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Morrem 2 dos últimos veteranos da 1ª Guerra
Ex-combatentes do confronto que enterrou a Belle Époque são hoje reduzido grupo de 15, todos com mais de 105 anos
Conflito matou 9,3 milhões de soldados; a carnificina até então inédita na história militar seria superada pela Segunda Guerra Mundial
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
Eles formam hoje um grupo
reduzidíssimo de 15 ex-soldados que combateram na Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Eram 17 no Natal. Depois
disso morreram dois: Erich
Kaestner, aos 107 anos, possivelmente o último veterano
alemão do conflito, e Louis de
Cazenave, aos 110, o penúltimo
veterano francês.
O mais velho sobrevivente é
o britânico Henry Allingham,
que está com 111 anos. O que viveu mais tempo e morreu em
janeiro do ano passado, aos 115,
foi o porto-riquenho Emiliano
Mercado del Toro.
Forças em conflito
A Primeira Guerra ocorreu
há tanto tempo que dificilmente se imagina que ainda estejam
vivos alguns de seus participantes. De um lado, havia a tríplice
aliança -Alemanha, Áustria-Hungria e Império Otomano-,
e, de outro, os aliados, sobretudo França, Reino Unido, Holanda e Bélgica, com os Estados
Unidos entrando depois. A Itália mudou de lado e terminou,
no Armistício de 11 de novembro de 1918, coligada a franceses e britânicos.
Morreram 9,3 milhões de
soldados, uma carnificina até
então inédita na história militar. Na Segunda Guerra morreram 22 milhões de militares e
30 milhões de civis, segundo
estimativas que estão sempre
sujeitas a revisão.
Na Alemanha, que perdeu as
duas guerras, não há órgão público que registre os veteranos
mais longevos do primeiro conflito. O "Der Spiegel" e o "Die
Welt" apontaram a existência
desse tabu. Manter um organismo oficial responsável pelo
acompanhamento dos sobreviventes já é problemático.
Por conta disso, é incerto que
Erich Kaestner tenha sido o último. Ele morreu em 1º de janeiro, num asilo de Colônia.
Foi juiz de direito em Hanover.
Combateu como soldado de infantaria nos quatro últimos
meses do conflito.
Sobre o francês Louis de Cazenave sabe-se bem mais coisas. Em 1917 ele foi um dos sobreviventes da segunda batalha
de Aisne, onde só no primeiro
dia tombaram sob fogo alemão
40 mil companheiros de farda.
Trabalhou e se aposentou como ferroviário. Definia-se como pacifista. "A guerra é uma
coisa absurda, inútil", disse em
2005 ao "Le Monde".
Morreu no dia 20 de janeiro.
O presidente Nicolas Sarkozy
enviou mensagem à família. O
"Le Figaro" dedicou a ele imensa reportagem.
Herói franco-italiano
Mas a França reserva "funerais nacionais" -a promessa foi
feita há anos pelo então presidente Jacques Chirac- para
seu último veterano.
Será Lazare Ponticelli, que
está hoje com 110 anos e é o
derradeiro "poilu" (peludo),
apelido carinhoso que os franceses davam aos soldados desde as guerras napoleônicas, no
início do século 19.
Ponticelli, que se tornou empresário da área de calefação e
petróleo, tem uma história curiosíssima. Nascido na Itália,
estabelecido na França desde
os 9 anos e ainda como cidadão
italiano, lutou a primeira parte
da guerra num batalhão da Legião Estrangeira. Preso e levado de volta a seu país de origem,
combateu também pela Itália,
ao lado dos aliados.
Volta à França, obtém a cidadania, e eis que a Alemanha
ocupa o território francês com
a Segunda Guerra. Ele então
caiu na clandestinidade e combateu na Resistência. Ponticelli
deu há alguns dias uma deliciosa entrevista ao jornal francês
"Le Figaro".
Alistar-se com o risco de
morrer pela pátria tem hoje um
cheiro de anacronismo. Mas
era um sentimento bastante
comum na Europa do século
20. Os "poilus" foram ávidos representantes disso.
Um levantamento bastante
minucioso, na Wikipedia em
inglês, indica que entre os combatentes da Primeira Guerra
ainda estão vivos, além de Ponticelli, três australianos, um canadense, dois italianos, um turco, três britânicos e três americanos. Todos eles, é óbvio, têm
mais de 105 anos.
Nos últimos cinco anos morreram 481 veteranos. Os números são decrescentes: 164, em
2002, mas apenas 34, no ano
passado. Os poucos sobreviventes, com honras públicas ou
de modo anônimo, entrarão em
breve para a História.
Com agências internacionais
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