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Ataque mata 37 na véspera de eleição paquistanesa
Explosão atinge escritório eleitoral e reacende temores de uma série de atentados
Eleições legislativas de amanhã são tidas como as mais importantes desde 1970; sustentação do regime é questionada
DO ENVIADO ESPECIAL
Pelo menos 37 pessoas morreram ontem em um atentado
contra um escritório eleitoral
do PPP (Partido do Povo Paquistanês), naquilo que o governo teme possa vir a ser uma
série de ataques visando desestabilizar a eleição parlamentar
de amanhã.
A explosão, que segundo o
Ministério do Interior foi provocada por um carro-bomba,
ocorreu na cidade de Parachinar (norte do país). Haveria, segundo a TV paquistanesa
Dawn, pelo menos 50 feridos.
A região é conhecida pela atividade de extremistas islâmicos, que vêm boicotando o pleito e que são acusados pelo governo pelo assassinato da ex-premiê Benazir Bhutto, em dezembro. O partido de Benazir,
contudo, lança suspeitas sobre
agências do próprio governo.
Foi o primeiro grande ataque
em uma semana. Antes, dois
atentados haviam deixado 35
mortos entre o sábado retrasado e a segunda-feira.
Descrito com certa propriedade pela revista "The Economist" como o "lugar mais perigoso do mundo", o Paquistão
realizará as eleições parlamentares mais importantes e temerárias desde 1970.
Naquele ano, a disputa feroz
entre um partido político do
então Paquistão Oriental e o
PPP, dos Bhutto, majoritário
no território ocidental, levou a
uma crise que culminou na independência de Bangladesh no
ano seguinte.
Só que desta vez a situação é
ainda mais complexa. O Paquistão tornou-se um colosso
islâmico com 160 milhões de
pessoas, metade delas com menos de 18 anos e um quarto na
miséria. Infectado pelo vírus do
extremismo, que se mescla
com aspirações de soberania
legítimas, o país de quebra tem
que salvaguardar pelo menos
50 ogivas nucleares.
A chave da situação está com
Pervez Musharraf, 64. General
e comandante da Forças Armadas, teve de deixar o posto para
permanecer apenas como presidente do país, ditador para
seus críticos -embora o Paquistão não seja uma ditadura
clássica por haver elementos
como imprensa relativamente
livre e oposição organizada.
Para analistas da cena política paquistanesa ouvidos pela
Folha, a eleição é uma derrota
para Musharraf em si própria.
"É uma situação de perder ou
perder. Ou ele manipula resultados e aí enfrentará uma explosão nas ruas e críticas do exterior ou deixa a oposição ganhar livremente e se vê ameaçado de impeachment ou ingovernabilidade", diz o general da
reserva Talaat Massud.
A rigor, o Paquistão nunca
deixou de estar em crise desde
sua criação, em 1947. O próprio
Musharraf chegou ao poder em
1999 após um golpe.
A situação de crise atual recrudesceu a partir do ano passado, quando Musharraf interveio no Judiciário e afastou a
cúpula da Suprema Corte, colocando aliados em seu lugar. Isso levou a uma quebra de confiança da classe média que recebe hoje metade da renda familiar no país devido ao crescimento econômico recente.
Isso, aliado a uma crise de
abastecimento de energia e
produção do trigo básico na
mesa dos paquistaneses mais
pobres, criou o caldo para protestos em massa e o subseqüente endurecimento do regime,
em novembro.
A partir daí, as coisas só pioraram. Instado pelos EUA, país
ao qual se aliou como linha de
frente contra o Taleban após o
11 de Setembro, transformou
áreas tribais de seu país em zonas de guerra na caça a extremistas islâmicos, algo impopular no país.
Mas o Exército ainda estava
com Musharraf, ainda que ele
tenha tido que deixar a farda.
Estava, porque nesta semana o
novo comandante, general Pervaiz Kayani, ordenou a retirada
de todos os oficiais comissionados em postos de administração civil. Embora nada indique
que Musharraf "perdeu" o
Exército, claramente está enfraquecido.
Pressionado pelos EUA,
Musharraf teve de aceitar a volta de dois líderes da oposição
exilados, Benazir e o seu arquiinimigo Nawaz Sharif (PML-N).
Tudo caminhava para um acordo quando Benazir foi morta.
As eleições de 8 de janeiro foram transferidas para amanhã.
Os atentados são a grande
preocupação do governo, que
deslocou 81 mil homens do
Exército e 47 mil paramilitares
para tentar garantir a segurança no país. Mais de mil pessoas
foram detidas nos dois últimos
dias no país. Em cidades principais, como Islamabad, há bloqueios e patrulhas armadas. A
campanha acabou ontem.
(IG)
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