São Paulo, domingo, 17 de janeiro de 2010

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HAITI EM RUÍNAS

"Cada um de nós viveu seu drama individual", diz coronel brasileiro

COMANDANTE do Batalhão de Infantaria de Força de Paz (Brabatt, na sigla em inglês), o coronel gaúcho João Batista Carvalho Bernardes perdeu 13 de seus 1.048 militares -mais do que o triplo de todas as baixas desde o início da missão no Haiti, em 2004. O terremoto ainda destruiu as instalações de duas bases destacadas, ambas com capacidade para 130 homens, e dois pontos fortes, que abrigavam um pelotão cada.

Carlos Garcia Rawlin/Reuters
Mulher reza e chora nas ruas devastadas de Porto Príncipe após terremoto de terça

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A PORTO PRÍNCIPE

Comandante do Batalhão de Infantaria de Força de Paz (Brabatt, na sigla em inglês), o coronel gaúcho João Batista Carvalho Bernardes perdeu 13 de seus 1.048 militares -mais do que o triplo de todas as baixas desde o início da missão no Haiti, em 2004. O terremoto ainda destruiu as instalações de duas bases destacadas, ambas com capacidade para 130 homens, e dois pontos fortes, que abrigavam um pelotão cada.
Além disso, 16 feridos voltaram ao Brasil. Apesar das perdas humanas e materiais, Bernardes assegura, nesta entrevista à Folha, que a Minustah (missão de paz da ONU), que tem o comando militar do general brasileiro Floriano Peixoto, terá condições de coordenar o trabalho humanitário, que em breve deverá ter o reforço de 10 mil militares enviados pelos Estados Unidos. O Brabatt é o maior contingente brasileiro no Haiti, que ainda tem uma companhia de engenharia de 250 homens, com comando próprio.

 

FOLHA - Na terça, o sr. disse que as prioridades eram água, hospital e logística. Como está a situação?
CORONEL JOÃO BATISTA CARVALHO BERNARDES
- Essas coisas agora começam a ser bem delineadas. Vamos estabelecer pontos de entrega de alimentos, que vão começar agora a fluir para a população haitiana.

FOLHA - Essa ajuda é suficiente para evitar saques e violência?
BERNARDES
- Exatamente. O importante é que essa alimentação chegue para que essas pessoas normalizem as suas vidas ou pelo menos saiam desse estado de ansiedade e dúvidas sobre o futuro. É o que a gente sentiu passeando por Bel Air [favela da região central], essa dificuldade de as pessoas poderem reorganizar as suas vidas. Muitas perderam tudo o que tinham, e elas precisam ter esse apoio imediato para começar a raciocinar de novo.

FOLHA - O número de baixas militares brasileiras foi o maior em vários anos. Como isso afetou a tropa sob seu comando?
BERNARDES
- Diria que o batalhão reagiu muito bem, acima do esperado. Nós nos preparamos para cenários realmente catastróficos. Quando viemos para cá, sabíamos que o país é sujeito a catástrofes. A tropa está reconstituída e está levando a missão da melhor maneira possível.

FOLHA - O governo americano anunciou o envio de 10 mil militares ao Haiti. Como funcionará a coordenação dos trabalhos?
BERNARDES
- A notícia que nós temos, passada pelo comando da Minustah, é que esse número não seria tão alto e que os americanos estariam voltados basicamente para a ajuda humanitária. Mesmo assim, em coordenação com a Minustah. Será a Minustah que coordenará esse apoio dos americanos aqui na área. Existe uma missão da ONU aqui no Haiti, e é essa missão que terá a coordenação geral das ações.

FOLHA - Com relação à parte civil, a Minustah já está recomposta?
BERNARDES
- Temos um novo representante do secretário-geral, [o guatemalteco] Edmond Mulet. Ele está com os principais postos sob seu comando reconstituídos. Eu diria até que já adiantou muito. A coordenação já existe.

FOLHA - O rodízio dos militares foi adiado?
BERNARDES
- A ideia do Brasil, já transmitida, é a de que o reinício do rodízio seja empurrado para o dia 20 [quarta-feira]. Mas isso depende muito das condições do aeroporto local, porque o acesso por enquanto está muito difícil.

FOLHA - Do que o sr. viu, o que o impressionou mais?
BERNARDES
- Essa foi realmente uma tragédia para a qual nós nunca poderemos dizer que estamos totalmente preparados. Cada um de nós viveu dramas individuais, muitas histórias que nos foram contadas e nos sensibilizaram muito.
O que nós desejamos realmente é transmitir as condolências a todas as famílias. Lamentamos profundamente ter de devolver os filhos das famílias dessa forma. Mas essas coisas fogem do controle do ser humano. Nós pedimos a compreensão de todos os familiares e nos solidarizamos nesse momento de dor das famílias e também do batalhão.


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