São Paulo, quarta-feira, 17 de março de 2010

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Aniversário de prisão em massa mobiliza opositores

DA REPORTAGEM LOCAL

Na semana de sétimo aniversário da chamada "Primavera Negra" -a maior onda recente de prisões contra opositores em Cuba, em 2003-, o movimento pela liberdade dos dissidentes na ilha comemorou ontem a declaração de "preocupação" do governo do México com os prisioneiros cubanos e a adesão de famosos como o diretor espanhol Pedro Almodóvar a um abaixo-assinado da causa.
A Chancelaria mexicana lançou nota na qual, "com pleno respeito à soberania de Cuba e ao princípio de autodeterminação dos povos", exorta Havana "a realizar as ações necessárias para proteger a saúde e a dignidade de seus prisioneiros".
O México é o segundo país latino-americano a manifestar-se publicamente e criticamente sobre a morte do preso político Orlando Zapata Tamayo, no mês passado, após 85 dias de greve de fome. Antes, havia criticado o regime o presidente da Costa Rica, Oscar Árias.
O abaixo-assinado eletrônico "Orlando Zapata Tamayo: Eu acuso o governo cubano", lançado ontem na Espanha, pede a "libertação incondicional e imediata" dos presos políticos.
Os signatários falam de Guillermo Fariñas, que começou jejum em 24 de fevereiro e está em um hospital de Santa Clara desde quinta passada. Ele recebe desde anteontem alimentação por via venosa. "Isso não é um suicídio. Se me recusasse a ser alimentado por via venosa, seria. Isso dá tempo para que o governo cubano reflita e os outros governos do mundo digam de que lado estão, se das vítimas ou do opressor", disse à Folha. Fariñas pede a soltura de 26 prisioneiros políticos que estariam doentes na cadeia.

"Twittaço" e Milanés
Já na internet, a pequena mas barulhenta comunidade de blogueiros da ilha, liderada pela premiada Yoani Sánchez, divulgava o abaixo-assinado espanhol - com 8 mil assinaturas ontem à noite- no twitter.
Sánchez, com 36 mil seguidores no microblog, ensaia "twittaço" criando os tópicos #primaveranegra e #cuba (o # identifica expressão rastreável no sistema). Ela pede ainda que os usuários doem crédito aos celulares dos twitteiros cubanos -entre eles a porta-voz de Fariñas-, por meio do site de recarga espanhol "turecarga".
A porta-voz de Fariñas, Licet Zamora, afirmou que houve doações ao celular -mas não disse quanto. Segundo José Ramón Hernández, responsável por Cuba no "turecarga", houve aumento pequeno nos créditos pelo "twitter solidário".
Desde 2008, quando Raúl Castro liberou linhas celulares para cubanos, o serviço cresceu. Os cubanos -especialmente nos EUA e no Canadá- enviam crédito a parentes e amigos. Em 2010, o site para Cuba, em parceria com a estatal Cubacel, recebeu US$ 250 mil. Em 2009, foram US$ 430 mil. "Esse é um negócio para o Estado cubano, e eles sabem separar", disse Hernández.
Ontem, os artistas de Cuba reagiram à pressão. A Uneac (União de Escritores e Artistas de Cuba) pediu o fim da "agressão" contra "um país bloqueado e acossado sem piedade".
No fim de semana, a greve de Fariñas ganhou uma defesa incômoda para Havana: as críticas do cantor e compositor cubano Pablo Milanés. Em entrevista ao jornal espanhol "El Mundo", Milanés, que mora na Espanha mas não rompeu com o regime, embora seja cada vez mais crítico, disse: "As ideias se discutem e se combatem, não são encarceradas. O que os revolucionários fizeram com a revolução?" (FLÁVIA MARREIRO)


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