São Paulo, domingo, 17 de fevereiro de 2008

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Única solução para crise política é saída de Musharraf, diz líder do movimento

DO ENVIADO ESPECIAL AO PAQUISTÃO

A única saída para a crise política do Paquistão é a volta do Exército aos quartéis e a ida de Pervez Musharraf para casa, com a restauração da independência do Judiciário. Do contrário, o país irá entrar em colapso institucional, e a greve dos advogados será peça central do enredo. A avaliação é de um dos líderes nacionais do movimento dos advogados, Mohammad Ikram Chaudhry, 60 anos e 33 de profissão. Ele é o vice-presidente da Associação dos Advogados da Suprema Corte, o equivalente paquistanês ao Conselho Federal da OAB. Um dos criminalistas mais respeitados do país, nacionalista à moda antiga, ele falou à Folha. Leia os principais trechos: (IG)

 

FOLHA - Por que a crise com o Executivo chegou a esse ponto?
MOHAMMAD IKRAM CHAUDHRY -
Porque Musharraf é um criminoso, e tem sido criminoso desde que tomou o poder. Desde 3 de março de 2007 [quando removeu pela primeira vez o presidente do Supremo do cargo], estamos em guerra para salvar o Paquistão. Se o Exército não voltar aos quartéis e sair da vida civil, se Musharraf não for eliminado da cena política, o país corre o risco de se esfacelar.

FOLHA - Mas esse sempre foi o discurso dos opositores da política pró-EUA, e até aqui não parece haver real risco de desintegração.
CHAUDHRY -
Sim, mas a coisa está piorando, pergunte a qualquer um: todos são contra a política pró-EUA de Musharraf. Ela está tirando vidas de nossos conterrâneos. Mas não estou falando de tribos. Falo do sistema judiciário, que quebrou. Um país não vive sem Justiça.

FOLHA - E a greve ajuda?
CHAUDHRY -
A greve é um extremo. Quando ela foi discutida pela primeira vez, eu fui contra. Fui vencido no consenso, e hoje estou convencido de que é um instrumento radical para mostrar a força de nossa vontade.

FOLHA - O cidadão comum não é prejudicado?
CHAUDHRY -
Sim. Mas é o preço a pagar, um sacrifício pela nação. Além do mais, isso afeta mais os ricos, que têm urgência.

FOLHA - A greve dura quanto mais?
CHAUDHRY -
No dia seguinte às eleições, vamos nos reunir. Espero que com boas notícias, para colocar o país nos trilhos.

FOLHA - O sr. vota em quem?
CHAUDHRY -
Eu não voto para não ferir suscetibilidades, mas aqui em Rawalpindi eu apoiaria o partido de Nawaz Sharif.

FOLHA - Teme ser morto?
CHAUDHRY -
Não. Minha mulher sofreu um atentado e escapou. Minha nora foi seqüestrada com o bebê. Já recebi ofertas do governo para parar. Meus três filhos moram comigo, sem seguranças. E assim vai ser.


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