São Paulo, domingo, 17 de janeiro de 2010

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HAITI EM RUÍNAS

Exército continua mais cinco anos no Haiti, afirma Jobim

Ministro diz que é "impossível" saída antes desse prazo e defende que Minustah se volte para a reconstrução do país

Ministério da Defesa admite a possibilidade de aumentar o número de militares do Brasil no país caribenho, atualmente de 1.266 homens


ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO
FÁBIO ZANINI
HUDSON CORRÊA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A destruição no Haiti deve manter por no mínimo mais cinco anos a presença de tropas brasileiras no país, afirmou ontem o ministro da Defesa, Nelson Jobim. Para ele, a Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti) precisa ter seu orçamento e foco de ação ampliados para manter a paz no local.
Ele considera "impossível" a saída antes desse prazo.
Jobim reivindicou ainda que a gerência dos recursos obtidos com doações seja entregue à missão. "[A ajuda] tem de ser multilateral, conduzida e coordenada por autoridades haitianas e da Minustah."
O ministro disse que pediu ao presidente do Haiti, René Préval, que definisse uma autoridade para coordenar o uso e o pedido de ajuda e doações. Jobim defende que a Minustah participe do planejamento.
"Senão chegam todos esses auxílios individualizados que acabam se sobrepondo e sendo inúteis. Ouvimos falar em não sei quanto de doações para o Haiti. Acontece que isso nunca aparece ou aparece com muita dificuldade, porque os haitianos não têm gestores. Essa gestão deve ser feita via ONU. Não pode ser feita exclusivamente por ONGs, mas também por quem tem condição de reconstruir o país", afirmou.
O ministro disse que a manutenção da paz no Haiti depende da ampliação do mandato da Minustah. O atual concedido pela ONU encerra-se em 2011.
Atualmente, o orçamento da tropa só pode ser gasto em ações para manutenção da ordem. Obras civis como pontes e reformas só são autorizadas caso sejam necessárias para deslocamento e uso da tropa.
Jobim afirmou que vai sugerir esta semana ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao chanceler Celso Amorim a ampliação desse foco. "A manutenção da paz depende da reconstrução do país. Precisamos caminhar para a possibilidade de termos uma atividade real."

Mais soldados
Um dia após o anúncio pelo governo americano do envio de 10 mil militares ao Haiti -atitude chamada de "unilateral" pelo Brasil-, o Ministério da Defesa confirmou que está planejando também aumentar o efetivo brasileiro da Minustah, atualmente de 1.266 homens.
"Com relação ao incremento da força militar, a Defesa trabalha com essa possibilidade. Estamos nos planejando para a ocorrência desse evento", afirmou o contra-almirante Paulo Zuccaro, representante da Defesa no grupo montado pelo governo para coordenar a resposta ao terremoto.
Ele não quis adiantar o número de militares e quando eles poderiam ser enviados. "Vai depender muito do que a situação exigir no terreno, das informações que vamos continuar recebendo nos próximos dias."
Zuccaro falou à imprensa após reunião do grupo de crise, ao lado do ministro Jorge Felix (Gabinete de Segurança Institucional), e do embaixador Antônio Simões, do Itamaraty.
O Brabatt (Comando do Batalhão Brasileiro) no Haiti intensificou as patrulhas em Porto Príncipe para evitar violência, diz nota do Exército divulgada ontem.
Segundo o Brabatt, 800 homens estão nas ruas para evitar que a falta de segurança se agrave. Há saques a supermercados, e presos escaparam da cadeia na capital. Na operação, não está descartado o uso de armas letais.

Ajuda
Além da segurança, há preocupação com alimentação e medicamentos. Um avião da FAB decolou ontem da base aérea do Galeão, no Rio, levando 5,3 toneladas de medicamentos, 3,1 de mantimentos, 8,8 de fardamento, roupas de cama e 20 barracas.
A missão ainda levou 18 caixões para trazer os corpos dos militares brasileiros mortos. Há 14 com morte confirmada e quatro desaparecidos. Os corpos devem chegar ao Brasil nos próximos dias.
A FAB informou ontem que, desde o terremoto, oito aviões já pousaram em Porto Príncipe levando 140 passageiros e mais de 80 toneladas de medicamentos, alimentos e suprimentos para o Exército.


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