão no
Haiti, em 2004. O terremoto
ainda destruiu as instalações de
duas bases destacadas, ambas
com capacidade para 130 homens, e dois pontos fortes, que
abrigavam um pelotão cada.
Além disso, 16 feridos voltaram ao Brasil. Apesar das perdas humanas e materiais, Bernardes assegura, nesta entrevista à Folha, que a Minustah
(missão de paz da ONU), que
tem o comando militar do general brasileiro Floriano Peixoto, terá condições de coordenar o trabalho humanitário,
que em breve deverá ter o reforço de 10 mil militares enviados pelos Estados Unidos.
O Brabatt é o maior contingente brasileiro no Haiti, que
ainda tem uma companhia de
engenharia de 250 homens,
com comando próprio.
FOLHA - Na terça, o sr. disse que as
prioridades eram água, hospital e logística. Como está a situação?
CORONEL JOÃO BATISTA CARVALHO
BERNARDES - Essas coisas agora
começam a ser bem delineadas.
Vamos estabelecer pontos de
entrega de alimentos, que vão
começar agora a fluir para a população haitiana.
FOLHA - Essa ajuda é suficiente para evitar saques e violência?
BERNARDES - Exatamente. O importante é que essa alimentação chegue para que essas pessoas normalizem as suas vidas
ou pelo menos saiam desse estado de ansiedade e dúvidas sobre o futuro. É o que a gente
sentiu passeando por Bel Air
[favela da região central], essa
dificuldade de as pessoas poderem reorganizar as suas vidas.
Muitas perderam tudo o que tinham, e elas precisam ter esse
apoio imediato para começar a
raciocinar de novo.
FOLHA - O número de baixas militares brasileiras foi o maior em vários anos. Como isso afetou a tropa
sob seu comando?
BERNARDES - Diria que o batalhão reagiu muito bem, acima
do esperado. Nós nos preparamos para cenários realmente
catastróficos. Quando viemos
para cá, sabíamos que o país é
sujeito a catástrofes. A tropa está reconstituída e está levando
a missão da melhor maneira
possível.
FOLHA - O governo americano
anunciou o envio de 10 mil militares
ao Haiti. Como funcionará a coordenação dos trabalhos?
BERNARDES - A notícia que nós
temos, passada pelo comando
da Minustah, é que esse número não seria tão alto e que os
americanos estariam voltados
basicamente para a ajuda humanitária. Mesmo assim, em
coordenação com a Minustah.
Será a Minustah que coordenará esse apoio dos americanos
aqui na área. Existe uma missão da ONU aqui no Haiti, e é
essa missão que terá a coordenação geral das ações.
FOLHA - Com relação à parte civil, a
Minustah já está recomposta?
BERNARDES - Temos um novo
representante do secretário-geral, [o guatemalteco] Edmond Mulet. Ele está com os
principais postos sob seu comando reconstituídos. Eu diria
até que já adiantou muito. A
coordenação já existe.
FOLHA - O rodízio dos militares foi
adiado?
BERNARDES - A ideia do Brasil, já
transmitida, é a de que o reinício do rodízio seja empurrado
para o dia 20 [quarta-feira].
Mas isso depende muito das
condições do aeroporto local,
porque o acesso por enquanto
está muito difícil.
FOLHA - Do que o sr. viu, o que o
impressionou mais?
BERNARDES - Essa foi realmente
uma tragédia para a qual nós
nunca poderemos dizer que estamos totalmente preparados.
Cada um de nós viveu dramas
individuais, muitas histórias
que nos foram contadas e nos
sensibilizaram muito.
O que nós desejamos realmente é transmitir as condolências a todas as famílias. Lamentamos profundamente ter
de devolver os filhos das famílias dessa forma. Mas essas coisas fogem do controle do ser
humano. Nós pedimos a compreensão de todos os familiares
e nos solidarizamos nesse momento de dor das famílias e
também do batalhão.
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