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Aniversário de prisão em massa mobiliza opositores
DA REPORTAGEM LOCAL
Na semana de sétimo aniversário da chamada "Primavera
Negra" -a maior onda recente
de prisões contra opositores
em Cuba, em 2003-, o movimento pela liberdade dos dissidentes na ilha comemorou ontem a declaração de "preocupação" do governo do México com
os prisioneiros cubanos e a adesão de famosos como o diretor
espanhol Pedro Almodóvar a
um abaixo-assinado da causa.
A Chancelaria mexicana lançou nota na qual, "com pleno
respeito à soberania de Cuba e
ao princípio de autodeterminação dos povos", exorta Havana
"a realizar as ações necessárias
para proteger a saúde e a dignidade de seus prisioneiros".
O México é o segundo país latino-americano a manifestar-se publicamente e criticamente
sobre a morte do preso político
Orlando Zapata Tamayo, no
mês passado, após 85 dias de
greve de fome. Antes, havia criticado o regime o presidente da
Costa Rica, Oscar Árias.
O abaixo-assinado eletrônico
"Orlando Zapata Tamayo: Eu
acuso o governo cubano", lançado ontem na Espanha, pede a
"libertação incondicional e
imediata" dos presos políticos.
Os signatários falam de Guillermo Fariñas, que começou
jejum em 24 de fevereiro e está
em um hospital de Santa Clara
desde quinta passada. Ele recebe desde anteontem alimentação por via venosa. "Isso não é
um suicídio. Se me recusasse a
ser alimentado por via venosa,
seria. Isso dá tempo para que o
governo cubano reflita e os outros governos do mundo digam
de que lado estão, se das vítimas ou do opressor", disse à
Folha. Fariñas pede a soltura
de 26 prisioneiros políticos que
estariam doentes na cadeia.
"Twittaço" e Milanés
Já na internet, a pequena
mas barulhenta comunidade
de blogueiros da ilha, liderada
pela premiada Yoani Sánchez,
divulgava o abaixo-assinado espanhol - com 8 mil assinaturas
ontem à noite- no twitter.
Sánchez, com 36 mil seguidores no microblog, ensaia
"twittaço" criando os tópicos
#primaveranegra e #cuba (o #
identifica expressão rastreável
no sistema). Ela pede ainda que
os usuários doem crédito aos
celulares dos twitteiros cubanos -entre eles a porta-voz de
Fariñas-, por meio do site de
recarga espanhol "turecarga".
A porta-voz de Fariñas, Licet
Zamora, afirmou que houve
doações ao celular -mas não
disse quanto. Segundo José Ramón Hernández, responsável
por Cuba no "turecarga", houve
aumento pequeno nos créditos
pelo "twitter solidário".
Desde 2008, quando Raúl
Castro liberou linhas celulares
para cubanos, o serviço cresceu. Os cubanos -especialmente nos EUA e no Canadá-
enviam crédito a parentes e
amigos. Em 2010, o site para
Cuba, em parceria com a estatal
Cubacel, recebeu US$ 250 mil.
Em 2009, foram US$ 430 mil.
"Esse é um negócio para o Estado cubano, e eles sabem separar", disse Hernández.
Ontem, os artistas de Cuba
reagiram à pressão. A Uneac
(União de Escritores e Artistas
de Cuba) pediu o fim da "agressão" contra "um país bloqueado e acossado sem piedade".
No fim de semana, a greve de
Fariñas ganhou uma defesa incômoda para Havana: as críticas do cantor e compositor cubano Pablo Milanés. Em entrevista ao jornal espanhol "El
Mundo", Milanés, que mora na
Espanha mas não rompeu com
o regime, embora seja cada vez
mais crítico, disse: "As ideias se
discutem e se combatem, não
são encarceradas. O que os revolucionários fizeram com a revolução?"
(FLÁVIA MARREIRO)
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